Berlim contra o golpe
[O cineasta brasileiro Karim Ainous discursa em ato contra o golpe na capital alemã]
Por Flávio Aguiar, de Berlim.
Está estampado em toda a mídia mundial: o que está ocorrendo neste momento no Brasil chama-se golpe de estado. Podem Globo, Folha, Estadão, Veja, IstoÉ et caterva esbravejarem que não. Como estas velhas mídias não mandam na mídia mundial, as vozes razoáveis desta chamam o que é golpe de golpe.
Na prática, o deputado Eduardo Cunha e seus comandados suspenderam a Constituição Brasileira por inteiro. Aquele fechou-se em copas e disse que a Câmara não vota mais nada enquanto o Senado não votar o impeachment. Quer dizer, o deputado considera que a Câmara é a casa dele, onde ele faz o que ele quer. Peculiar maneira de ver a democracia!
Faz meses que o sistema judiciário brasileiro dorme em cima das acusações contra o deputado. E nada acontece. Valerá a máxima do Barão de Itararé? “Dali de onde menos se espera é que não sai nada mesmo”… O Judiciário que responsa a esta questão, sobretudo o Supremo.
Em todo caso, uma coisa boa está ocorrendo em meio a esta horrenda crise, cheia de circo de horrores como a sessão de domingo em Brasília, que mais parecia um misto de filme B de vampiros com uma chanchada macabra em que a democracia foi linchada.
A militância acordou. Já escrevi em outro local que a militância democrática brasileira estava mais melancólica do que poeta romântico diante de uma ruína.
Mas os desmandos e agressões da direita ao bom sendo foram tantas e tamanhas, que a militância acordou. Acordou para a necessidade de defender a democracia no nosso país, a sua auto-estima, a sua honra, a sua verdade.
E não foi só no Brasil. Aqui em Berlim ela acordou também, assim como em outros lugares do mundo.
Aqui na capital alemã um grupo de umas quarenta pessoas reuniu-se na segunda-feira à noite e fundou um movimento que já está na internet.
A tônica das intervenções destacou a necessidade de circular informações alternativas à sistemática desinformação patrocinada pela velha mídia golpista brasileira, de divulgar os temas relativos aos diversos movimentos sociais brasileiros (mulheres, negros, trabalhadores e trabalhadoras, movimentos indígenas, liberdade de opção sexual, dentre os muitos outros). Também foi colocada ênfase na necessidade de gerar informação, através de contatos com outros grupos semelhantes dentro e fora do Brasil, e através de uma sistemática de reflexão sobre os acontecimentos e as condições de vida no Brasil. Está se propondo uma sistemática de reuniões – provavelmente semanais – para manter a mobilização, a execução e divulgação das iniciativas.
O grupo que ali se reuniu era muito variegado em matéria de composição, e também das profissões ali representadas.
Tenho notícia de que há iniciativas semelhantes em Hamburgo e é muito provável que haja em outras cidades europeias, além de em outros continentes.
Devo dizer que há muito tempo não se via algo parecido por aqui.Vamos não apenas torcer, mas fazer de tudo para a iniciativa perdurar: não ao golpe!
[Paris contra o golpe: O Movimento Democrático 18 de Março organizado por brasileiros que vivem na frança também vem reunindo centenas de pessoas em manifestações contra o golpe em Paris.]
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Flávio Aguiar nasceu em Porto Alegre (RS), em 1947, e reside atualmente na Alemanha, onde atua como correspondente para publicações brasileiras. Pesquisador e professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, tem mais de trinta livros de crítica literária, ficção e poesia publicados. Ganhou por três vezes o prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, sendo um deles com o romance Anita (1999), publicado pela Boitempo Editorial. Também pela Boitempo, publicou a coletânea de textos que tematizam a escola e o aprendizado, A escola e a letra (2009), finalista do Prêmio Jabuti, Crônicas do mundo ao revés (2011) e o recente lançamento A Bíblia segundo Beliel (2012). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quintas-feiras.
Os Ministérios mais importantes pertencentes a área econômica, sempre estiveram em mãos neo liberal, com o “golpe” vai parar na mão de quem?
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A defesa do estado de direito, num país onde o processo de democratização é tão precário é 1 dever. Porém, ao fazê-lo, devemos também fazer avaliações mais adequadas e tentar apontar algumas alternativas. A primeira coisa que constatamos é que esse estado de direito, o qual achamos que encontra-se ameaçado, nunca chegou lá embaixo. Os pobres, sobretudo os grupos mais excluídos sabem disso, assim como sabem que os esforços dos chamados democratas nunca foi muito forte. Por outro lado, sabemos que a constituição que defendemos encontra-se completamente desfigurada e a constituição dos poderes acha-se submetida ao jogo bruto do capital e dos grupos de interesses que, numa época de crise encontram-se cada vez mais atrevidos. Nesse cenário, proliferou os tipos de políticos cada vez mais bandoleiros e juízes cada vez mais truculentos e parciais. Assim, com essa estrutura de poder e essa lição com o golpe ficou comprovado que se misturar com essa gente é algo muito perigoso e que só tem algum futuro enquanto possuirmos algo a ser subtraído.
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Os jornalistas estrangeiros também erram e desta vez erraram em conjunto pois só ouviram um lado da questão.
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Sr. Flávio Aguiar, o que aconteceu com a principal estatal brasileira, a Petrobrás? Dilma Rousseff foi Ministra das Minas e Energia de Lula por 4 anos, Presidente do Conselho da Petrobrás por 8 anos, Ministra-Chefe da Casa Civil de Lula por mais 4 anos e Presidenta da Nação por 6 anos e nada sabia do que acontecia? Apesar de ser caçada por uma Câmara de Deputados de moral e ética duvidosas, grande parte da população apoia a decisão destes deputados que até ontem eram aliados da Presidenta. Eu preferiria tentar mudar os rumos do país em 2018 pelo voto. Agora estes 2 anos e cinco meses de Governo vão ser dificílimos. Seja a Nação presidida por Dilma que não terá apoio da câmara e do senado ou por Temer, que não terá apoio popular. Resumindo o pensamento da maioria: Primeiro jogamos o lixo fora para depois jogarmos a lixeira infecta.
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Considerando o atual contexto político, o verbo ‘caçar’ nunca foi melhor empregado. Afinal, o que temos senão um parlamento de ávidos caçadores, caçadores de prestígio, poder e dinheiro fácil com suas negociatas, em detrimento do bem comum?
O parlamento brasileiro gozava do benefício da dúvida; posto que, até àquela patética sessão – que virou piada internacional – não se sabia ao certo o nível de despreparo daquela gente – salvo raras exceções -, nada pode ser mais constrangedor e desesperador do que confirmar, em cadeia nacional, a mediocridade e despolitização dos políticos, dos caçadores de Brasília.
Mas sim, e verbo cassar? Bom, neste caso, o parlamento sequer poderia conjugá-lo; já quanto ao verbo caçar… O que falar dos ávidos caçadores?
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O pior de tudo é a mídia brasileira, que alimenta o golpe, movida pela opinião pública da avenida Paulista, onde manifestantes destilam seu ódio contra o PT. Esta mídia paulista alimenta o retrocesso no país numa guinada só vista em 1964, durante o golpe militar.
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