Lançamento Boitempo: “Cânone gráfico”
Chega às livrarias um dos mais aguardados livros de estréia do selo Barricada de quadrinhos da Boitempo: Cânone gráfico, a fantástica antologia da literatura universal em quadrinhos. O livro reúne alguns dos maiores nomes da arte gráfica, como Robert Crumb, Will Eisner, traz releituras de clássicos como A divina comédia, de Dante Alighieri, Sonhos de uma noite de verão, de William Shakespeare, e As viagens de Gulliver, de Jonathan Swift. Organizada pelo escritor Russ Kick e lançada originalmente nos Estados Unidos em 2012, a obra se consagrou como uma bíblia para aqueles que se interessam por quadrinhos.
Leia abaixo a introdução, assinada pelo organizador, Russ Kick
Estamos vivendo uma época de ouro do romance gráfico, da arte dos quadrinhos e da ilustração em geral. Legiões de artistas talentosos – que empregam todos os métodos, estilos e abordagens imagináveis – estão criando tamanho dilúvio de obras incríveis, brilhantes, divertidas e inovadoras que é praticamente impossível nos manter atualizados. E se um grupo de artistas usasse como material o melhor da literatura de todos os tempos?
Essa pergunta me ocorreu anos atrás, na seção de romances gráficos de uma livraria. Especificamente, diante de uma versão ilustrada de O processo, de Franz Kafka (adaptado por Mairowitz e Montellier). Esse foi o ponto crucial. Percebi a enorme quantidade de adaptações ilustradas da literatura que havia sido publicada nos últimos anos. Meu instinto de antologista se aguçou. Eu precisava reunir o melhor do que já havia sido feito, encomendar novas adaptações e pôr tudo aquilo num lugar só. A ideia parecia óbvia, mas ninguém a tivera ainda: criar um livro da espessura de um tijolo que abrangesse séculos, países, línguas e gêneros. E incluísse romances, contos, poemas, peças, autobiografias, discursos e cartas, obras científicas, filosóficas e religiosas.
Encontrei rapidamente uma editora que compartilhava minha visão – a Seven Stories Press – e iniciou-se a cuidadosa gestação do Cânone gráfico. E logo eram trigêmeos. Havia muito material bom para comprimir em um único volume, mesmo que encorpado, e então ele foi dividido em três. Gilgamesh abre o primeiro volume, e A piada infinita, de David Foster Wallace, fecha o terceiro. Entre os dois, quase todas as grandes obras da literatura ocidental foram contempladas, mas isso é apenas o começo. À medida que eu contatava mais artistas, o número de obras crescia. Literatura do cânone oriental – Japão, China, Índia, Tibete. Literatura religiosa/espiritual. Filosofia. Material pornográfico. Dramas da Grécia Antiga. Escritos medievais. Romantismo. Modernismo e pós-modernismo. Os Beats. Obras de povos indígenas. Contos de fadas. Visões místicas. Cândido. Poemas de Emily Dickinson. O consumidor de haxixe. Uma rara história de juventude de Hemingway. Um estranho no ninho. E ainda há mais: são 190 obras ao todo, as primeiras 55 (que nos levam até o fim do século XVIII) neste primeiro volume.
Do mesmo modo, a variedade de artistas impressiona. Cartunistas lendários – como Robert Crumb, Will Eisner, Sharon Rudahl, S. Clay Wilson, Roberta Gregory e Kim Deitch – já estavam participando do projeto e outros grandes nomes se juntaram a ele. Artistas que já trabalharam pela Marvel e DC subiram a bordo. As estrelas dos quadrinhos alternativos, minicomics e webcomics disseram sim. Recrutei principiantes incrivelmente talentosos. Artistas do Brasil, Itália, Bélgica, Suécia, Coreia do Sul, Reino Unido e Canadá se juntaram a seus colegas norte-americanos. E não só quadrinistas… Recebi trabalhos extraordinários de ilustradores, pintores, serigrafistas, um artista que trabalha com colagem, um designer gráfico radical e dois artistas que criam fotodioramas.
Pedi aos artistas que fossem fiéis ao material original – não ambientando a história no futuro, não criando novas aventuras para os personagens etc. As obras mais longas, é claro, seriam apresentadas por excertos ou resumos. Mas, afora isso, eles tiveram carta-branca. Puderam utilizar qualquer abordagem, qualquer meio, qualquer estilo. Eu não queria uma transcrição elaborada e literal da obra original. As adaptações são verdadeiras colaborações entre os escritores/poetas originais e os artistas.
Cada peça vale por si, mas juntas formam um vasto caleidoscópio de arte e literatura. Um arco-íris de abordagens visuais foi aplicado ao tesouro dos grandes escritos do mundo, e algo maravilhosamente novo ganhou forma.
E esse é o ponto principal do Cânone gráfico. Ele pode ser encarado como um instrumento educacional, e espero que seja usado dessa maneira. Pode-se dizer que ele levará as pessoas a ler as obras originais da literatura; isso me deixará muito feliz. Mas, no fundo, esta antologia titânica, em três volumes, é uma obra artística e literária independente, um fim em si.
Russ Kick
Crítica sobre o livro
“Adaptações literárias para os quadrinhos costumam sofrer da preocupação demasiada em ater-se à literatura que lhes serve de fonte. Cânone gráfico vai pela rota mais sensata: as histórias que reúne são primeiro quadrinhos – e ótimos quadrinhos –, depois adaptações. Independente da fidelidade ou infidelidade a cada palavrinha do original, elas respeitam o que perdura entre nós há séculos: boas histórias.”
– Érico Assis
“Como boa parte das grandes ideias, a do editor americano Russ Kick era simples (e trabalhosa): convidar algumas dezenas dos maiores artistas gráficos contemporâneos para interpretarem, só com ilustrações, cenas de clássicos da literatura universal. Funcionou.”
– Cassiano Elek Machado
“Essas obras da literatura não residem apenas nas prateleiras da academia; florescem nas asas da nossa imaginação.”
– Annie Weatherwax, New York Times
Olá,
bom saber que grandes mestres das graphic novels estão em um exemplar que tem a minha admiração, porque sou desenhista [https://bit.ly/XF4fEt] e aprendi muito lendo e vendo quadrinhos como Asterix e Obelix, Justiceiro, e Will Eisner…
Achei ótimo este artigo, indicado por minha amiga Beth Muniz [https://bit.ly/1s9HMH0].
Daqui sigo compartilhando seu post no meu Twitter…
Até mais…
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