Erundina: O Brasil na era do lulismo

“A experiência do PT à frente do Executivo Federal tem a um só tempo a marca da mudança e da continuidade, chegando ao fim sem alterar as bases estruturais da dominação capitalista em nosso país. Refletir sobre essa experiência, num momento em que a esquerda busca reconstruir seu projeto, para responder aos desafios impostos pela agenda regressiva liderada pelas forças golpistas, é um imperativo histórico, uma tarefa impostergável.”

Por Luiza Erundina.

A Boitempo acaba de lançar, em parceria com a Fundação Lauro Campos, a ambiciosa antologia Cinco mil dias: o Brasil na era do lulismo. Nele, os organizadores Gilberto Maringoni e Juliano Medeiros convocaram cinquenta e dois autores – entre acadêmicos, lideranças políticas e ativistas sociais – de relevância nacional e de variadas matizes políticas no campo progressista para uma minuciosa avaliação, setor por setor, dos 13 anos de governos lulistas, que abrangem o período entre 2003 e 2016. Contribuíram com o balanço nomes como André Singer, Armando Boito Jr., Aldo Fornazieri, Chico Alencar, Cid Benjamin, Edmilson Rodrigues, Eduardo Fagnani, Eloísa Machado de Almeida, Erminia Maricato, Guilherme Boulos, Ivan Valente, Jean Wyllys, José Luiz Del Roio, Leda Maria Paulani, Ligia Bahia, Lúcio Gregori, Luis Felipe Miguel, Luiz Eduardo Soares, Nilcea Freire, Pedro Pedro Paulo Zahluth Bastos, Reginaldo Nasser e Vladimir Safatle, entre outros. Confira, abaixo, o texto de orelha da obra, assinado por Luiza Erundina.

* * *

O golpe de abril de 2016 pôs fim à mais longeva experiência de um partido político à frente do governo federal desde a redemocratização brasileira. Nessa experiência, protagonizada pelo Partido dos Trabalhadores, combinaram-se elementos inéditos de mudança e de continuidade, no que o cientista político André Singer definiu como “pacto conservador” e “reformismo fraco”.

Com os governos liderados por Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2008) e Dilma Rousseff (2011-2016), o Brasil presenciou o desenvolvimento de políticas de combate à desigualdade e de ampliação do poder aquisitivo dos mais pobres, no ritmo da expansão econômica mundial impulsionada pelo aumento dos preços das commodities no mercado internacional. Mas, ao mesmo tempo, assistiu ao crescimento exponencial da dívida pública, os maiores lucros do sistema financeiro já registrados na história nacional, a estagnação da reforma agrária e a omissão do governo, que não foi capaz de promover as medidas necessárias para a democratização do sistema brasileiro de comunicação.

Assim, a experiência do PT à frente do Executivo federal tem a um só tempo a marca da mudança e da continuidade, chegando ao fim sem alterar as bases estruturais da dominação capitalista em nosso país. Refletir sobre essa experiência, num momento em que a esquerda busca reconstruir seu projeto, na ânsia de responder aos desafios impostos pela agenda regressiva liderada pelas forças golpistas, é um imperativo histórico, uma tarefa impostergável.

A publicação deste livro representa portanto uma contribuição inestimável. Ao reunir pensadores, ativistas, parlamentares, dirigentes políticos e lideranças dos movimentos sociais para refletir sobre os avanços e os limites dessa experiência petista, Cinco mil dias: o Brasil na era do lulismo, organizado por Gilberto Maringoni e Juliano Medeiros, contribui com o balanço crítico indispensável à superação das insuficiências do lulismo enquanto projeto político, sem o que a esquerda brasileira ficará contemplando o passado, ao invés de projetar a tão necessária construção do futuro. – Luiza Erundina

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1 comentário em Erundina: O Brasil na era do lulismo

  1. Republicou isso em nilsonbarcellosnunese comentado:
    Por Luiza Erundina.

    A Boitempo acaba de lançar, em parceria com a Fundação Lauro Campos, a ambiciosa antologia Cinco mil dias: o Brasil na era do lulismo. Nele, os organizadores Gilberto Maringoni e Juliano Medeiros convocaram cinquenta e dois autores – entre acadêmicos, lideranças políticas e ativistas sociais – de relevância nacional e de variadas matizes políticas no campo progressista para uma minuciosa avaliação, setor por setor, dos 13 anos de governos lulistas, que abrangem o período entre 2003 e 2016. Contribuíram com o balanço nomes como André Singer, Armando Boito Jr., Aldo Fornazieri, Chico Alencar, Cid Benjamin, Edmilson Rodrigues, Eduardo Fagnani, Eloísa Machado de Almeida, Erminia Maricato, Guilherme Boulos, Ivan Valente, Jean Wyllys, José Luiz Del Roio, Leda Maria Paulani, Ligia Bahia, Lúcio Gregori, Luis Felipe Miguel, Luiz Eduardo Soares, Nilcea Freire, Pedro Pedro Paulo Zahluth Bastos, Reginaldo Nasser e Vladimir Safatle, entre outros. Confira, abaixo, o texto de orelha da obra, assinado por Luiza Erundina.

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    O golpe de abril de 2016 pôs fim à mais longeva experiência de um partido político à frente do governo federal desde a redemocratização brasileira. Nessa experiência, protagonizada pelo Partido dos Trabalhadores, combinaram-se elementos inéditos de mudança e de continuidade, no que o cientista político André Singer definiu como “pacto conservador” e “reformismo fraco”.

    Com os governos liderados por Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2008) e Dilma Rousseff (2011-2016), o Brasil presenciou o desenvolvimento de políticas de combate à desigualdade e de ampliação do poder aquisitivo dos mais pobres, no ritmo da expansão econômica mundial impulsionada pelo aumento dos preços das commodities no mercado internacional. Mas, ao mesmo tempo, assistiu ao crescimento exponencial da dívida pública, os maiores lucros do sistema financeiro já registrados na história nacional, a estagnação da reforma agrária e a omissão do governo, que não foi capaz de promover as medidas necessárias para a democratização do sistema brasileiro de comunicação.

    Assim, a experiência do PT à frente do Executivo federal tem a um só tempo a marca da mudança e da continuidade, chegando ao fim sem alterar as bases estruturais da dominação capitalista em nosso país. Refletir sobre essa experiência, num momento em que a esquerda busca reconstruir seu projeto, na ânsia de responder aos desafios impostos pela agenda regressiva liderada pelas forças golpistas, é um imperativo histórico, uma tarefa impostergável.

    A publicação deste livro representa portanto uma contribuição inestimável. Ao reunir pensadores, ativistas, parlamentares, dirigentes políticos e lideranças dos movimentos sociais para refletir sobre os avanços e os limites dessa experiência petista, Cinco mil dias: o Brasil na era do lulismo, organizado por Gilberto Maringoni e Juliano Medeiros, contribui com o balanço crítico indispensável à superação das insuficiências do lulismo enquanto projeto político, sem o que a esquerda brasileira ficará contemplando o passado, ao invés de projetar a tão necessária construção do futuro. – Luiza Erundina

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