Lançamento Boitempo: Mal-estar, sofrimento e sintoma: uma psicopatologia do Brasil entre muros, de Christian Dunker
Acaba de sair do forno Mal-estar, sofrimento e sintoma: uma psicopatologia do Brasil entre muros, de Christian Dunker. O livro, que nas palavras de Vladimir Safatle “é a prova maior da vitalidade madura do pensamento psicanalítico brasileiro”, realiza uma abordagem original sobre o mal-estar, o sofrimento e o sintoma na sociedade brasileira contemporânea. Analisando como a lógica do condomínio organiza nossas formas de sofrer, Dunker provoca: “Como foi possível inventar uma forma de vida comum sem uma verdadeira comunidade?”
Leia abaixo a orelha do livro, escrita por José Luiz Aidar Prado
Ao examinar o conjunto de mal-estar, sofrimento e sintoma, Christian Dunker investiga como a vida brasileira está governada por uma razão sistêmica tutelada por tecnoespecialistas, a quem ele chama de síndicos. Tal é a vida em condomínio, em que tudo vira objeto de gestão totêmica. Tudo parece líquido, mas essa impressão é ilusória, já que no condomínio pós-moderno os diagnósticos são bem sólidos, impressos em código DSM e regados por uma obesa fábrica de fármacos. O caminho escolhido na história brasileira é o de despolitizar o sofrimento, medicalizar o mal-estar e condominializar o sintoma.
Contra essa colonização da existência, Dunker introduz um conceito psicanalítico de sofrimento, em que este é resposta às configurações de época, entendido a partir de seus modos de expressão e ligado aos processos de reconhecimento social. Todo sofrimento é um desejo de que as coisas sejam diferentes; o mal-estar tem sua gênese na perda de experiência de uma forma de vida ainda não reconhecida; patologias têm de ser entendidas como bloqueios ou contradições não reconhecidas.
Nossa razão diagnóstica tem definido a fronteira entre mal-estar, sofrimento e sintoma sob a perspectiva de um capitalismo à brasileira. Repensá-la e rever a recepção da psicanálise no Brasil é propor a reconstrução de nossas formas de vida. Dunker o faz a partir de uma arqueologia da psicanálise brasileira em conjunção com uma retomada das teorias de brasilidade. Esse caminho nos leva a um debate que posiciona a psicanálise numa chave não totêmica, a partir de um animismo ameríndio.
A corrente liberal de interpretação localiza a fonte do sofrimento na falta de experiências produtivas de determinação, mas outra corrente aposta nas experiências ligadas à não identidade: “onde a diagnóstica clássica quer chamar o síndico para suplementar o declínio da imago paterna é preciso reconhecer a universalidade do xamanismo transversal”. Chega da busca do sucesso biopoliticamente administrado; contra isso, o pensamento ameríndio traz a possibilidade de uma reconstrução da teoria do reconhecimento que incorporará produtivamente as experiências de indeterminação – o encontro contingente na mata ameríndia. Hegel, após ler Lacan, estagia na Amazônia.
José Luiz Aidar Prado
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Christian Dunker esteve na Boitempo esta semana para desempacotar Mal-estar, sofrimento e sintoma com a gente e aproveitou para falar um pouco sobre como a “lógica do condomínio” organiza nossas formas de sofrer no Brasil de hoje:
Com Christian Dunker, Vladimir Safatle, Maria Rita Kehl e Paulo Arantes; mediação de Antonio Martins
HOJE, 16 de abril de 2015 | das 19h às 21h | Quadra dos Bancários
Rua Tabatinguera, 192 | São Paulo, SP
Resenhas e críticas:
“Um livro cuja importância deve crescer muito à medida que for mais e mais discutido…”
“O encontro na mata“, matéria com Christian Dunker por Daniel Benevides e Patricia Rousseaux, Revista Brasileiros
“Lógica de condomínio” traz cisão ao país, diz psicanalista
Entrevista de Christian Dunker a Eleonora de Lucena, Folha de S.Paulo
Hegel, Lacan e o mato, por Vladimir Safatle, Carta Capital
Olá,
gostaria de saber se há alguma chance do evento de hoje receber transmissão ao vivo? Muitos dos admiradores do Christian Dunker estão espalhados pelo Brasil, portanto seria uma solução bem interessante para um maior número de pessoas.
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O livro é ótimo.Só senti falta de mais explicações dos termos lacanianos…Seria possível um glossário na próximas edições?
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