Cultura inútil: “Você vive hoje uma vida que gostaria de viver por toda a eternidade?”

Mouzar Benedito vidaPor Mouzar Benedito.

(*A pergunta que dá título a esta coluna foi posta por Nietzsche.)

Emplacamos 2016! E não é que conseguimos sobreviver a um 2015 pra lá de complicado? É certo que muitos de nós nos ferramos bastante, mas cá estamos. Então, começo o ano registrando aqui frases e ditados sobre a vida.

A primeira que me lembrei é aquela tida como de autoria de Fernando Pessoa, celebrizada também por um belo fado cantado por Caetano Veloso: “Navegar é preciso; viver não é preciso”.

Houve uma época em que algumas pessoas faziam pose de grandes pesquisadoras e tentavam “explicar” o real sentido de certos ditados. Um deles é aquele “Quem tem boca vai a Roma”. Esses “entendidos” diziam que não era bem isso, que esse dito foi criado por moradores de regiões dominadas pelos romanos, com o sentido de declaração de raiva aos dominadores. Então, o certo seria: “Quem tem boca vaia Roma”. Bobagem. O sentido original é o outro mesmo.

E o “Navegar é preciso…” também tinha uma explicação diferente: “preciso”, no caso, não era com o sentido de “necessário”, mas de bem definido, exato, rigoroso. Assim, o dito teria o seguinte sentido: “Navegar é algo bem definido; viver não é”. Mentira também.

Fernando Pessoa usou o dito para falar dos navegadores portugueses, mas ele foi dito originalmente muito tempo antes, por Pompeu, general romano. Marinheiros amedrontados se recusavam a viajar durante a guerra, e Pompeu lhes disse: “Navigare necesse; vivere non est necesse”. Ou seja, “Navegar é necessário; viver não é necessário”.

Enfim, tivemos um 2015 que me fez pensar mais na frase de Guimarães Rosa, que escreveu: “Viver é perigoso”. E também no que aconselha Luís Fernando Veríssimo: “Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta”.

E para celebrar nossa sobrevivência, esperando um 2016 em que viver não seja tão perigoso, resolvi mandar ver nessa coletânea de ditados e de frases de gente famosa e até de não famosas, como eu mesmo.

Começo pelos ditados

A vida é um mar de merda, agitado por um furacão de peidos.

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Viver de graça é mais barato.

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Viver é ver as bobagens que até o dia de ontem a gente fez.

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A vida sempre cobra tudo…

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A vida é assim mesmo: um pau de sebo com uma nota falsa na ponta!

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A vida é uma coisa que quanto mais estica mais curta fica.

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Vida é prazer de quem não tem saber.

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Viver não posso, morrer não quero.

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Quem vive à toa, não tem tempo para nada.

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Quem “véve” assim, não pode dizer que “véve”.

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A vida é ruim, mas ninguém quer morrer.

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A vida melhor do mundo é a dos outros.

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A vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada.

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Quem está vivo, sempre aparece.

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Quem está vivo, sempre desaparece (adaptado pelo Pasquim, no tempo da ditadura, quando as pessoas eram presas e “desapareciam”).

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A vida é um rascunho de saudades.

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Quem vive de esperança, morre de fome.

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Quem vive em paz, dorme em sossego,

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Quem viver no inferno, se acostuma com o diabo.

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A vida vale mais que um punhado de moedas.

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Vida e confiança só se perde uma vez.

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Aquele que despreza sua vida é senhor da nossa.

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Quem sua vida complica, seus cuidados multiplica.

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Quem viver verá as voltas que o mundo dá.

Agora frases com autoria reconhecida

David Bowie: “Não sei para onde vou daqui, mas prometo que não vai ser chato.”

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David Bowie, de novo: “Aproveite cada momento. Não estamos evoluindo. Não estamos indo a lugar algum.”

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Mais uma vez, David Bowie: “A verdade, é claro, é que não há jornada alguma. Estamos chegando e partindo tudo ao mesmo tempo.”

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Bob Marley: “A vida é para quem topa qualquer parada. Não para quem para em qualquer topada”.

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Álvaro Moreyra: “A vida é uma lenda cheia de histórias que ninguém entende. Cada um conta do seu jeito. E o jeito de cada um é uma ilusão intransferível”.

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Adélia Prado: “O sonho extravasou a noite / Extravasou pro meu dia / Encheu minha vida / E é dele que eu vou viver / porque sonho não morre”.

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Virginia Wolf: “A vida é como um sonho. É o acordar que nos mata”.

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Marquês de Maricá: “A nossa vida é quase toda um sonho, e sonhamos acordados mais vezes do que dormindo”.

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Anaïs Nin: “Me nego a viver em um mundo ordinário como uma mulher ordinária. A estabelecer relações ordinárias. Necessito o êxtase. Não me adaptarei ao mundo. Me adapto a mim mesma”.

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Carlos Drummond de Andrade: “Não preciso de dez mandamentos para viver, me basta um: não interferir na vida dos outros”.

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David Bowie: “Sempre tive uma necessidade repulsiva de ser algo mais que humano. Me sentia pequeno como humano, e pensei ‘que se dane: quero ser super-humano’.”

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Pablo Picasso: “Eu gostaria de viver como pobre, mas com muito dinheiro”.

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Woody Allen: “Você pode viver até os cem anos se abandonar todas as coisas que fazem com que você queira viver até os cem anos”.

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Rachel de Queiroz: “Vida é uma tarefa que não se divide com ninguém”.

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George Lord Byron: “É mais fácil morrer por uma mulher do que viver com ela”.

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Ayrton Senna: “Mulheres – com elas uma encrenca, mas sem elas não se pode viver”.

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Christopher Isherwood: “A vida não é tão ruim assim, desde que você tenha sorte, saúde e pouca imaginação”.

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Joaquim Nabuco: “A vida mais desejável é a que não causa inveja, nem compaixão”.

Charles Chaplin: “A vida é maravilhosa se não se tem medo dela”.

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Charles Chaplin, de novo: “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos”.

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Mário Quintana: “Tão bom morrer de amor! E continuar vivendo…”.

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Isadora Duncan: “As pessoas não vivem plenamente hoje em dia. Contentam-se com, no máximo, uns dez por cento”.

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Platão: “Calarei os maldizentes continuando a viver bem: eis o melhor uso que podemos da maledicência”.

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Xiquote: “Tudo que é fácil de fazer mediocremente é dificílimo de executar com perfeição. Viver, por exemplo”.

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Oscar Wilde: “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”.

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Mark Twain: “Não abandones as tuas ilusões. Sem elas podes continuar a existir, mas deixas de viver”.

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Millôr Fernandes: “Viver é desenhar sem borracha”.

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Padre Antônio Vieira: “A vida e o tempo nunca param: e, ou indo, ou estando, ou caminhando, ou parados, todos sempre e com igual velocidade passamos”.

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Maiakovski: “Não é difícil morrer nesta vida: viver é muito mais difícil”.

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Euclides da Cunha: “Viver é adaptar-se”.

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Sócrates: “A maneira mais fácil e segura de vivermos honradamente consiste em sermos, na realidade, o que parecemos ser”.

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Marques Rebelo: “A nossa vida tem muito dos queijos com buracos. Buracos que nada dizem mas que pertencem ao queijo”.

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Dostoievski: “É melhor ser infeliz, mas estar inteirado disso, do que ser feliz e viver como um idiota”.

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Clarice Lispector: “O que importa afinal, viver ou saber que se está vivendo?”.

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Clarice Lispector, de novo: “Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”.

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Clarice Lispector, mais uma vez: “Eu sou mansa, mas minha função de viver é feroz”.

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Sêneca: “Dedica-se a esperar o futuro apenas quem não sabe viver o presente”.

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Wilson Mizner: “A vida é dura e os primeiros cem anos são os piores”.

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Jonathan Swift: “São poucos os que vivem o presente; a maioria aguarda para viver mais tarde”.

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Vinícius de Moraes: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”.

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Simone de Beauvoir: “Viver é envelhecer, nada mais”.

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Dante Alighieri: “Do viver que é uma corrida para a morte”.

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José Saramago: “A vida é breve, mas cabe nela muito mais do que somos capazes de viver”.

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Gonçalves Dias: “A vida é combate / que os fracos abate / que os fortes, os bravos / só pode exaltar”.

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Sigmund Freud: “Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro”.

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Leila Diniz: “Nem de amores eu morreria porque eu gosto mesmo é de viver deles”.

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Arthur Schopenhauer: “Como somos obrigados a viver, devemos sofrer o menos possível”.

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Viana Moog: “Pensar é fácil, agir é difícil; mas a vida só pertence aos que sabem unir o pensamento à ação”.

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Humberto de Campos: “A vida do homem não será a repetição, na Terra, da evolução da pimenta-do-reino?”.

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Guimarães Rosa: “Viver é rasgar-se e remendar-se”

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Guimarães Rosa, de novo: “Viver para odiar uma pessoa é o mesmo que passar uma vida inteira dedicado a ela”.

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Guimarães Rosa, mais uma vez: “Viver é um descuido prosseguido. Mas quem é que sabe como? Viver… O senhor já sabe: viver é etcétera”.

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Fernando Pessoa: “Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido”.

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Leonardo da Vinci: “Quando eu pensar que aprendi a viver, terei aprendido a morrer”.

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Stanislaw Ponte Preta: “Entre as três melhores coisas desta vida, comer está em segundo e dormir em terceiro”.

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Dom Hélder Câmara: “Feliz de quem atravessa a vida inteira tendo mil razões para viver”.

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Winston Churchill: “Melhor lutar por algo do que viver para nada”.

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Denis Diderot: “Que bela comédia poderia ser a vida, se não fôssemos protagonistas dela”.

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Luiz Gama: “Eu tenho lances doridos em minha vida, que valem mais do que lendas sentidas da vida amargurada dos mártires”.

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Cora Coralina: “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher”.

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Einstein: “Só há duas maneiras de viver a vida: a primeira é vivê-la como se os milagres não existissem. A segunda é vivê-la como se tudo fosse milagre”.

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Dalai Lama: “Só existem dois dias do ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e outro se chama amanhã. Portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”.

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Provérbio chinês: “Jamais se desespere em meio às sombrias aflições de sua vida, pois das nuvens mais negras cai água límpida e fecunda”.

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Eu:

“Vida corrida, coisa malsã!
Jibóia não corre,
Mas pega rã”

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Eu, de novo: “Para os fundamentalistas, a vida não é fundamental”.

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Eu, mais uma vez: “Eleições são muito importantes: por meio delas escolhemos quem vai nos ferrar a vida nos próximos anos”.

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Camilo Castelo Branco: “Não pense em jazigos! Coma e beba; a vida é um pagode, uma asneira alegre que se vai numa gargalhada”.

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Boris Pasternak: “O homem nasceu para viver e não para se preparar para viver”.

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Fernando Sabino: “Viver faz mal à saúde, envelhece, cria rugas, dá reumatismo, ataca os rins, o fígado e o coração”.

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Georges Bernard Shaw: “Enquanto tiveres um desejo, terás uma razão para viver. A satisfação é a morte”.

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Marilyn Monroe: “Não ligo de viver no mundo de um homem, desde que eu possa ser uma mulher nele”.

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Augusto Comte: “Os vivos, sempre e cada vez mais, são governados pelos mortos”.

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   Barão de Itararé: “Os vivos, sempre e cada vez mais, são governados pelos mais vivos”.  

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Mais algumas do Barão de Itararé:

“Na vida de um homem, há sempre uma mulher que passa. Mesmo que seja uma uva, deixa-a passar.”

“A vida não é só gozar. Mas também não é só sofrer.”

Em artigo explicando quem é ele: “É um homem sem segredos, que vive às claras, aproveitando as gemas e sem desprezar as cascas”.

“Tristezas não pagam dívidas. Isto nos faz viver com alegria.”

“É do pão que os outros comem que vive o padeiro.”

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Machado de Assis: “A vida é cheia de obrigações que a gente cumpre, por mais vontade que tenha de as infringir deslavadamente”.

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Machado de Assis, de novo: “A vida é uma ópera bufa com intervalos de música séria”.

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Medeiros e Albuquerque: “A vida é um pequeno acidente da terra”.

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Albino Forjaz de Sampaio: “A vida é feita de lodo e os homens do pó do crime; tudo é lama e toda a lama é igual”.

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Groucho Marx: “Se acredito em vida após a morte? Não sei nem se acredito na vida antes da morte. Acho que acredito na morte durante a vida”.

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Emiliano Zapata: “Prefiro morrer de pé que viver sempre ajoelhado”.

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Gostou? Clique aqui, para ver todas as outras colunas da série “Cultura inútil”, de Mouzar Benedito, no Blog da Boitempo!

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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996) e Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças. 

7 comentários em Cultura inútil: “Você vive hoje uma vida que gostaria de viver por toda a eternidade?”

  1. Stela Maris Grespan // 11/01/2016 às 11:00 pm // Responder

    Penso, ajo, existo. Vocês me ouvem, sente m, vêem e, portanto, vivo. Não sei se terei olhares pela eternidade!

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  2. Eterno retorno

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  3. “Onde a vida não tem valor, a morte tem seu preço” (Sergio Leone)

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  4. Mouzar Benedtio // 30/01/2016 às 12:52 pm // Responder

    Um amigo meu, o Chico Brasinha, me mandou uma mensagem com uma historinha que, se eu soubesse antes, teria incluído no texto. Ela foi contada pelo Mário Prata. Segundo ele, D. João VI tinha preguiça até de se masturbar. Para isso, ele tinha um assessor especial e exclusivo, o Chico Lobato. Como o ofício do Lobato não exigia tempo integral, ele acabou se dando bem, inclusive comendo (por obrigação) a mulher do chefe.
    Mouzar

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  5. Mouzar…Sou um apreciador dos seus trabalhos e temos um amigo em comum…O Clovis…Grande figura….Vim embora pra Minas e tenho muita saudade de tomar um trago com ele na Vl Moraes SP….Não tenho noticias dele e se vc encontrá-lo diga que qndo puder eu vou devolver o Livro que ele me emprestou e acabou vindo junto pra Minas,rsrsrsrs….Trem di doido…Se encontrar com ele pergunta sobre um Mineiro tomador de cachaça que ele emprestou o livro com seu autógrafo….Um abraço e bons tragos ….

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    • Clovis Pacheco F. // 22/05/2016 às 12:13 pm // Responder

      Meu caro Allan, o Clovis se faz presente! Nem me lembrava do livro, do qual sou personagem sob o nome de Virgílio, concomitante com o apelido Penão, em que fui alvo de uma gigantesca mentira contada pelo Mouzar, – tremenda calúniua, injúria e difamação, de acordo com o Código Penal – segundo a qual eu teria autorizado o Oswaldinho a pegar no meu mijão, no “miquitório” público da Praça da República! Logo lá, naquele reduto pederástico de São Paulo! Aparecendo aqui, entre em contato, para a gente tomar umas e outras, no local citado ou alhures – uma dica para o Mouzar escrever mais sobre os preciosismos hoje em desuso -, lembrando sempre que o bar Bosque de Viena já fechou faz muito tempo, e não dará para a gente comer aquela paella belíssima e relativamente barata ouvindo os paraguaios cantando! Não dá para ser o contrário, eu ir para Minas, que atualmente não viajo nem para São Caetano, porque tomo conta de dois netos que vivem comigo. São daqueles que existem graças à nova moda dos jovens de hoje, fazer filhos e passar a continha para os pais.
      Meu e-mail é o de minha mulher, que eu perdi o meu e até agora não consegui refazê-lo… É silviamfa@yahoo.com.br

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