De bar em bar: passarela do álcool e algo mais em Porto Seguro

mouzar passarelaPor Mouzar Benedito.

Baiano é bom pra inventar nomes de lugares. No centro de Porto Seguro, uma sequência enorme de barraquinhas que vendem bebidas é conhecida como “passarela do álcool”. A bebida típica do local tem o nome de “capeta”. É feita com vodka, pó de guaraná, leite condensado, canela e outros ingredientes, além de gelo, tudo batido no liquidificador.

Uma época, há muitos anos, a Célia e eu estávamos lá e fomos a uma barraquinha beber só vodka e gelo, e o preço era uma coisa estranha: o capeta, com todos os ingredientes e uma dose generosa de vodka custava R$ 1,50. Uma dose de vodka Smirnoff (a mesma usada no preparo do capeta) e gelo custava R$ 2,00. Pedimos então dois capetas sem guaraná, sem leite condensado, sem canela, sem mais nada além do gelo, e pagamos R$ 1,50 por uma dose que era praticamente o dobro da dose normal, que custava R$ 2,00.

Antes dessa viagem, quando uns amigos souberam que eu ia para Porto Seguro, me disseram que um conterrâneo meu, o Toninho, havia vendido a rede de lojas Courominas em São Paulo e Minas e mudado para Porto Seguro, onde tinha uma barraca de praia. Estranhei. O Toninho tinha uma capacidade enorme pra ganhar dinheiro, e a Courominas era muito lucrativa, e ele não fazia o gênero hippie. Como podia vender tudo e ir cuidar de uma barraca de praia? Para mim, barraca de praia era um quiosque com meia dúzia de mesas em volta.

Garantiram que era verdade, e me disseram que o nome da barraca dele, Barramares. Na cidade, os moradores me informaram que era uma barraca “grande”, no caminho para a Coroa Vermelha. Pegamos um ônibus e fomos lá. Surpresa! Põe grande nisso! Parecia um centro de lazer daqueles filmes norte-americanos, um troço muito grande mesmo.

Dentro da “barraca” havia dois restaurantes, três bares e mais um monte de coisas, e o Toninho tinha 180 empregados. Estava explicado. E seu toque de Midas continuava funcionando. Ele levou pra ser o gerente da barraca o seu primo Geleia, de um povoado que tinha o apelido de Santa Cruz das Sete Facadas, perto de Nova Resende.

“Como é que o Geleia, acostumado a mexer com vacas, vai tocar um complexo de bares e restaurantes desse, a beira mar?”, todo mundo se perguntava no início. Pois em um mês o Geleia já era o sujeito mais popular de Porto Seguro. Amigo de todo mundo. Os pescadores reservavam para ele os melhores peixes e melhores camarões. Os guias turísticos levavam os grupos para lá, espontaneamente. Tudo por causa do Geleia. E ele retribuía: cada motorista de ônibus de turismo e cada guia tinham direito a um almoço e uma cerveja grátis.

Quando cheguei lá, o cantor mais popular de Porto Seguro estava agitando a galera, coordenando um grupo de mais de cem pessoas a dançar a “lambaeróbica”, um misto de lambada e ginástica aeróbica. Ele gritava: o casal que dançar melhor ganha um chope… Um para o homem e outro para a mulher… E todo mundo se animava, se agitava debaixo daquele solzão. Quando pararam, alguns minutos depois, o casal considerado vencedor ganhou os dois chopes, um para cada, e tomou muitos e muitos outros. E todos os participantes, uns cinquenta casais, que não ganharam, beberam muitos chopes também…

Para se ter ideia do movimento do local, havia dentro da “barraca” dois postos bancários: um do Banco do Brasil e outro da Caixa Econômica, exclusivos para os frequentadores, pois não havia nada perto dali.

Mas o que achei mais interessante era que no meio da Barramares, entre os bares e restaurantes, havia um córrego, e no meio dele uma pequeníssima ilha de uns quatro metros de diâmetro. O córrego era raso, a água não passava da canela. E na ilha havia uma placa: “Ilha do Top-Less”. Muitas moças acreditavam. Iam até a ilha, tiravam a parte de cima do biquíni e ficavam tomando sol e exibindo os seios para a gente. Para sair da “ilha” colocavam o sutiã de novo. Isso é que é seguir regras!

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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996) e Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças. 

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