Guilherme Boulos: Um livro de combate

Guilherme Boulos escreve sobre o novo livro de Boaventura de Sousa Santos: "Esquerdas do mundo, uni-vos!"

Por Guilherme Boulos.

A Boitempo acaba de lançar o livro novo de Boaventura de Sousa Santos: Esquerdas do mundo, uni-vos! O sociólogo português veio ao Brasil para lançar o livro no Fórum Social Mundial, que começa hoje em Salvador. A obra está sendo lançada simultaneamente em Portugal, Brasil, Colômbia, México e Espanha. A edição brasileira, além de contar com uma longa introdução do autor sobre a crise da democracia no país, tem textos de Tarso Genro, Guilherme Boulos e Nilma Lino Gomes nas orelhas e na quarta capa. Confira os textos abaixo e saiba onde encontrar o livro ao final deste post.

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Boaventura de Sousa Santos é uma das mentes mais lúcidas da esquerda mundial. Não cedeu nem ao derrotismo de que não há mudança possível, nem ao ufanismo incapaz de analisar as relações de força na sociedade. Isso lhe permite ler de forma concreta e crítica um conjunto de experiências do interregno aberto no pós-crise de 2008: o esgotamento da estratégia de ganha-ganha no Brasil, os desafios do Podemos espanhol e a interessante experiência portuguesa, que possibilitou o único governo de esquerda na Europa atual. Recoloca ainda no debate a questão do imperialismo – em suas novas facetas –, tão negligenciada em nossas análises que corre o risco de cair no estigma da “teoria da conspiração”.

A posição do autor valoriza a unidade, sem abrir mão da diversidade. No caso brasileiro, compreende que a necessária unificação das esquerdas na luta democrática e por direitos não está em contradição com o desafio de construir um novo projeto, que resgate a ousadia e supere os limites das experiências que tivemos.

Este é um livro de combate e escrito com muita simplicidade. Revela a grande figura humana que é Boaventura: o professor renomado que debate em alto nível nas universidades ao redor do mundo, mas que também sabe falar aos sem-teto em São Bernardo do Campo.

Guilherme Boulos.

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Há mais de três décadas, Boaventura de Sousa Santos interage com as forças políticas progressistas em nosso país e também debate na academia, nas instituições do Estado e em vários tipos de organismo da sociedade civil os problemas mais agudos da crise da democracia. Sua enorme contribuição versa sobre as causas e os efeitos dessa crise. Nesse sentido, o autor tem um olhar especialmente atento para os explorados e oprimidos e para os diversos tipos de exclusão e de preconceito – raciais, sexuais, culturais – que infectam a vida pública e dão lastro ao conservadorismo e ao autoritarismo.

Presentes no atual interregno autoritário, esses preconceitos, de uma parte, disseminam um “fascismo societal” no cotidiano – como costuma dizer o autor – e, de outra, promovem a emergência política dos vários tipos de direita, que ocupam o espaço democrático com o intuito de manter o status quo, instrumentalizando-o para aprofundar e modernizar as formas de dominação classista características do projeto liberal-rentista.

Este pequeno grande livro de Boaventura dá uma contribuição direta, que vai além das conjunturas, aos debates que promovemos na esquerda. Centrado no
curto e no médio prazo, sem ambição de desenhar um movimento estratégico, interfere, entretanto, nesse movimento de maneira ao mesmo tempo ambiciosa e modesta. Ambiciosa porque diz, claramente, que sem uma unidade mínima do nosso campo não temos saída; modesta porque não sugere
nenhuma receita programática. Não se exime, porém, de apresentar a experiência portuguesa como referência a ser considerada neste novo patamar de unidade das esquerdas – em defesa da democracia que, se não se democratizar substancialmente, perecerá no fascismo ou em algo muito parecido com ele.

Tarso Genro

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Aumentar o interconhecimento entre as forças de esquerda e sugerir alternativas para se articularem nacional e internacionalmente – esses são os dois principais objetivos discutidos por Boaventura de Sousa Santos neste livro. Objetivos amplamente alcançados por meio de uma análise crítica, atual,
política e emancipatória.

Longe de ser uma interpretação pessimista sobre os desafios vividos pelas esquerdas e suas divergências internas diante do rearranjo capitalista, a reflexão de Boaventura, ao analisar os casos de Portugal, Brasil, Colômbia, México e Espanha, nos traz uma alternativa desafiadora: a construção de aprendizagens globais que considerem os contextos e as necessidades específicas de cada país.

Em um momento histórico e político no qual a incerteza quanto à possibilidade de um outro mundo nos assombra, não podemos perder a esperança. Devemos, sim, buscar princípios e práticas políticas que nos unam para que deles retiremos força, sabedoria e humildade que nos ajudem a enfrentar o novo interregno da história. E isso só poderá ser feito por meio de fortes articulações democráticas locais, regionais e globais. A confiança nas ações emancipatórias e nas possibilidades do presente, e não o receio das incertezas do futuro, fluem nas páginas deste livro.

Nilma Lino Gomes

 Onde encontrar?

3 comentários em Guilherme Boulos: Um livro de combate

  1. O Boulos deveria ser o próximo presidente do Brasil, é igual Lenin se me permitem dizer isso, porque em ambos os casos a trajetória política é de um líder com conhecimentos teórico aliado a prática militante, com essa combinação a burguesia treme.

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  2. Rivellino [Cantemos]: // 22/03/2018 às 9:05 pm // Responder

    Cantemos a musiquinha de Nosso Amado & Venerado Chefão do Petismo:

    Parla più piano e nessuno sentirà,

    nessuno sa la verità
    neppure il cielo che ci guarda da lassù
    *
    Nessuno sa la verità.

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  3. Ricardo Mauricio Contel // 29/04/2018 às 1:24 am // Responder

    Seja esquerda, centro ou direita, parece que nosso país está até perdido …. em meio a tantos partidos políticos, causando um grande desvio e consequentemente desunião e fragmentação de forças.
    Sds
    Ricardo

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