Cultura inútil: Poder, política e corrupção
Por Mouzar Benedito.
Antes de colocar as frases que selecionei sobre esses temas que mais parecem um só, umas considerações…
O Lula de outros tempos certa vez falou que tinha 300 picaretas no Congresso, e houve quem chiasse. Só 300?, perguntei na época e pergunto de novo hoje. E só no Congresso? Poder (seja executivo, legislativo ou judiciário – e também em empresas, órgãos empresariais e mesmo em organizações sindicais), política e corrupção são cartas do mesmo baralho.
Não vale o costume de achar que corruptos são os outros, que há corruptos sem corruptores. Empresários e dirigentes de empresas fingem que não têm nada com isso, mas não têm? Quem dá dinheiro para os corruptos, e por quê?
Voltando ao Congresso e à política em geral, a festa continua, agora mais exposta, mais explícita, segundo alguns porque passou a haver apuração dos fatos. Se fossem 300 picaretas no Congresso, que tem quase 600 parlamentares entre deputados e senadores, sobrariam quase 300 não picaretas. Onde estão? Duvido que alguém consiga listar 50, somando todos de todos os partidos. E entre os mais de mil deputados estaduais? E os vereadores? Isso sem contar governadores, prefeitos, ministros, secretários… Mas nem por isso, digo que “todos” os políticos são a mesma coisa. Há políticos (poucos) sinceramente comprometidos com o país e/ou com as causas populares. Vivam eles!
E não venham dizer que isso é coisa do Brasil ou dos tempos atuais. É um fenômeno mundial e pra lá de milenar.
Henry Kissinger, alemão que foi ministro das Relações Exteriores dos Estados Unidos nos anos 1970, político não melhor que os outros, mas conhecedor de seu meio, disse certa vez: “Noventa por cento dos políticos dão aos 10% restantes uma péssima reputação”.
No Brasil, desde que aqui chegou a política (trazida pelos europeus, índio não fazia política, pelo menos como a conhecemos), a coisa sempre foi sinônimo de sujeira, mutretas e muito mais. Algumas exceções foram trágicas. Roberto Saturnino (então no PDT), que tentou governar o Rio de Janeiro sem fazer concessões à corrupção e sem se submeter aos corruptos, não conseguiu fazer nada no governo, foi minado por todos os lado e terminou seu mandato como um dos piores governos já havidos lá. Sobre ele, disse Millôr Fernandes algo como “o governo Saturnino Braga representa a falência da honestidade”.
Isso faz lembrar o que disse Otto Lara Resende: “Política é a arte de enfiar a mão na merda. Os delicados (vide Milton Campos) pedem desculpas, têm dor de cabeça e se retiram”.
Bom, com todo o respeito aos que se salvam (repito: no Legislativo, no Executivo e no Judiciário), listei um monte de coisas que disseram sobre poder, política e corrupção, segundo os mais variados personagens, mas optando pelos pensamentos mais cruéis em relação aos políticos, pois os demais são exceções. Para isso, eu me vali de anotações antigas, livros e consultas à internet.
Mas para não ficar no que “os outros” disseram, começo por algumas coisas que escrevi, parte delas publicadas em alguns lugares por aí. Lembro, no entanto, que esses meus escritos não são só dos tempos atuais. Alguns são “antigos”, lá dos anos 1990.
Aí vão versos (imitando haicais) da minha lavra, seguidos de frases também minhas, antes de entrar nas de gente mais sábia:
O poder do poder:
Com ele, a ética
Torna-se patética
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Poderoso de comício
É secretamente
Napoleão de hospício
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A poder de chumbo
Governos bregas
Revelam-se chumbregas
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Em nome da boa
Governança
A ética dança
* * *
Tem político que se diz “verde”
Mas não olha no espelho
Pra não ficar vermelho
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Com chave do cofre
O corrupto comanda
O conchavo
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Ofensa ao corrupto:
Foi investigado
De modo abrupto
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CPI radical:
Quem se deu bem
Julga quem se deu mal
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“Ele de novo!”
Reclamam do político
Que fala em povo
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Corrupção tucana?
Quem liga pra isso?
Acham até bacana!
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Constituição…
Que gênero mais chato
De ficção!
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Poder e pudor muito raramente se encontram na mesma pessoa.
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O que falta aos governos brasileiros não é caráter, isso eles têm até demais. Só que péssimo.
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Em flagrantes de corrupção, quem é vivo nunca aparece.
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Diz o ditado patronal que manda quem pode, obedece quem tem juízo. Poder pra mandar eu não tenho, mas juízo pra obedecer tenho muito menos.
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O governo faz um jogo especial nas relações com os credores. Jogo de bunda!
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Partidos brasileiros são muito interessantes. O PT está partido; o PSDB, fica no muro, não toma partido; o PMDB tira partido de tudo quanto é situação e qualquer governo, e o PFL (que se alcunhou Democratas) sempre toma o partido que o PSDB mandar.
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Não confunda quituteira com empresário mutreteiro: ela trabalha com massa podre, ele com massa falida.
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Os governos dançam conforme a música: se é samba, eles dançam rock; se é valsa, eles dançam tango; se é tango, eles dançam bolero…
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Para quem tem tesão por mandar, o poder é mais phoder.
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Para Washington Luís, governar era abrir estradas. Para Mário Covas, era colocar pedágio nelas.
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As CPIs são exemplares na punição da corrupção. Nelas, os parlamentares pegos com a mão na massa são interrogados e julgados pelos que não foram pegos.
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Quem nasceu pra ladrão pé-de-chinelo nunca chega a corrupto.
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Corrupção no Brasil é assim: quem tem costas quente, mete o peito.
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Entre um corrupto manjado e um futuro corrupto, não vote em ninguém!
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Se tudo que vicia é droga, o poder não deveria ser proibido?
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Com o perdão das prostitutas, que não têm nada com isso, com quantos filhos da puta se faz um governo?
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Que diferença tem entre um ladrão que rouba pobre e um governo que cobra imposto de renda de assalariado?
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Na Itália, o governo sempre governa com as massas?
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No seio do governo… só tem mamata?
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Agora, frases de gente famosa ou do povo:
Charles de Gaulle: “Como nenhum político acredita no que diz, fica sempre surpreso ao ver que os outros acreditam nele”.
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Nikita Krushev: “Os políticos são iguais em todas as partes. Prometem construir uma ponte inclusive onde não há rio”.
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Padre Antônio Vieira: “Reis e belicosos; reis e políticos; reis e deliciosos, quantos quiserdes, mas reis e santos, muito poucos”.
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Hubert Humphrey: “Errar é humano. Culpar outra pessoa é política”.
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Mário Amato (ex-presidente da Fiesp): “Todos somos corruptos. Ninguém pode atirar a primeira pedra”.
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Marquês de Maricá: “A vitória de uma facção política é ordinariamente o princípio da sua decadência pelos abusos que a acompanham”.
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Karl Liebknecht: “A lei básica do capitalismo é tu ou eu, não tu e eu”.
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Roscommon: “A multidão nunca tem razão”.
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O povo (ditado popular): “Bem dissimular para bem governar”.
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Medeiros de Albuquerque: “Mesmo os governos mais retrógrados e nefastos não têm impedido o progresso de certas nações”;
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Maquiavel: “O primeiro método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os homens que tem à sua volta”.
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Albert Einstein: “O meu ideal político é a democracia, para que todo homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado”.
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Nelson Rodrigues: “Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos”.
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José Justo: “A república é no Brasil uma monarquia que se renova de quatro em quatro anos”.
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Hegel: “Povo é a parte da nação que não sabe o que quer”.
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Giambattista Vico: “No início, a natureza dos povos é cruel, depois torna-se severa, em seguida, benevolente; mais tarde, delicada, e finalmente, corrupta”.
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Gustave Lê Bom: “Dominam-se mais facilmente os povos excitando as suas paixões do que cuidando dos seus interesses”.
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O povo (ditado popular) Governo, pra ser bom, é preciso haver passado.
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John Quinton: “Políticos são pessoas que, quando vêem luzes no fim do túnel, vão e compram ainda mais túnel”.
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Ronald Reagan: “Eu achava que a política era a segunda profissão mais antiga. Hoje vejo que ela se parece muito com a primeira”.
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Oswaldo Aranha: “O Império foi a hipocrisia organizada, e a República a falsidade oficial”.
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Mao Tse-tung: “A política é uma guerra sem derramamento de sangue, e a guerra uma política com derramamento de sangue”.
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Henri Montherlant: “A política é a arte de captar em proveito próprio a paixão dos outros”.
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Goethe: “Todo aquele que aspira o poder já vendeu sua alma ao diabo”.
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Joseph Jouber: “Em política, sempre é preciso deixar um osso para a oposição roer”.
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Paul Valéry: “A política foi primeiro a arte de impedir as pessoas de se intrometerem naquilo que lhes diz respeito. Em época posterior, acrescentaram-lhe a arte de forçar as pessoas a decidir sobre o que não entendem”.
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Assis Chateaubriand: “Para manobrar seguro em política, é indispensável organizar entreveros de amigos e inimigos”.
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Philip Chesterfield: “Os políticos não conhecem nem o ódio, nem o amor. São conduzidos pelo interesse e não pelo sentimento”.
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Abraham Lincoln: “Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”.
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Júlio Dantas: “Nunca é prudente ajuizar da mentalidade dos homens pela impressão que eles nos dão na política – enganamo-nos sempre”.
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Sigmund Freud: “O estado proíbe ao indivíduo a prática de atos infratores, não porque deseje aboli-los, mas sim porque quer monopolizá-los”.
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Voltaire: “O melhor governo é aquele em que há o menor número de homens inúteis”.
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Max Weber: “Neutro é quem já se decidiu pelo mais forte”.
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François Mitterrand: “Os franceses fazem greve nas segundas-feiras porque o pão subiu, nas terças se manifestam porque ganham pouco; nas quartas protestam por falta de liberdades… E no domingo votam na direita”.
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Anônimo: “Ajude seu candidato a trabalhar. Não vote nele”.
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Demetrio Pianelli: “A paciência dos povos é a manjedoura dos tiranos”.
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Esopo: “Nós enforcamos os ladrõezinhos e indicamos os grandes ladrões para cargos públicos”.
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Machado de Assis: “A corrupção escondida vale tanto como a pública: a diferença é que não fede”.
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Luis de Saint-Just: “Todas as artes têm produzido obras admiráveis; a arte de governar só tem produzido monstrengos”.
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O povo (ditado popular): “Quem não sabe fingir não sabe governar”.
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Stanislaw Ponte Preta: “A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento”.
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Nietzsche: “Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos”.
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Anthony Éden: “A corrupção nunca foi compulsória”.
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Fray Antonio de Guevara: “Ao homem que faz tudo o que pode não podemos dizer que não faça tudo o que deve”.
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Platão: “O castigo dos bons que não fazem política é ser governados pelos maus”.
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Eça de Queiroz: “Os políticos e a as fraldas são semelhantes, possuem o mesmo conteúdo”.
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Millôr Fernandes: “A diferença entre a galinha e o político é que o político cacareja e não bota o ovo”.
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Leonel Brizola: “Estou pensando em criar um vergonhódromo para políticos sem-vergonha, que ao verem a chance de chegar ao poder esquecem os compromissos com o povo”.
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Doug Larson: “Em vez de dar a um político as chaves da cidade, seria melhor trocar as fechaduras”.
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Ambroise Bierce: “A política é a condução dos negócios públicos para proveito dos particulares”.
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George Santayanna: “Há três tipos de governo: o que faz acontecer, o que assiste o que acontece e o que nem sabe o que acontece”.
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O povo (ditado popular) “Não roube! O governo não gosta de concorrência.
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Honoré de Balzac: “Governar demasiadamente é o maior perigo dos governos”.
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Denis Diderot: “Cuidado com o homem que fala em pôr as coisas em ordem. Pôr as coisas em ordem sempre significa pôr as coisas sob seu controle”.
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Jean Paulhan: “Tudo o que peço aos políticos é que se contentem em mudar o mundo sem começar por mudar a verdade”.
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Benjamin Disraeli: “Em política, nada é desprezível”.
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Woody Allen: “O político de carreira é aquele que faz de cada solução um problema”.
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David Zac: “Num estado democrático existem duas classes de políticos: os suspeitos de corrupção e os corruptos”.
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José Saramago: “Os políticos são a mentira legitimada pela vontade do povo”.
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Antonio Gala: “O poder é como a nogueira: não deixa crescer nada debaixo de sua sombra”.
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Jonathan Swift: “O poder arbitrário constitui uma tentação natural para um príncipe, como o vinho e as mulheres para um homem jovem, ou o suborno para um juiz, ou a avareza para o velho, ou a vaidade para a mulher”,
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O povo (ditado popular): “Queres conhecer o Inácio? Coloca-o no palácio”.
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Guerra Junqueiro: “O povo, coitado, é soberano como fora Jesus para beber o fel, para morrer na cruz, para pagar impostos, para morrer na guerra”.
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George Orwell: “O poder não é um meio, mas um fim em si mesmo”.
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Ezra Pound: “Governar é a arte de criar problemas com cuja solução manter a população em suspense”.
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Alfonso Guerra: “Os personagens universais, perfeitamente conscientes de sua inutilidade, são necessários para acalmar a consciência coletiva”.
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Anônimo: “Todo homem tem seu preço. E tem um monte que está em promoção!”.
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Sérgio Motta: “Com alguns deputados, só conversando na sauna, e pelado”.
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Mahatma Gandhi: “Olho por olho, e o mundo acabará cego”.
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Alberto Moravia: “Uma ditadura é um estado em que todos temem um e um teme todos”.
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Xiquote (pseudônimo de Bastos Tigre, comentando as discussões sobre a instituição do voto feminino): “Quando as mulheres tiverem direito ao voto, transformarão todas as eleições em concurso de beleza e elegância”.
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Winston Churchill: “Só me fio nas estatísticas que manipulei”.
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Millôr Fernandes: “Brasil, país do faturo”.
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Provérbio italiano: “Dinheiro público é como água benta: todos põem a mão”.
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Bertolt Brecht: “Alguns juízes são absolutamente incorruptíveis. Ninguém consegue induzi-los a fazer justiça”.
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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996) e Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças.
Será que toda essa sujeira não acaba porque faz parte do cotidiano histórico e apesar de não acharmos certo convivemos “bem” com isso?
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Complicado essa situação, quando falamos em politica
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