O que comemorar no centenário da Revolução de Outubro?
"Eis a lição de Outubro: há uma contradição irredutível entre comunismo de partido e a revolução."
Por Christian Laval e Pierre Dardot.
O que devemos comemorar neste centenário da Revolução de Outubro? Uma primeira vitória da revolução comunista mundial, ou a primeira de uma série de derrotas do socialismo, tal como o século anterior o imaginou? Que lição, ao fim e ao cabo, devemos tirar da Revolução de Outubro?
Hoje ficou claro que seu fracasso marcou a morte – ao menos por um século – do socialismo autêntico, o que significa a democracia em sua mais plena e radical extensão. Para ir direto ao ponto: apesar dos esforços de gerações inteiras de revolucionários no sentido de redescobrir o verdadeiro ímpeto de 1917, sua história ao longo do século XX se tornou desastrosa, tanto para as sociedades do leste quanto para movimento dos trabalhadores como um todo.
Ao fim e ao cabo, a ditadura burocrática criminosa da Rússia stalinista e pós-stalinista comprometeu a própria ideia do socialismo, a ponto de erradicar a esperança no futuro socialista. O capitalismo se reestabeleceu por toda parte, geralmente em suas formas mais asquerosas e predatórias. A própria coisa que se revestiu sob o nome “comunismo” após 1917 (e em certo sentido logrou monopolizar esse nome) contribuiu para uma catástrofe histórica que continua produzindo os efeitos mais nefastos para a humanidade – pois retirou da humanidade qualquer outra alternativa.
“Todo poder aos sovietes!” Esse foi o slogan com o qual os bolcheviques tomaram o poder. Alguns consideraram esses “sovietes” ou “conselhos” a instituição quintessencialmente comunista, garantindo poder efetivo ao maior número de trabalhadores e camponeses, tanto em termos legislativos quanto executivos. Embora, como sabemos – ou ao menos como deveríamos saber – isso é precisamente o que não ocorreu: foi o Partido Social Democrata (bolchevique), ao se tornar o Partido Comunista em 1918, que efetivamente exercitou poderes ditatoriais, da Guerra Civil até o final da União Soviética. Longe de emanar do Congresso de Sovietes, a insurreição de 25 de outubro foi decidida pelo partido e imposta sobre os sovietes.
O poder que emergiu disso não apenas foi não-soviético mas pura e simplesmente anti-soviético, se restaurarmos o significado autêntico da palavra “soviete”. O uso desse termo é sem dúvida o coração da mentira que foi o comunismo burocrático de Estado, da Revolução de Outubro ao final do século vinte. Se houve efetivamente revolução, ela foi obra não do Partido Bolchevique mas do movimento espontâneo dos sovietes.
Para ser mais preciso – e isso é um fato histórico consolidado –: como uma forma de autogoverno democrático, o sistema soviético é fundamentalmente estranho ao exercício bolchevique do poder. Na Rússia, as massas provaram sua imaginação e audácia; elas estavam bem à frente dos bolcheviques em Fevereiro, quando criavam seus próprios órgãos de emancipação. No entanto, foi o Partido e não os sovietes que se tornou a base para o edifício “soviético”. Estabeleceu-se um comunismo de partido no lugar de um comunismo soviético. No entanto, esse comunismo de partido, ou bolchevismo, chegou hoje ao final de sua jornada histórica. E isso é para o melhor. Eis a lição de Outubro: há uma contradição irredutível entre comunismo de partido e a revolução.
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Christian Laval e Pierre Dardot vêm ao Brasil em setembro para lançar o ambicioso Comum: ensaio sobre a revolução no século XXI, no Seminário Internacional “1917: o ano que abalou o mundo”! Saiba mais sobre o evento, e leia outros textos sobre a história e o legado da Revolução Russa no dossiê temático do Blog da Boitempo:
O dossiê especial “1917: o ano que abalou o mundo“, reúne reflexões de alguns dos principais pensadores críticos contemporâneos nacionais e internacionais sobre a história e o legado da Revolução Russa. Aqui você encontra artigos, ensaios, reflexões, resenhas e vídeos de nomes como Alain Badiou, Slavoj Žižek, Michael Löwy, Christian Laval, Pierre Dardot, Domenico Losurdo, Mauro Iasi, Luis Felipe Miguel, Juliana Borges, Wendy Goldmann, Rosane Borges, José Paulo Netto, Flávio Aguiar, Mouzar Benedito, Ruy Braga, Edson Teles, Lincoln Secco, Luiz Bernardo Pericás, Gilberto Maringoni, Alysson Mascaro, Todd Chretien, Kevin Murphy, Yurii Colombo, Álvaro Bianchi, Daniela Mussi, Eric Blanc, Lars T. Lih, Megan Trudell, Brendan McGeever, entre outros. Além de indicações de livros e eventos ligados ao centenário.
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Christian Laval é professor de sociologia da universidade Paris-Ouest Nanterre-La Défense. Pierre Dardot é filósofo e pesquisador da universidade Paris-Ouest Nanterre-La Défense, especialista no pensamento de Marx e Hegel. Desde 2004, coordenam o grupo de estudos e pesquisa Question Marx, que procura contribuir com a renovação do pensamento crítico. Juntos, escreveram A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal (Boitempo, 2016) e Comum: ensaio sobre a revolução no século XXI (Boitempo, 2017). Colaboram com o Blog da Boitempo, especialmente para o dossiê sobre o centenário da Revolução Russa.
A Revolução de Outubro foi, sem dúvida, o grande ou maior acontecimento já produzido pela humanidade e fonte inesgotável de debate e avaliações no mundo política, sobretudo nos dias de hoje quando o sistema vencedor, o capitalismo, vive a sua pior crise. Porém, se isso, por um lado, nos traz um alento e grandes esperanças, por outro lado, quando pensamos nos resultados daquela revolução e a tragédia que se ergueu sobre ela, com o stalinismo e seus desdobramentos e suas consequências, sentimos um desalento. O pior é que um grande contingente de pessoas, inclusive teóricos e militantes de peso, ainda continuam justificando tudo aquilo e considerando Stalin 1 herói que salvou a humanidade do terror nazista. Nesse sentido esse pequeno texto é importante para se tentar compreender as origens disso tudo.
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Penso que o texto fica em cima do muro igual o Serra no governo Collor, igual uma parente minha que diz para votar nulo e escondido vota no PSDB.
Esses teóricos que apenas vêem o erro da Revolução Russa são na realidade defensores do neoliberalismo que é a pior forma de exploração capitalista e que leva os trabalhadores á fome e á miséria. Outro dia li sobre a fome genocida e profilática que é utilizada pelos neoliberais (Collor).
Laval e Dardot são iguais ao Zizek em alguns momentos. A gente não compreende porque agem dessa forma o que acaba mantendo o sistema capitalista ruim. Quando estava seguindo o Slavoj Zizek tinha dúvidas se Zizek era de esquerda ou direita.
Pra mim Zizek, Dardot, Laval são de direita.
Não precisamos de crítica porque temos bastante crítica.
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Há um grave erro de ortografia no segundo parágrafo.
Att.
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Carlos Marques, você está falando do artigo ou do meu comentário?
Se for do artigo aviso que quero ler comentários mais relevantes e menos exibicionistas. Portuguesóide!
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Achei o artigo péssimo e neoliberal. Uma crítica horrorosa e sem fundamento ao esforço revolucionário. Antilenistas até o fio do pescoço!
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