“Uma obra absolutamente essencial” | Céli Pinto escreve sobre o novo livro de Flávia Biroli

"Há livros que são importantes para a discussão acadêmica e para os movimentos sociais, mas há outros que são mais do que importantes, são absolutamente essenciais, como é o caso de 'Gênero e desigualdades', de Flávia Biroli."

Por Céli Pinto.

Há livros que são importantes para a discussão acadêmica e para os movimentos sociais, mas há outros que são mais do que importantes, são absolutamente essenciais, como é o caso de Gênero e desigualdades: limites da democracia no Brasil, de Flávia Biroli. Em uma linguagem refinada, precisa e clara, a autora examina temas fundamentais dos direitos das mulheres, do feminismo e da democracia brasileira, todos tão ameaçados nos tempos atuais.

Em cada um deles, constrói com precisão a difícil caminhada da luta das mulheres contra as desigualdades, onde conquistas enfrentam resistências, retrocessos sucedem-se a avanços, onde classe e raça têm um peso relevante em cada uma das lutas. Ao findar a leitura do livro, nos damos conta de que todos os grandes temas do feminismo pós 1970 no mundo ocidental foram tratados, sempre com o foco no Brasil. Eles aparecem, em cada capítulo, com os diversos cenários históricos mundiais e nacionais que os moldaram, frearam ou impulsionaram as lutas das mulheres.

Nos dois primeiros capítulos, Flávia revisa temas centrais de sua já significativa obra: divisão sexual do trabalho e as questões de cuidado e responsabilidade. Nos terceiro e quarto capítulos, a discussão nos leva ao constante enfrentamento entre os direitos das mulheres às suas próprias decisões, a autonomia de seu corpo e os discursos conservadores e machistas sobre família e moral que perpassam grande parte das religiões, parcelas da sociedade e o Estado. A questão do aborto é examinada em todas as suas diferentes facetas, mostrando sua complexidade e a injustiça contra as mulheres, principalmente contra as mulheres pobres e negras, que a criminalização impõe. O último capítulo analisa com clareza a contraditória relação do movimento feminista com a política e o Estado brasileiro, indicando que – apesar de vitórias importantes, não tem sido capaz de romper as barreiras que impedem as mulheres de chegarem às contendas eleitorais em condições de igualdade com os homens.

Gênero e desigualdades nos indica com muita força que as questões de gênero no Brasil são questões de democracia e nos dá ferramentas para entendermos que as propostas políticas retrógradas contra os direitos das mulheres, em pauta na atualidade, constituem uma das mais duras faces de um projeto antidemocrático mais amplo, que se gesta no país.

Acaba de chegar da gráfica o novo livro de Flávia Biroli: Gênero e desigualdades: limites da democracia no Brasil!

“Onde estão as mulheres? Todas em posição desvantajosa. Separadas pelas marcas de classe, raça, etnia e região, compartilham, em diferentes graus, os prejuízos de um acesso restrito à cidadania. A inclusão precária do sexo feminino configura uma democracia incompleta.

Em Gênero e desigualdades, Flávia Biroli enfrenta com brio a difícil tarefa de investigar os fundamentos dos privilégios atribuídos aos homens e fornecer argumentos para os embates pelos direitos das mulheres.

Teorias de gênero atualizadas dão suporte a um balanço dos avanços, retrocessos e impasses do movimento de mulheres brasileiras por igualdade. As conquistas nas últimas décadas são inegáveis, mas têm confrontado entraves estruturais à equidade de gênero e à justiça social e uma contestação sem trégua dos direitos adquiridos.

As cinco dimensões analisadas nesta obra – divisão sexual do trabalho; cuidado e responsabilidades; família e maternidade; aborto, sexualidade e autonomia; feminismo e atuação política – permitem ver como, apesar de alterações significativas, o lugar das mulheres permanece subalterno, interpelando os limites da democracia.” – Albertina de Oliveira Costa

Onde encontrar?

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Flávia Biroli é professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, onde edita a Revista Brasileira de Ciência Política e coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades – Demodê, que mantém o Blog do Demodê, onde escreve regularmente. É autora, entre outros, de Gênero e desigualdades: limites da democracia no Brasil (Boitempo, 2018), Autonomia e desigualdades de gênero: contribuições do feminismo para a crítica democrática (Eduff/Horizonte, 2013), Família: novos conceitos (Editora Perseu Abramo, 2014) e, em co-autoria com Luis Felipe Miguel, Feminismo e política: uma introdução (Boitempo, 2014). Escreve mensalmente para o Blog da Boitempo, às sextas.

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