Cultura inútil: Inteligência pra quê?

Mouzar Benedito reúne as melhores frases e ditados sobre inteligência e burrice em nova coluna da série "cultura inútil"!

Por Mouzar Benedito.

Há muito, penso na variedade de “inteligências”. Uma época, fiz uns trabalhos com executivos (principalmente gerentes) de empresas e concluí que em muitos deles a inteligência principal se resumia a abafar qualquer sentimento ético. Simplesmente fazem o que “é preciso”, sem contestar nem vacilar. Li livros sobre eficiência gerencial e via neles um monte de obviedades. Um deles, de um autor que ficou famoso nos anos 1980, tinha uma recomendação que impressionava os gerentes: não se devia xingar os “subalternos” que erravam. Eles deviam ser corrigidos. Xingava-se os erros, não as pessoas. “Mas o normal não é isso?”, perguntei a um gerente. E ele me achou muito bobo.

Vejo a inteligência dos políticos. Uns dão a impressão que se caírem de quatro não se levantam mais, mas exercem altos poderes. Outros têm a “inteligência” de saber meter a mão na grana pública, mas a grande inteligência mesmo está em saber não serem pegos pela justiça, ou saber “convencer” seus julgadores a não verem crime nenhum no que fazem. Certo, essa “inteligência” andou derrapando em alguns casos e tem políticos e empresários poderosos ameaçados de perder um pouco de que surrupiaram e ver o sol nascer quadrado por uns tempos. Mas são exceções e só se ferraram porque não se aliou a quem “devia” para continuarem impunes.

Andei procurando saber o que se diz ou se disse sobre inteligência, catei um monte de pensamentos de pessoas famosas, alguns provérbios, mas antes os apresentar, quero lembrar também algumas expressões sobre inteligência e inteligentes, usadas por pessoas que gostam de falar de modo empolado, tais como em discursos de cerimônia de formatura ou de exaltação de algum chegado qualquer. Acho divertido.

Já ouvi falarem em delicadeza de engenho, cerebração potente, mentalidade de escol, excelência intelectual, perpétua juventude de espírito, gênio assombroso, fogo de gênio… De quem possui essas qualidades, pode-se dizer que é divinamente inspirado, ave de Júpiter, não tem entendimento boto, revela juízo claro e seguro, é homem de miolo, amigo da razão, merece ser pesado em ouro, tem concepções sublimes e espírito lúcido, é um Einstein, sábio como Salomão…

Já os seus “contrários”, quer dizer, os “desprovidos de inteligência”, sofrem de embotamento das faculdades mentais, têm curteza de faculdades intelectuais, não têm miolos, servem de risota, andam com as mãos pelo chão, necessitam de tutela, obram sem discernimento, não são homens para grandes empresas, são esconsos de cervelo…

Bem… Vamos às frases.

Mark Twain: “Devo ter uma enorme quantidade de inteligência; às vezes levo uma semana para colocá-la em movimento”.

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Tom Jobim: “A inteligência é o mais pobre dos atributos humanos”.

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O povo: “Ninguém é tão inteligente que não tenha a aprender, ou tão burro que não tenha a ensinar”.

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Herman Hesse: “O homem culto é apenas mais culto; nem sempre é mais inteligente que o homem simples”.

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O povo: “Um burro carregado de livros é doutor”.

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Robert Front: “O cérebro é um órgão maravilhoso. Começa a funcionar assim que você se levanta da cama e não para até você chegar ao escritório”.

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Spiro Agnew: “Intelectual é um sujeito que não sabe estacionar uma bicicleta”.

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Ambrose Bierce: “O saber é um gênero de ignorância que distingue o homem estudioso”.

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Clark Gable: “Sou pago para não pensar”.

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Paul Goodman: “Pouquíssimos grandes homens seriam aprovados pelo Departamento de Pessoal”.

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Schopenhauer: “A inteligência é invisível para quem não tem nenhuma”.

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Schopenhauer, de novo: “As pessoas comuns pensam apenas como passar o tempo. Uma pessoa inteligente tenta usar o tempo”.

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Schopenhauer, mais uma vez: “Em presença de imbecis e loucos, há somente um caminho para mostrarmos nossa inteligência: não falar com eles”.

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Rudyard Kipling: “A mulher mais idiota pode dominar um sábio. Mas é preciso uma mulher extremamente sábia para dominar um idiota”.

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Tati Bernardi: “Bonito burro tá melhor que feio inteligente. Conversar, eu converso com o meu cachorro”.

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Bertrand Russell: “A estupidez coloca-se na primeira fila para ser vista; a inteligência coloca-se na retaguarda para ver”.

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Fernando Pessoa: “A inteligência parece-me uma masturbação racional. Uma coisa inútil, natural, nascida por degenerescência dos instintos”.

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Heráclito: “A inteligência não ensina a aprender muitas coisas”.

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Arthur Clarke: “Ainda há que se provar que a inteligência tenha algum valor para a sobrevivência”.

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Clarke, de novo: “A inteligência do planeta é constante, e a população segue aumentando”.

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Aristóteles: “Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura”.

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Beethoven: “Não existe verdadeira inteligência sem bondade”.

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Jules Renard: “O amor mata a inteligência. O cérebro faz de ampulheta o coração. Um só se enche para esvaziar o outro”.

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Clarice Lispector: “Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato… Ou toca ou não toca”.

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Clarice Lispector, de novo: “Ser intelectual é usar sobretudo a inteligência, o que eu não faço: uso a intuição, o instinto”.

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Hemingway: “Um homem inteligente é por vezes forçado a embebedar-se ou a isolar-se, para conseguir aguentar os idiotas com que vai cruzando todos os dias”.

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Mário Quintana: “Autodidata é um ignorante por conta própria”.

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Gorky: “A ciência é a inteligência do mundo; a arte, o seu coração”.

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Tchekov: “Que sorte possuir uma grande inteligência: nunca te faltam asneiras para dizer”.

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Tchekov, de novo: “Os homens inteligentes querem aprender; os demais, ensinar”.

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Victor Hugo: “A razão é a inteligência em exercício; a imaginação é a inteligência em ereção”.

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Rita Lee: “Imaginação é quando a inteligência se diverte”.

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Confúcio: “O maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante de um idiota que quer bancar o inteligente”.

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Maurice Switzer: “É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do que falar e acabar com a dúvida”.

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François La Rochefoucauld: “É prova de inteligência saber ocultar a nossa inteligência”.

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O povo: “De pensar morreu um burro. De não pensar morrem muitos”.

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Bakunin: “Não há nada tão estúpido como a inteligência orgulhosa de si mesma”.

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Cazuza: “Não subestime a minha inteligência. Às vezes me faço de cego para enxergar mais longe”.

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Gramsci: “Sou um pessimista da inteligência e um otimista do desejo”.

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Susan Sontag: “A inteligência é uma espécie de paladar que nos dá a capacidade de saborear ideias”.

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Marie Eschenbach: “Há duas categorias de seres inteligentes: aqueles cujo espírito irradia e os que brilham; os primeiros iluminam à sua volta, os segundos mergulham-nos nas trevas”.

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Aldous Huxley: “Há três espécies de inteligência: a inteligência humana, a inteligência animal e a inteligência militar”.

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Grouxo Marx: “A inteligência militar é uma contradição em termos”.

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Konrad Adenauer: “Deus é injusto, pois criou sérios limites à inteligência dos homens, mas nenhuma à sua burrice”.

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Jean Piaget: “A inteligência é o que você usa quando não sabe o que fazer”.

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Ruy Barbosa: “A diferença entre o inteligente e o sábio é que o sábio pensa a longo prazo’’.

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Ugo Ojetti: “Cuidado para não chamar de inteligentes apenas aqueles que pensam como você”.

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Jean de la Bruyère: “A verdadeira inteligência consiste em dar valor à dos outros”.

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Saint-Exupéry: “É o espírito que conduz o mundo e não a inteligência”.

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Fernando Pessoa: “Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?”.

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Marquês de Maricá: “A força sem inteligência é como o movimento sem direção”.

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André Gide: “É preciso ter espírito para falar bem; para ouvir bem basta a inteligência”.

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Einstein: “Nenhum homem realmente produtivo pensa como se estivesse escrevendo uma dissertação”.

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Heinrich Heine: “O inteligente acautela-se de tudo; o tolo faz observações sobre tudo”.

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O povo: “Bolsa vazia, inteligência manca”.

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Provérbio árabe: “No homem maduro, as paixões estão a serviço da inteligência. No homem imaturo, a inteligência está a serviço das paixões”.

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Brecht: “Inteligência não é não cometer erros, mas saber como resolvê-los rapidamente”.

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Kant: “Avalia-se a inteligência de um indivíduo pela quantidade de incertezas que ele é capaz de suportar”.

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Shakespeare: “Um homem inteligente pode transformar-se num joão-bobo, quando não sabe se valer dos seus recursos naturais”.

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Balzac: “O tempo é o único capital das pessoas que têm como fortuna apenas a sua inteligência”.

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Nietzsche: “O instinto é a mais inteligente das espécies de inteligência até agora descobertas”.

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Descartes: “Não há nada tão equitativamente distribuído no mundo como a inteligência: todos estão convencidos de que têm o suficiente”

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Galileu Galilei: “Não consigo acreditar que o mesmo Deus que nos deu inteligência, razão e bom senso nos proíba de usá-los”.

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Ludwig Borne: “Muitas vezes a inteligência é incômoda como uma lamparina no quarto”.

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Charles Chaplin: “Mais do que máquinas precisamos de humanidade. Mais do que inteligência precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes a vida será de violência e tudo estará perdido”.

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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996), Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia) e Chegou a tua vez, moleque! (2017, e-book). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças. 

6 comentários em Cultura inútil: Inteligência pra quê?

  1. Flávio Aguiar // 08/11/2017 às 10:19 am // Responder

    Lembrando… “Abaixo a Inteligência! Viva a Morte!” General Millan-Atray, diante de Miguel de Unamuno, na Universidade de Salamanca.

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  2. João Damaceno // 08/11/2017 às 1:19 pm // Responder

    Se ser inteligente valesse alguma coisa, certamente a inteligência seria vendida em lojas de conveniência.

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  3. Ser inteligente não é o mesmo que ser feliz. Um tolo ou ignorante pode ser muito mais feliz que um gênio.

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  4. Quando foi lido os livros sobre eficiência gerencial e quando foi feita a pergunta do primeiro parágrafo?

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  5. Laura lellis // 09/11/2017 às 12:43 pm // Responder

    Gostei muito!!!
    Parabéns!!!

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  6. nietzsche é foda demais!

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