Inaceitável, Dudu, inaceitável…

15 04 13 Emir Sader Galeano

Por Emir Sader.

Em uma viagem de Havana a Managua, falando de coisas de um tempo em que as mortes de amigos e companheiros estavam na ordem do dia, Cortázar me disse, simplesmente o seguinte:

– Emir, a morte é inaceitável.

O que mais acrescentar a isso?

E que morte hoje é mais inaceitável do que a do Galeano, do Eduardo, do Dudu?

E que palavras para expressar o sentimento, para tentar descrever o que é a vida dele, o que nos deia, a falta que nos fará?

Dizer que era o melhor escritor latioameircano contemporâneo, o melhor ensaísta, o melhor jornalista, o melhor ser humano – não basta. Faltará sempre algo, que só os que tivemos o privilegio da convivência podemos avaliar ou sentir.

Ele nos deu um tempo para sentirmos o que seria a vida sem ele, conforme resistia duramente a doença – “é uma luta aqui dentro do dragão da maldade contra o santo guerreiro”, dizia ele. Mas ninguém pode aceitar uma ausência como a dele.

Inaceitável, Dudu, inaceitável.

***

Em 2013, Emir Sader entrevistou Eduardo Galeano para o Repórter Brasil. O escritor e jornalista conversa sobre o que ele chama de uma atual ditadura do medo no contexto das revelações de Edward Snowden, e afirma, sem pestanejar: o mundo está dividido entre indignos e indignados.

***

Emir Sader nasceu em São Paulo, em 1943. Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, é cientista político e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). É secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e coordenador-geral do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Coordena a coleção Pauliceia, publicada pela Boitempo, e organizou ao lado de Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile a Latinoamericana – enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe (São Paulo, Boitempo, 2006), vencedora do 49º Prêmio Jabuti, na categoria Livro de não-ficção do ano. Publicou, entre outros, Estado e política em MarxA nova toupeira e A vingança da históriaColabora para o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quartas.

8 comentários em Inaceitável, Dudu, inaceitável…

  1. Bárbara Lobo // 13/04/2015 às 5:01 pm // Responder

    Como sempre, caro Emir, suas palavras foram maravihosas!
    “A morte, muitas vezes, mente – quando se imagina que uma pessoa morreu, ela continua viva na memória, nas conversas, nas decisões” – Eduardo Galeano (1940 – 2015) Mestre…é nosso dever manter viva sua ideologia!!!

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  2. Republicou isso em ivanmaglioe comentado:
    Grande perda! Eduardo Galeano

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  3. Sinto-me feliz por seguir o professor Emir Sader e lamentamos muito a perda de uma pessoa tão especial como foi o Dudu

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  4. Arlete Moyses // 13/04/2015 às 5:50 pm // Responder

    Galeano, presente hoje e sempre.

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  5. Vemos desaparecer uma figura de um humanismo inigualável, insuperável. Um exemplo de humildade e amor ao próximo. Repousa em Paz amigo Eduardo Galeano, homem de todas as latuitudes e de todas as longitudes. Universal. Mal acabas de partir e já sentimos a tua falta. A Humanidade ficou bem mais pobre….

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  6. Diálogo emocionante!

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  7. Maria. S. Magnoni // 14/04/2015 às 4:44 pm // Responder

    Lindo, Emir! Não consigo parar de chorar. Eduardo Galeano , na ingênua parte criança que trago em mim, seria eterno, mas nesse mundo!

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  8. márcia martini // 23/07/2015 às 12:56 pm // Responder

    Algumas pessoas fazem parte de nós (conscientemente), e Galeno em mim, é um de meus mestres. Uma parte de mim… das mais nobres.

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