Cultura inútil: Sobre dinheiro, trabalho e coisas que se dizem afins
[Adoniran Barbosa: “Chega de homenagens. Eu quero é dinheiro!”]
Por Mouzar Benedito.
“O trabalho dignifica e enobrece o homem”, diz um velho ditado que logicamente foi criado por quem não trabalhava, mas certamente por um explorador do trabalho alheio que queria convencer esse alheio que ele estava fazendo o melhor.
Mas alguns que trabalham à revelia (como eu), só por necessidade, não porque gostam ou porque acreditam em frases edificantes sobre o trabalho, logo adaptaram o ditado: “O trabalho empobrece e danifica o homem”.
Os que ganham enquanto os outros trabalham procuram nos convencer também que estamos todos juntos, “na mesma canoa”. Para esses, fiz uma imitação de haicai:
Na mesma canoa
Uns remam
Outros ficam à toa
O certo é que sempre se fala do trabalho como algo realizador, divino até. Todas as riquezas são criadas pelo trabalho. Concordo. Pena que essas riquezas não fiquem com quem as criou, os que fizeram o trabalho.
Fiz uma seleção de ditados e de frases ditas por celebridades (ou não), sobre riqueza, ricos, bancos, dinheiro… e muito pouco sobre trabalho e trabalhador, porque, se há muito cinismo em ditos sobre o dinheiro e seus donos, há um cinismo que acho mais perverso nas frases pronunciadas em tom elogioso sobre o trabalho. É um cinismo diferente, que acho inútil reproduzir aqui.
Mas antes desses ditados e dessas frases, começo por coisas da minha própria lavra, ditos meus, em forma de frases ou de haicais meio tronchos sobre dinheiro, trabalho e coisas afins (mas não semelhantes). Vamos lá.
O QUE EU DISSE:
O inferno é aqui na terra mesmo, mas só para os pobres. Para os ricos, aqui é um céu.
* * *
Em terra de endividados, quem tem um banco é rei.
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Banqueiro dos bons
Não morre de amores
Por ladrões amadores
* * *
Há situações em que rico é que não vai pra frente. Na guerra, por exemplo.
* * *
Nas mãos de maconheiro, dinheiro vira fumaça; nas mãos de viciado em cocaína, vira pó.
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Quem tem capital
Tem seguidores
Adeptos do capetal
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Tá certo que o dinheiro não traz felicidade. Mas e a miséria, traz?
* * *
Dizem que o trabalho enobrece o homem, mas quem já viu alguém que virou nobre por ter trabalhado?
* * *
Criminoso rico não vai preso: foge de carro, enquanto o castigo anda a cavalo.
* * *
Ficou rico,
Subiu na vida!
Mas que ridico!
* * *
Algumas profissões no Brasil precisam ser redefinidas: metalúrgico é quem leva ferro; carpinteiro é o que leva pau; fumageiro é o que leva fumo; barbeiro é o que leva na cabeça e banqueiro é quem banca tudo isso.
* * *
Banqueiros alegres, povo triste!
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Os capitalistas querem sim preservar a natureza… desde que isso lhes dê lucro, claro!
* * *
Num sistema com péssima distribuição de renda, todo pecado é capital.
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Capitalista xucro!
Não vive a vida,
Só pensa no lucro
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Os comentaristas econômicos de rádio, TV, jornais e revistas, em sua grande maioria, não são nada econômicos em elogios ao capital.
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A União Soviética podia ser uma merda para quem morava lá, mas seu fim foi uma merda para os trabalhadores do resto do mundo: temos agora o capitalismo de rédea solta, sem medo de revoluções.
* * *
Há assaltos que são feitos dentro da lei: o imposto de renda descontado nos salários, por exemplo.
* * *
Economista de mão cheia!
Economiza muito
A renda alheia
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Jornais e revistas jornalísticas são muito importantes para denunciar as mutretas que são feitas fora das suas respectivas empresas.
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No Brasil, os velhos ditados devem ser adaptados: aqui, todos os caminhos levam ao brejo.
O QUE DISSERAM:
Truman Capote: “O dinheiro não tem a mínima importância, desde que a gente tenha muito”.
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Vão Gogo (pseudônimo de Millôr Fernandes): “Quando chegar a hora dos humildes herdarem o Reino do Céu, o imposto de renda vai ficar com mais da metade”.
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Millôr Fernandes: “Ser pobre não é crime, mas ajuda muito a chegar lá”.
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Anita Garibaldi: “Bendita pobreza que me liberta”.
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José Américo: “Hoje em dia não se guarda mais na cabeça, só se deve guardar nas algibeiras”.
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Um tio meu, Joãozinho, há muitos e muitos anos, quando foi criticado por andar mal vestido: “O que vale é algibeira empanturrada”.
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Eça de Queiroz: “Onde aparece o ouro, o terrível ouro, imediatamente os homens ao redor se olham com rancor e levam as mãos às facas”.
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Raquel de Queiroz: “O dinheiro é um instrumento de felicidade e grandeza, e tem aquela inimitável capacidade de comprar poder.”
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Steven Spielberg: “Para que pagar um dólar por um marcador de livro? Por que não usar o dólar como marcador de livro?”.
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Friedrich Nietzsche: “Todos vós que amais o trabalho desenfreado, o vosso labor é maldição e desejo de esquecerdes quem sois”.
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Aristóteles Onassis: “A partir de um certo ponto, o dinheiro deixa de ser o objeto. O interessante é o jogo”.
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Dito caipira: “Alegria de roceiro é dinheiro, mulher e bicho de pé, porque, o que adianta dinheiro e mulher se o ‘bicho’ não ficar de pé?”
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Camilo Castello Branco: “O melhor amigo é o dinheiro. Conselhos, os melhores, é o dinheiro que os dá”.
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Marilyn Monroe: “Eu não estou interessada em dinheiro. Só quero ser maravilhosa”.
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De novo, Marilyn Monroe: “Uma atriz não é uma máquina, mas lhe tratam como se fosse uma. Uma máquina de dinheiro”.
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Padre Antônio Vieira: “Muitos são parentes da fortuna, não da pessoa”.
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Voltaire: “Quando se trata de dinheiro, todos têm a mesma religião”.
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Lampião: “Dinheiro eu tenho que só bosta de cabra em chiqueiro velho”.
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Oswaldo Aranha: “O capital, exercendo atuação marginal, é nocivo ao bem estar coletivo e irradia germes inflacionários”.
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Machado de Assis: “Se achares três mil-réis, leva-os à polícia; se achares três contos, leva-os a um banco”.
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Guerra Junqueiro: “No cofre do banqueiro dormem pobrezas metalizadas”.
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Adão Myszak: “O dinheiro é o veículo da vaidade e autor de todas as servidões e desigualdades”.
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William Jennings Bryan: “Ninguém consegue ganhar um milhão de dólares honestamente”.
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Sophia Loren: “Minha vida foi um conto de fadas maravilhoso, uma história de guerra, fome e pobreza”.
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Edwared Estling Cummings: “Eu vivo tão além do meu salário que podemos dizer que vivemos separados”.
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Honoré de Balzac: “Atrás de toda grande fortuna existe algum crime”.
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Carlos Drummond de Andrade: “O cofre do banco contém apenas dinheiro. Frustrar-se-á quem pensar que nele encontrará riqueza”.
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Abraham Lincoln: “Nosso Senhor ama os pobres, por isso fez tantos”.
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Joãosinho Trinta: “O povo gosta de luxo. Quem gosta de miséria é intelectual”.
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Fausto Silva: “Hemorróidas e dinheiro, quem tem não diz”.
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Xiquote: “Quem é maior: Deus ou o dinheiro? Respondem os ingleses que Gold (ouro) tem uma letra a mais do que God (Deus)”.
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Clarice Lispector: “Quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa do que ouro – existe a quem falte o delicado essencial…”.
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Tom Jobim: “O dinheiro não é tudo. Não se esqueça também do ouro, dos diamantes, da platina e das propriedades”.
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Elias Beadle: “Metade do trabalho realizado neste mundo é para fazer as coisas parecerem o que não são”.
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Gino Meneghetti: “Jamais roubei um pobre. Só me interessava tirar dos ricos, e tirar joias, que são bens supérfluos que só servem para alimentar a sua vaidade”.
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Carlos Imperial: “Prefiro ser vaiado no meu Mercury Cougar do que aplaudido num ônibus”.
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Deng Xiaoping: “Pobreza não é socialismo. Ser rico é glorioso”.
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Carlito Maia: “Quando a esquerda começa a contar dinheiro, converte-se em direita”.
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Jean Paul Getty: “Quando não se tem dinheiro, pensa-se sempre nele. Quando se tem, se pensa somente nele”.
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Afrânio Peixoto: “Um idiota pobre é um idiota; um idiota rico é um rico”.
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Herbert de Souza: “A tecnologia moderna é capaz de realizar a produção sem emprego. O diabo é que a economia moderna não consegue inventar o consumo sem salário”.
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Adoniran Barbosa: “Chega de homenagens. Eu quero dinheiro”.
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Marlon Brando: “Tudo o que fazemos está ligado ao dinheiro. Eu sou uma mercadoria e tenho plena consciência disso”.
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Anônimo: “Se o dinheiro fala, o meu sempre diz adeus”
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Delfim Netto: “Ponho meu dinheiro em caderneta de poupança. Para quem não entende de economia, é a melhor coisa. Agora, quem entende tem outros lugares para perder”.
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Bob Hope: “Um banco é um lugar que te empresta dinheiro se conseguires provar que não necessitas dele”.
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Karl Marx: “O aumento dos salários não é nada mais do que o pagamento de salários melhores a escravos, e não conquista pra o operário seu destino e sua dignidade humana”.
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Malcolm Forbes: “Se você tem um emprego sem chateações, você não tem um emprego”.
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Grouxo Marx: “Há tantas coisas na vida mais importantes que o dinheiro! Mas custam tanto!”.
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Schopenhauer: “Dinheiro é como água do mar: quanto mais você toma, maior é sua sede. O mesmo se aplica à fama”.
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Don Herold: “O trabalho é a coisa mais importante do mundo. Por isso, devemos sempre deixar um pouco para o dia seguinte”.
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William Shakespeare: “É estranho que, sem ser forçado, saia alguém em busca de trabalho”.
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George Best: “Gastei muito dinheiro com bebidas, mulheres e carros. O resto eu desperdicei”.
ASSIM DISSE O BARÃO DE ITARARÉ
O dinheiro é a causa de todas as desgraças, quando não se lh’o tem.
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O dinheiro é representado na mitologia pelo Minotauro, o monstro que habitava um labirinto da ilha de Creta e, portanto, era um cretino.
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Banqueiro é um cavalheiro que nos empresta o guarda-chuva quando brilha o sol e no-lo pede de volta quando começa a chover.
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Devo tanto que se chamar alguém de meu bem o banco toma.
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A natureza, que, com a idade, nos põe tanta prata nos cabelos, bem que podia ter a gentileza de nos meter algumas no bolso.
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O avarento não é dono do dinheiro. O dinheiro é dono do avarento.
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O herdeiro universal é um sujeito que come de colher, sozinho, a galinha morta que foi criada, engordada e assada pelos outros.
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Tempo é dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo.
DIZ O DITO POPULAR
Sobre dinheiro não há companheiro,
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Trabalha o feio, pro bonito comer.
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Não há amigo nem irmão, não havendo dinheiro na mão.
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Dinheiro é chave que destranca toda porta.
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Dinheiro muito, fartura de poucos.
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Com dinheiro na mão, em toda parte há função.
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Dinheiro emprestaste, inimigo criaste.
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Com dinheiro, língua e latim, vai-se do mundo até o fim.
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Boa conta, má conta, tudo é conta.
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Dinheiro emprestado parte rindo, e volta chorando.
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Defunto rico, defunto chorado.
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De dinheiro e santidade, metade da metade.
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Esperdício de rico é economia de pobre.
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Pobre com rica casado, mais que marido é criado.
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Dinheiro não tem cheiro.
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Administrar dinheiro é fácil. Difícil é administrar a falta dele.
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Rico em casa de pobre é perdição de galinha.
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Viúva rica, com um olho chora e com outro repinica.
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Viúva rica casada fica.
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O que o dinheiro não fizer neste mundo, nada mais faz.
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Bolsa vazia afugenta amigos.
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Ladrão endinheirado não morre enforcado.
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Lágrimas de herdeiro são sorrisos disfarçados.
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Dinheiro e estrume só presta espalhado.
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Dinheiro não traz felicidade.
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Adaptação: Dinheiro não traz felicidade, manda buscar.
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O dinheiro será teu senhor, se não for teu escravo.
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De janeiro a janeiro, o dinheiro é do banqueiro.
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Neste mundo, só o que se deve dar desgraça é bom dia.
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Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira cinco dedos.
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Em casa de pobre, ao meio-dia mosca faz samba debaixo da panela.
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Pobre só vai pra frente quando tropeça.
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Deus é bom trabalhador, mas gosta que o ajudem.
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Quem sabe de luta, luta. Quem não sabe, labuta.
E PARA TERMINAR:
“Vintém poupado, vintém ganho”, dizem certos ricos que “não abrem a mão nem pra dar bom dia”, ou que “parece que têm escorpião no bolso”.
São geralmente avarentos, agiotas. Muitos sinônimos identificam as pessoas obcecadas por acumular dinheiro. Um cara desses diz que é “econômico” ou “seguro”, mas os outros usam outras palavras. Por exemplo: pão-duro, fominha, filárgiro, munheca, mão de vaca, ridico (corruptela de ridículo), vinagre, casca, socranca, somítico, gaveteiro, sovina, forra-gaitas, muquirana, mofino, usureiro, morrinha, avaro, cobiçoso, unha de fome, miserável, mão fechada, mesquinho, sórdido, munheca de samambaia, sovelão, resmelengo, fuinha, morto de fome, tacanho, sovina, unhaca, tranca, mão-de-vaca…
Lembro-me de um sujeito desses que morava numa pequena cidade do litoral paulista. Na época, existia o hábito de um dia por semana os mendigos irem de porta em porta pedindo esmola. Pulavam a casa dele, porque sabiam que dali não sairia nada.
Um dia, apareceu lá um mendigo de fora, que não sabia da fama do dito cujo. Bateu na porta da casa dele e o sujeito gritou lá de dentro:
― Quem é?
O mendigo falou com voz sofrida:
― Esmola…
A resposta que veio lá de dentro:
― Pode colocar por baixo da porta.
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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996) e Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças.
Millôr Fernandes também disse: “Dinheiro não é tudo; mas tudo é dinheiro”.
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O Barão disse, também: “Quem dá aos pobres, empresta, adeus!”
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