Ler o Livro III de “O capital”
"Ainda que o Livro III de 'O capital' possa ser o de mais difícil compreensão, sua leitura é absolutamente incontornável, mais ainda no presente, para aquelas e aqueles que precisam não apenas interpretar, mas transformar o mundo."
Por Sara Granemann.
Certamente um dos livros mais aguardados do ano é o Livro III da obra-prima de crítica da economia política de Marx, O capital. Intitulado “O processo global da produção capitalista”, o texto procura conjugar as análises do Livro I (dedicado ao processo de produção do capital) e do Livro II o (dedicado ao processo de circulação do capital).
Embora possa ser considerado em muitos sentidos o ápice da obra de Marx – é nele que está contida, por exemplo, a famosa apresentação do problema da queda tendencial da taxa de lucro, bem como toda a discussão sobre capital de comércio financeiro –, o Livro III de O capital é também um texto muito delicado, porque não chegou a ser finalizado em vida pelo autor, sendo editado posteriormente por Friedrich Engels. Por isso é tão importante o fato de a edição da Boitempo ser a primeira realizada a partir dos documentos da MEGA-2 (Marx-Engels-Gesamtausgabe), que traz a mais completa e minuciosa apuração dos manuscritos, notas e apontamentos de Marx e das opções de Friedrich Engels para a publicação.
Disponível em brochura e em capa dura, a edição vem acrescida de um prefácio inédito de Marcelo Dias Carcanholo e texto extra de Rosa Luxemburgo. A ilustração de capa é inédita de Cássio Loredano, feita especialmente para este livro, e o texto de orelha é de Sara Granemann, que você confere abaixo, na íntegra:
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Em 1872, ao mencionar as possíveis dificuldades decorrentes da leitura do Livro I d’O capital, Karl Marx alertava: os “cumes luminosos” da ciência exigem, para ser alcançados, trabalho fatigante e paciente. E esse é também o tipo de trabalho que nos cobra a leitura do Livro III; suas dificuldades resultam, de um lado, de não ter sido concluído por seu autor e, de outro, da própria natureza de sua matéria.
Ao examinar “o processo global da produção capitalista”, Marx preocupou-se em capturar o movimento do capital em sua totalidade concreta, isto é, o modo como os diferentes capitais relacionam-se, concorrem e, vê-se por suas indicações, colaboram entre si. As diferentes funções e as formas distintas de mais-valor apropriadas pelos capitais, tomados individualmente, permitem – aos capitais e capitalistas e aos seus governos, especialmente na vigência das crises – explicar a vida social pela oposição entre capitalistas bons e maus; éticos e imorais; disciplinados e desregrados. Assim, quando lhes interessa, interpretam a formação econômica da sociedade como anomalias de capitalistas individuais.
Ora, o Livro III, ao apresentar os movimentos mais concretos da vida social sob o modo de produção capitalista, desarticula qualquer possibilidade de “responsabilizar o indivíduo por relações das quais ele continua a ser socialmente uma criatura”, conforme seu autor já adiantara no Livro I. Contra a apologética burguesa, Marx revela: concorrência e repartição de lucros são inelimináveis do capitalismo. Se a repartição dos lucros e a concorrência são matérias da vida individual dos capitais e a identidade prevalece como a “guerra de todos contra todos”, quando uma tendência opera como “férrea necessidade” – por exemplo, a lei da queda tendencial da taxa de lucro – e as condições gerais de reprodução do modo capitalista de produção são ameaçadas, a unidade dos capitais impera.
Por fim, há que se enfatizar: ainda que o Livro III possa ser o de mais difícil compreensão – e aqui é preciso evitar o exótico artificio de hierarquizar e ranquear os livros constitutivos d’O capital –, sua leitura é absolutamente incontornável, mais ainda no presente, para aquelas e aqueles que precisam não apenas interpretar, mas transformar o mundo.
Em oportuna hora chega a nós – estudiosos, curiosos e militantes pela causa dos trabalhadores –, pela Boitempo, nova, cuidadosa e revisada edição. À leitura!
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Sara Granemann é graduada em Serviço Social pela Fundação Universitária do Alto Vale do Rio do Peixe/SC (1985); especialista em Antropologia Social pela Universidade Federal do Paraná/PR (1988); mestre (1996) e doutora (2006) em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/RJ. Professora da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro desde 1994. Pós-doutorado no Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa (2014). Assina a orelha do Livro III de O capital, publicado pela Boitempo em 2017.
Marx foi um homem extraordinário até nas intenções. Sacrificou a vida toda, nas condições mais difíceis do século XIX pra escrever esta imensa obra, com a intenção de desmistificar todas as teorias que vinham sendo produzidas a respeito daquela sociedade, assumindo uma posição ´teórica e política em defesa de uma posição de classe, mas acreditando, principalmente, que ela tinha uma função importante como instrumento para os trabalhadores na sua luta para mudar o sistema. Considerando que na época a maioria dos trabalhadores era constituída de artesãos e operários analfabetos, trabalhado de 12 a 14 horas por dia, venhamos que era de um otimismo imenso.
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