Lançamento Barricada: CLAUN, a saga dos bate-bolas, de Felipe Bragança

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O Barricada acaba de lançar o quadrinho Claun: a saga dos bate-bolas, criado por Felipe Bragança, e com arte de Daniel Sake, Diego Sanchez e Gustavo M. Bragança. Retrabalhando a história e a tradição dos “bate-bolas” cariocas, o livro recupera a estética carnavalesca moldada na resistência aos processos limpeza social no Rio de Janeiro dos anos 20 para criar um universo mitológico que ecoa as sensibilidades das atuais explosões de rua. Confira aqui alguns trechos exclusivos do quadrinho. Leia, abaixo, a apresentação do livro, assinada por Felipe Bragança.

Clóvis e bate-bolas?

Este livro é um conjunto de fábulas urbanas cariocas. Como todas as ações do projeto transmídia CLAUN, sua proposta é situar-se como crônica do Rio de Janeiro e investigação sobre a mitologia da cidade através da tradição dos grupos de clóvis e bate-bolas que tomam as ruas no carnaval – chegando aos milhares de foliões.

Mas quem são esses grupos na vida cotidiana da cidade? Qual sua origem?

Seu surgimento é difuso e data do começo do século XX. As explicações mais correntes estão ligadas a dois polos centrais para a urbanização carioca e a composição cultural da cidade: o porto e os subúrbios cortados pelas linhas do trem.

De um caldo que juntava, na região portuária do Rio, a cultura negra dos ex-escravos e a portuguesa da pequena burguesia de comerciantes, assim como as influências diversas dos marujos europeus que circulavam nas ruas da Gamboa, do Santo Cristo e do Caju, surgiu a fusão estética e ritualística dos clóvis cariocas.

“Clóvis”, diz lenda, seria uma corruptela da palavra clown, escutada da boca dos marujos alemães, que trouxeram para a cidade a tradição das máscaras do carnaval de Colônia. A pronúncia em alemão de clown – próxima da fonética “claven” – teria se desdobrado na invenção desse apelido abrasileirado para as fantasias carnavalescas, caracterizadas pela representação de palhaços românticos e silenciosos, que ocupavam os salões das festas da elite e por vezes eram vistos no carnaval de rua no centro do Rio nas primeiras décadas do século XX.

À estética do palhaço misterioso, sedutor e silencioso se somava outra tradição europeia: os caretos, de Portugal. Até hoje, grupos de jovens saem às ruas dos vilarejos portugueses entre o Natal e o carnaval, promovendo farra e brincadeira em dias em que as identidades são esquecidas e eles encarnam os espíritos da algazarra.

Esse encontro entre a sedução do clown alemão e a algazarra do careto português seria a origem da estética dos nossos clóvis – a qual seria complementada pelas tradições das religiões afro-brasileiras que traziam à baila a ideia de incorporação, de transformação da identidade no momento ritualístico de celebração da divindade.

Estava pronto o caldo! A mistura! Mais do que uma fantasia, essas figuras, de rostos cobertos, misteriosos, usando roupas de tecido colorido, aos poucos foram sendo absorvidas pelo carnaval de rua popular, fundindo e emulando diferentes tipos de máscaras e rituais de encenação do caos e da desobediência – e sendo perseguidas como baderneiras, assim como os capoeiras e os sambistas de então.

Com a grande reforma urbana e a consequente limpeza social e étnica pela qual a cidade do Rio de Janeiro passou na década de 1920 (a “modernização”), manifestações populares de resistência cultural como a capoeira, o samba e as religiões de origem africana foram reprimidas, controladas e violentamente cerceadas nas zonas centrais da cidade.

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Ao invés de desaparecerem, porém, esses grupos se exilaram nos bairros mas distantes do controle central, cresceram e se multiplicaram ao longo da linha do trem que corta o subúrbio – sempre com a pulsão de absorver em suas roupas, máscaras e fantasias os signos dos tempos e os ares da cidade.

Dos pequenos grupos de foliões que chamavam a atenção nas ruas do Rio de Janeiro de 1920 aos dias de hoje, a cultura dos clóvis (também chamados de “bate-bolas”, por usarem bexigas de boi ou de plástico para fazer barulho) se expandiu e desenvolveu – somando hoje cerca de 400 grupos, que podem ter de 10 a 200 integrantes cada um e se espalham especialmente pelas zonas Norte e Oeste da cidade, usando roupas, máscaras e acessórios que a cada ano agregam novas variantes.

O Projeto CLAUN, em suas diferentes expressões – das telas da internet e da TV até este livro – é um conjunto de fábulas de aventura que investiga o imaginário desses grupos, suas lutas históricas, suas mitologias, suas brincadeiras e seus mistérios no Rio de Janeiro de ontem… e de hoje.

Felipe Bragança

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Confira os eventos de lançamento aqui.

Websérie CLAUN completa online

A primeira fase do projeto transmídia CLAUN é a websérie: Claun – Os dias aventurosos de Ayana. Dirigida por Felipe Bragança, a série é dividida em três episódios: “A menina sem medo”, “O rosto do inimigo” e “A reunião das máscaras”. Todos os episódios estão disponíveis no site da Boitempo aqui.

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