Fernando Morais escreve sobre o novo livro de Anita Prestes
"Mais que uma excelente obra de referência, o livro de Anita Prestes sobre sua mãe Olga é a pungente, dolorosa história de uma revolucionária exemplar."
Por Fernando Morais.
Qualquer pesquisador se sentiria diante de uma mina de ouro ao deparar com o acervo histórico que deu origem ao livro Olga Benario Prestes: uma comunista nos arquivos da Gestapo. No coração de Moscou jazia o tesouro composto por nada menos que 2,5 milhões de documentos separados em 28 mil dossiês, estes, por sua vez, organizados em 50 catálogos. Não por acaso essa montanha de informações era conhecida como os Trophäen-dokumente, os “documentos-troféus” acumulados pela Gestapo, a polícia secreta do Reich, o regime nazista alemão que aterrorizou o mundo durante doze anos. Apreendida pelo Exército Vermelho após a derrota da Alemanha, em 1945, a documentação foi preservada pela União Soviética e começou a ser aberta para consulta pública dois anos atrás.
Para Anita Leocadia Prestes, descobridora do filão, porém, a pesquisa nesse rico material envolvia mais que a curiosidade acadêmica de uma historiadora. O objeto de seu olhar e de seu trabalho eram os oito dossiês contendo cerca de 2 mil documentos que a Gestapo arquivou com o título de “Processo Benario” – o acervo da polícia secreta nazista sobre sua mãe, a revolucionária Olga Benario Prestes. Trata-se do mais extenso rol de documentos sobre uma única vítima do nazismo, o que permite medir a importância atribuída pelo Terceiro Reich à então mulher do líder comunista brasileiro Luiz Carlos Prestes.
Além de mais de meia centena de cartas inéditas, trocadas entre Olga, o marido, preso no Brasil, a sogra, Leocadia Prestes, e as cunhadas Clotilde, Lygia, Eloiza e Lúcia, o acervo vasculhado pela historiadora Anita Prestes revela minúcias do monitoramento a que Olga era submetida pelas autoridades em todas as prisões e campos de concentração em que esteve entre 1936 e 1942, quando foi executada em uma câmara de gás.
Além das cartas, chama a atenção do leitor a pétrea decisão de Olga de não transmitir a seus algozes nem sequer uma solitária informação a respeito de seu passado e de suas atividades políticas na União Soviética e no Brasil. Ainda que esse obstinado silêncio viesse a lhe custar, como ocorreu dezenas e dezenas de vezes, penosos castigos físicos e privações ainda mais duras que as do cotidiano de um campo de concentração nazista. Penas que, com frequência, eram encerradas com uma cruel recomendação: “Ademais, solicito que lhe seja atribuída uma árdua carga de trabalho adicional”.
Mais que uma excelente obra de referência, Olga Benario Prestes: uma comunista nos arquivos da Gestapo é a pungente, dolorosa história de uma revolucionária exemplar.
Onde encontrar?
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Fernando Morais é natural de Mariana, Minas Gerais. Jornalista, biógrafo, político e escritor, é autor de diversos livros, dentre os quais Olga, lançado em 1985 e reeditado em 1994, que narra a trajetória trágica de Olga Benario, recrutada pelo governo soviético para dar proteção ao líder comunista brasileiro Luiz Carlos Prestes. Atualmente edita também o blog Nocaute.
Olá sou professora de História e fiquei encantada ao ler essa matéria pois semana passada recomendava aos meus educandos de 9°ano e 3°ano do Ensino Médio. Que lessem o livro sobre Olga Benario ou assistissem ao filme “Olga” exigi como tarefa de férias. Agora com essa matéria vou fazer a impressão e entregar para que leiam e promover um debate, ainda mais sendo um livro escrito pela própria Anita Prestes.
Muito obrigada pela contribuição torna a minha aula mais rica e com certeza terá algum aluno querendo comprar o livro.
Amanhã estarei presente em mais um encontro promovido pela Boitempo sobre o Marxismo.
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Valeria,
Cuidado com os reaças de plantão. Eles poderão alegar que você está fazendo proselitismo político, coação ideológica, enfim, essas diatribes da tal Escola Sem Partido.
Desejo-te sucesso na tua missão.
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Olga viveu numa época heroica, marcada pelo terror mas também por resistências exemplares, que superavam a capacidade dos cidadãos comuns. Por isso foi tão perseguida e cruelmente assassinada. Porém, não deu a seus algozes o prazer de dizerem que venceram, que conseguiram arrancar dela algo que pudesse contribuir para algum tipo de infâmia. Por isso, foi massacrada um longo tempo, deixando um rastro valioso, o suficiente para que sua filha, uma competente historiadora, produzisse uma obra marcante, imprescindível para todos aqueles que se interessam pela luta dos povos, no sentido de que exemplos de violência como aquele não se repitam.
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Sou português e residente em Portugal. Como poderei adquirir o livro referido?
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