Humor com humor também se paga
Por Izaías Almada.
Não poderia haver melhor demonstração de cinismo e hipocrisia nas delicadas relações entre as nações do que aquela que se passou há poucos dias nas ruas de Paris: milhões de franceses reunidos com personalidades internacionais, de braços dados, a marcharem contra o terrorismo e em defesa da liberdade de expressão.
Entre as tais personalidades, para além de grandes fabricantes e compradores de armas, uma chamou a atenção em especial, pelo deboche da sua presença: a do primeiro ministro israelense Benjamin Netanyhau, responsável direto pelo massacre de milhares de palestinos em 2014. E não bastasse essa pantomima, menos de uma semana da badalada manifestação um comediante frances é preso por fazer humor contra os judeus. Assim como é de domínio público que o grande Siné foi mandado pra rua no Charlie por ter feito uma gozação com os judeus e o filho do Sarkozy.
Pois bem: aqui na brasilandia, que se arrepia sentimentalmente por qualquer “dá lá aquela palha”, defensores da liberdade de imprensa e de opinião “a qualquer preço” apareceram aos magotes. A maioria deles, tudo indica, tomados pela violência de um atentado estúpido, irracional, mas sem se dar conta dos antecedentes históricos que levaram até ele.
Existem ideias que podem ser tão mortíferas quanto uma AK-47, principalmente quando espalhadas para disseminar o preconceito, o ódio, a violência.
Espero não estar ofendendo ninguém, mas humor com humor também se paga. Os photoshops são de autoria do designer André Almada.
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Confira o especial Charlie Hebdo, no Blog da Boitempo, com reflexões, vídeos e artigos de Slavoj Žižek, Michael Löwy, João Alexandre Peschanski, Gilberto Maringoni, Osvaldo Coggiola, Tariq Ali, Ruy Braga, Vladimir Safatle, entre outros. Veja aqui.
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Izaías Almada, mineiro de Belo Horizonte, escritor, dramaturgo e roteirista, é autor de Teatro de Arena (Coleção Pauliceia da Boitempo) e dos romances A metade arrancada de mim, O medo por trás das janelas e Florão da América. Publicou ainda dois livros de contos, Memórias emotivas e O vidente da Rua 46. Como ator, trabalhou no Teatro de Arena entre 1965 e 1968. Colabora para o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quintas-feiras.
Até que enfim algo engraçado de um outro ponto de vista. Já estava entupida de tanta reflexão séria ( embora necessária).
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Eaderwrdzc é ter
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Há uma crítica pós-moderna inflacionando as mídias [porque relativista e inconsequente] da qual cito aqui um trecho do artigo de Izaías Almada: “Existem ideias que podem ser tão mortíferas quanto uma AK-47, principalmente quando espalhadas para disseminar o preconceito, o ódio, a violência”. AK-47 e ideias. Analogia perigosa. Analogia impossível. A ideia escapa à liberdade quando exatamente transforma-se em arma [força bruta] que suspende toda a argumentação em benefício do terror. Foi o que aconteceu contra Charlie Hebdo. Há explicação para a violência? Sim. Contudo, nada justifica aquela ação bruta contra seres humanos desarmados. Comparar AK-47 com ideias é obsceno, assim como imaginar que charge pode produzir terror [violência] equivalente ao corpo dilacerado pela brutalidade destas máquinas modernas de destruição de alto valor de mercado [senhor das armas].
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será que não é ofensivo para os bichos serem equiparados à nossa humanidade?
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Republicou isso em xykosanto.
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Há uma crítica pós-moderna inflacionando as mídias [porque relativista e inconsequente] da qual cito aqui um trecho do artigo de Izaías Almada: “Existem ideias que podem ser tão mortíferas quanto uma AK-47, principalmente quando espalhadas para disseminar o preconceito, o ódio, a violência”. AK-47 e ideias. Analogia perigosa. Analogia impossível. A ideia escapa à liberdade quando exatamente transforma-se em arma [força bruta] que suspende toda a argumentação em benefício do terror. Foi o que aconteceu contra Charlie Hebdo. Há explicação para a violência? Sim. Contudo, nada justifica aquela ação bruta contra seres humanos desarmados. Comparar AK-47 com ideias é obsceno, assim como imaginar que charge pode produzir terror [violência] equivalente ao corpo dilacerado pela brutalidade destas máquinas modernas de destruição de alto valor de mercado [senhor das armas].
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Não só o Siné foi mandado embora por expressão contrária à doxa “charlienne”, mas Mona Chollet, hoje editora chefe do Le Monde Diplomatique, ao criticar, em reunião interna da revista CH, o editorialista Philippe Val, que chamara, em editorial, os palestinos de incivilizados – ver a respeito https://lmsi.net/L-opinion-du-Patron.
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Não poderia haver melhor demonstração de cinismo e hipocrisia do que o bem-pensante autor sair em defesa da extrema direita francesa, apoiado no seu discurso de odio aos judeus. Afinal o “comediante” Dieudonne foi preso por apologia ao terrorismo ao homenagear o assassino de civis judeus e policiais. Que a esquerda brasileiea venha a defender a estrela dos neo-naziztas franceses, isso sim e’ ironia!!!
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Liz, muito bem colocado, também notei um tom especialmente ácido para com “os judeus” (sic), quem seriam não faço ideia. Me pergunto também se a crítica ao “cinismo e hipocrisia nas delicadas relações entre as nações” do autor tupiniquim, que aparentemente dedicou este post ao ódio antissemita ao escolher citar apenas o único líder judeu presente na demonstração em Paris entre tantos outros crápulas internacionais e cita ainda dois casos não-relacionado com os acontecimentos do atentado em Paris apenas para “alfinetar” os Sábios de Sião, também não incorre nas tradicionais manifestações de ódio contra minorias estigmatizadas que ele busca criticar. Com certeza uma ideia pode ser mais mortífera do que uma AK-47, ainda mais quando disfarçada de crítica humanista. Afinal, quem seriam “os judeus”, Izaías?
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Muito mistura de alhos com bugalhos, Sra. Para coroar, o fato de a Sra. ignorar que neonazistas na Europa de hoje perseguem majoritariamente a diáspora árabe. Aliás, a política islamofóbica em si é neonazista.
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Geraldo Pontes, aqui na Franca o Front Nacional ( maior partido da extrema direita na Europa) ataca igualmente judeus e arabes. Por outro lado, voce e o Izaias parecem se apoiar em surradas fantasias conspiratorias anti-semitas como “antecedentes historicos” para explicar os atentados. Assim como nao se pode “estar ligeiramente gravida”, nao existe liberdade de expressao spmente para os “bem-pensantes”. Por isso somos todos Charlie (ou nao deviamos ter ido `a ruas?).
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Fazer humor já algum tempo tem se tornado algo difícil
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