Lançamento Boitempo: Anti-Dühring, de Friedrich Engels
Em primeira tradução feita direto dos originais em alemão, e a partir dos documentos completos da MEGA-2, chega aos leitores brasileiros a aguardada edição definitiva de “A revolução da ciência segundo o senhor Eugen Dühring”, obra de Friedrich Engels que chegou a ser considerada a “enciclopédia do marxismo”. A edição vem ainda acrescida de uma generosa apresentação assinada por ninguém menos do que José Paulo Netto, além de uma cronologia resumida de Marx e Engels e materiais suplementares. Confira, abaixo, o texto de orelha do livro assinado por Camila Moreno.
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Entre os livros canônicos da tradição marxista, A revolução da ciência segundo o senhor Eugen Dühring (Anti-Dühring), de Friedrich Engels, foi para muitas gerações, ao lado do Manifesto Comunista, a principal via de acesso ao pensamento de Karl Marx. Concebido com a pretensão de apresentar em tom acessível uma exposição sintética de suas principais ideias e conceitos, o texto se transformou em um documento fundamental na construção da teoria do materialismo histórico. Foi através do Anti-Dühring que Engels popularizou a expressão “socialismo científico”, termo que veio a marcar de forma indelével toda uma corrente de pensamento e suas decorrências no campo da política, tendo como referência um cenário de etapas evolutivas no desenvolvimento da sociedade. Embora a expressão não tivesse sido usada antes por Marx, Engels inaugura seu emprego nesta obra como designação apropriada para combater e refutar uma noção distinta do que seria “socialismo”, a qual estaria representada pelas ideias de Eugen Dühring, na época um influente professor de filosofia e economia na Universidade de Berlim.
Nesse contexto específico, o Anti-Dühring foi gestado como uma ferramenta importante na disputa da hegemonia teórica entre os partidários da social-democracia alemã, seu público-alvo. Contudo, para além dos leitores alemães (e europeus), ao longo das décadas o livro ganhou alcance e repercussão como principal “síntese” das ideias de Marx, chegando a influenciar figuras da envergadura de Mao Tsé-Tung e Sukarno, os quais, conta-se, recomendavam sua leitura como introdução à obra marxiana, atestando o peso e a importância que alcançou. Ultrapassando em muito o propósito original para o qual foi concebido, constituiu-se em um texto determinante para a disseminação do marxismo ao redor do mundo. Uma reflexão pendente talvez seja o quanto essa “síntese” de Engels, quando tomada como atalho, não eclipsou o mergulho individual e insubstituível na escrita densa e dialética do próprio Marx.
Publicado pela primeira vez há quase 150 anos (a edição original é de 1878), qual a importância de sua leitura hoje? Além de sua indiscutível relevância histórica na constituição do marxismo, a escrita tem um impulso vital, alimentada por uma visão transformadora da realidade. O texto é claro e vívido, atravessado por um tom irônico e mordaz. A primorosa tradução, pela primeira vez diretamente do original alemão para o português, recupera o frescor apaixonado do debate de ideias – um artigo de luxo e tão escasso nos dias de hoje.
Camila Moreno
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★ “Anti-Dühring” é o 20º título da aclamada coleção Marx-Engels da Boitempo, lançado na efeméride de 120 anos de morte de Friedrich Engels.
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Camila Moreno participou da mesa “Bem-vindo ao deserto do capital: crise hídrica, meio ambiente e capitalismo” com Alexandre Delijaicov, Virgínia Fontes e Bruno Torturra (mediação) no Seminário Internacional Cidades Rebeldes, realizado pela Boitempo Editorial e pelo Sesc:
Mais das obras de uma vez a Editora está de parabens, aproveito para sugerir lançamentos das obras de Trotsky e quem sabe as de Lenin.
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