A greve dos professores paulistas
Por Izaías Almada.
“O opressor não seria tão forte se não tivesse
cúmplices entre os próprios oprimidos”
—SIMONE DE BEAUVOIR
Minas Gerais, segundo o quadro apresentado pelo governador Fernando Pimentel, chegou a uma situação de quase insolvência no choque de “indigestão” de Aécio Neves. O Paraná vai às ruas contra a administração de Beto Richa e seu “ajuste fiscal”. São Paulo, além da má administração da Sabesp, do trensalão escondido e outras mazelas, continua tratando as reivindicações sociais como caso de polícia.
Três grandes estados da federação governados pelo principal partido da oposição, O PSDB, que assim mostra ao país, muito embora vergonhosamente protegido pelos principais órgãos de comunicação, a incompetência de seus principais quadros.
Fiquemos no caso de São Paulo e a atual greve dos professores estaduais: no último dia 02 de abril resolveram, diante da insensibilidade do governo do estado, dar continuidade ao movimento que já conta com a adesão de mais de 60 mil professores.
Em reunião com a diretoria da APEOESP na segunda-feira, 30, o Secretário Estadual da Educação não apresentou nenhuma proposta salarial à categoria (também não houve avanços concretos nos demais pontos da pauta de reivindicações). Por isso, os 60 mil professores reunidos em assembleia estadual na quinta-feira, 2 de abril, no vão-livre do MASP, na avenida Paulista, decidiram: a greve continua!
A assembleia aprovou também um calendário de mobilizações que prevê o fechamento de estradas e rodovias na próxima quinta-feira, 9. A ação será simultânea em todo o Estado, organizada pelas subsedes, que receberão instruções para esta atividade.
Além da intensificação das visitas às escolas, as subsedes devem percorrer os bairros com carros de som esclarecendo a população e realizar a “Operação Caça-Alckmin”: onde o Governador estiver, os professores estarão para protestar e exigir a abertura de negociações e o atendimento das reivindicações.
Durante a assembleia a Presidenta da APEOESP informou que uma ação do Governo Estadual nos impede de solicitar que os pais apoiem a nossa luta não enviando seus filhos à escola durante a greve, como vínhamos fazendo. Mas isto não significa que não devamos continuar pedindo o apoio dos pais, dos estudantes e de toda a sociedade ao nosso movimento.
Vamos divulgar pelas redes sociais uma “hashtag” com os seguintes dizeres: “Governador negocie com os professores” (#governadornegociecomosprofessores). Veja abaixo o calendário da mobilização e as principais reivindicações dos professores paulistas:
CALENDÁRIO DE MOBILIZAÇÃO
A assembleia aprovou as seguintes atividades:
De 6 a 8 de abril – Visita a escola, panfletagens nas regiões, percorrer os bairros com carros de som para esclarecer a população sobre a greve. Buscar apoio nas Câmaras Municipais pedindo para que vereadores da base governista intervenham pela abertura das negociações.Também devem ser realizados “pedágios” no trânsito, com a distribuição de cartas abertas e esclarecimentos à população sobre a nossa greve.
Dia 9 de abril – Fechamento de estradas e rodovias em todo o Estado, em ação simultânea e assembléias regionais. Podem também ser realizados atos nas DEs.
Dia 10 de abril – Assembleia estadual, às 14 horas, no Palácio dos Bandeirantes.
As principais reivindicações:
Plano de composição para um aumento de 75,33% para equiparação salarial com as demais categorias com formação de nível superior, rumo ao piso do DIEESE para PEB I com jornada de 20 horas semanais de trabalho, para professores da ativa e aposentados.
Conversão do bônus em reajuste salarial.
Pela implantação da jornada do piso.
Reabertura de classes e períodos fechados. Imediato desmembramento das salas superlotadas.
Máximo de 25 alunos por sala desde o primeiro ciclo do Ensino Fundamental ao Ensino Médio.
Nem “quarentena”, nem “duzentena” para os professores da categoria “O”.
Por uma nova forma de contratação de professores temporários, com garantia de direitos.
Garantia de atendimento médico no IAMSPE para os professores da categoria “O”.
Convocação e ingresso de todos os professores concursados.
Garantia de PCPs nas escolas de acordo com a Resolução 75/2013. No mínimo um PCP em cada escola, independente do número de salas.
Garantia de condições adequadas de infraestrutura em todas as escolas.
Pelo fim da lei das faltas médicas; fim da perseguição aos professores nas perícias médicas.
Pela aceleração dos processos de aposentadoria.
Pela correção das distorções no plano de carreira que prejudicam os aposentados.
Água para todos, em todas as escolas.
Fim do projeto excludente de escola de tempo integral; por uma educação integrada.
Fim do assédio moral.
Fim do corte de verbas para as escolas.
Pela ampliação dos repasses para as escolas.
Aumento do valor do vale-alimentação e do vale-transporte.
Continuidade do transporte escolar gratuito para os estudantes.
São Paulo continua sendo a vanguarda do atraso. Fonte inesgotável de conservadorismo, preconceito e ninho protetor de tucanos corruptos. Até quando o Brasil terá que suportar esse fardo?
Outras categorias de trabalhadores, apoiados por movimentos sociais, precisam sair às ruas e defender a democracia e a justiça social no país. Vejam o vídeo abaixo:
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Izaías Almada, mineiro de Belo Horizonte, escritor, dramaturgo e roteirista, é autor de Teatro de Arena (Coleção Pauliceia da Boitempo) e dos romances A metade arrancada de mim, O medo por trás das janelas e Florão da América. Publicou ainda dois livros de contos, Memórias emotivas e O vidente da Rua 46. Como ator, trabalhou no Teatro de Arena entre 1965 e 1968. Colabora para o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quintas-feiras.
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