Ser intelectual na era dos blogs
[Emir Sader no 3º Congresso Nacional da Juventude do PT (3º ConJPT), Brasília, novembro de 2015]
Por Emir Sader.
Intelectual de esquerda escrevendo no Facebook e no Twitter? O que é isso?
Na nossa formação política aprendíamos a diferença entre agitação e propaganda. Na agitação se difundem poucas ideias para muitos. Na propaganda, muitas ideias para poucos. Esta seria para a vanguarda, para os mais formados. Aquela, para a massa da população.
De repente, na era da internet, as alternativas são entre os 240 toques do Twitter ou os espaços maiores do Facebook. O que significa isso? Que possibilidades dão para a socialização de informações sonegadas pela mídia e para fazer a luta de ideias?
É verdade que não são apenas essas as alternativas. Eu tenho Facebook e Twitter, que já somam 125 mil seguidores, mas também escrevo artigos para o Brasil 247, para a Rede Brasil Atual, para o Blog da Boitempo. Além de que meus artigos são regularmente republicados em portais como o Pagina 12, da Argentina, no La Jornada, do México, no Publico, da Espanha, no El Telegrafo, do Equador, entre outros. E publico livros de autoria própria e organizo livros coletivos, claro. Portanto pode-se combinar diferentes formas de expressão das mesmas ideias em formatos diferentes.
Brecht dizia, nas suas dificuldades para dizer a verdade, que a última e a maior delas era exatamente fazer chegar a verdade a quem mais precisa da verdade. Portanto não basta uma boa analise. É preciso que ela seja expressa em linguagem compreensível para a grande maioria. Que ela encontre os meios para chegar a essa grande maioria.
A internet é hoje o melhor meio para isso. Expressar grandes verdades em 240 caracteres? Claro que é possível! Expressa-las no Facebook? Claro que é possível.
Intelectual que se resigne a ficar em casa, lendo jornais, escrevendo, de vez em quando, algum artigo, publicado para poucas pessoas, ou livros ilegíveis, para anunciar a catástrofe à qual caminha a humanidade, não existe. Suas ideias não circulam socialmente. Ele fala para seus pares.
Marxismo não combina com elitismo e com aristocratismo. A internet – entre Facebook, Twitter, Blogs – é um ótimo teste para se saber se as ideias que temos são traduzíveis em formatos e em linguagens simples, se conseguem chegar a um mundão de pessoas, se chegam aos jovens, se podem se transformar em força material.
Triste do intelectual que se fecha a esse mundo, com suas verdades, seus pares, sua vida acadêmica, suas certezas. Faz do marxismo letra morta, o contrario do que queria Marx e do que pede a realidade.
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Emir Sader nasceu em São Paulo, em 1943. Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, é cientista político e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). É secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e coordenador-geral do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Coordena a coleção Pauliceia, publicada pela Boitempo, e organizou ao lado de Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile a Latinoamericana – enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe (São Paulo, Boitempo, 2006), vencedora do 49º Prêmio Jabuti, na categoria Livro de não-ficção do ano. Publicou, entre outros, Estado e política em Marx, A nova toupeira e A vingança da história. Colabora para o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quartas.
Adoro o blog.
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Os intelectuais, regra geral, trilhavam dois caminhos: um, era direcionar suas produções para determinadas linhas ideológicas empresariais para serem incorporados no mercado ou escreverem para seus pares, visando a projeção no mundo acadêmico. Não estava, portanto, no horizonte deles, salvo exceções, o grande público, com o objetivo de interferir na política. Com a internet isso vem mudando, aos poucos, até porque eles precisam de uma adaptação.
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A razão a serviço da sociedade. No lugar da preocupação com a crítica especializada surge a necessidade de ser entendido pelo público.
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O mais importante do texto é a forma que se deve escrever pra atingir a classe social onde está a maioria.
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Claro, novas ferramentas novas possibilidades. O intelectual antigo está sem público vivo, assim como jornalões e TVs estanques, idem.
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Eis a «intelectualidade» em formato XS…
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Eu comecei a pensar em como devo escrever e como devo falar para educar a maioria quando em 1985 estava na casa de alguns amigos e a televisão ligada mostrava a Marilena Chauí falando no Jornal Nacional. Sem pensar muito e não pensando em fazer crítica falei:
_Do jeito que essa mulher está falando ela não atinge as classes populares porque do jeito que ela fala ninguém entende apenas os especialistas.
A partir desse momento fiquei atenta pra um discurso em que a maioria entenda. Quando LULA propôs pra militância entrar e assumir as redes sociais coloquei em prática uma escrita em que qualquer pessoa entenda mesmo que eu queira passar a informação do que é a “mais-valia” de Marx. Desde 2012 quando a esquerda, obedecendo LULA, entrou nas redes sociais que penso numa escrita pra maioria da população brasileira.
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