Michael Löwy: a ofensiva do capital financeiro na Grécia

15 02 11 Michael Löwy Grécia[Alexis Tsipras, novo Primeiro Ministro da Grécia, deposita rosas no monumento aos resistentes comunistas fuzilados pelos nazistas em Kesariani, perto de Atenas; Fotografia de Alexandros Beltes, EPA]

Por Michael Löwy.

Pela primeira vez em sua história, a Grécia tem um governo “vermelho” (não rosa-bombom), um governo dirigido pelo Syriza (Synaspismos tis Rizospastikis Aristeras), ou Coligação da Esquerda Radical, uma formação que se originou do Partido Comunista Grego do Interior (eurocomunista), fundado em 1968, mas reúne hoje um amplo leque político, que vai dos trotskistas aos ecologistas de esquerda, além de muitos militantes oriundos dos movimentos sociais, antirracistas, feministas e outros. O primeiro gesto de Alexis Tsipras depois de eleito foi depositar uma rosa – vermelha – no monumento aos resistentes comunistas fuzilados pelos nazistas em Kesariani, perto de Atenas.

Nasce uma grande esperança! Mas o governo da esquerda radical terá mil dificuldades para superar, a começar pela ausência de maioria absoluta (ele precisava de dois deputados mais), pela sabotagem da oligarquia grega, pelas medidas de retaliação do capital financeiro e pela má vontade da Comissão Europeia. Eles serão bem-sucedidos? Isso depende não só dos dirigentes do Syriza, mas principalmente do povo grego, de sua capacidade de se mobilizar para que as promessas sejam cumpridas, sem concessões nem recuos.

A oligarquia capitalista europeia – os Junker, Merkel, Draghi –, com a anuência frouxa dos chamados sociais-democratas – Sigmar Gabriel, François Hollande –, decidiram declarar guerra (financeira) contra o povo grego. O objetivo é estrangular economicamente essa tentativa corajosa de romper com o calamitoso “austericídio” neoliberal. Os eurocratas a serviço do capital financeiro estão decididos a impedir, a todo custo, que essa experiência dê certo. Para eles, é uma questão de demonstrar, de uma vez por todas, que, como dizia Ms. Thatcher, TINA (“There Is No Alternative”). E dane-se que o resultado da operação seja a decomposição da União Europeia e o crescimento inexorável da extrema direita.

* A tradução é de Mariana Echalar, para o Blog da Boitempo.

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Michael Löwy, sociólogo, é nascido no Brasil, formado em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, e vive em Paris desde 1969. Diretor emérito de pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS). Homenageado, em 1994, com a medalha de prata do CNRS em Ciências Sociais, é autor de Walter Benjamin: aviso de incêndio (2005), Lucien Goldmann ou a dialética da totalidade (2009), A teoria da revolução no jovem Marx (2012), A jaula de aço: Max Weber e o marxismo weberiano (2014) e organizador de Revoluções (2009) e Capitalismo como religião (2013), de Walter Benjamin, além de coordenar, junto com Leandro Konder, a coleção Marxismo e literatura da Boitempo. Colabora com o Blog da Boitempo esporadicamente.

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