26 de outubro: É a hora…

14.10.22_Fl[avio Aguiar_Agora [e horaPor Flávio Aguiar.

Tem vários “É a hora” na minha vida.

Minha avó tinha um ditado, para quando as coisas ficavam feias para a gente pobre: “esta é a hora em que o patrão ri e o peão chora”.

Depois tem a do Fernando Pessoa: “Portugal, hoje és nevoeiro. É a hora”, ao final da Mensagem. (Estou citando de memória, não garanto o 100% de fidelidade).

Meu amigo Cardoso Pires, infelizmente já partido para os eternos campos de caça, contando do sargento que lhe entrou casa a dentro no 25 de abril de 1974, em Lisboa: “Camarada, chegou a hora!”.

E assim por diante.

E o diante tem o 26 de outubro por diante.

Não adianta fechar os olhos com a venda (aliás o termo é bom) do voto nulo, do voto em branco, da abstenção. As escolhas são cristalinas. Vou dar alguns exemplos.

Trata-se de escolher entre mais médicos ou menos médicos para a população.

Melhores salários ou menores.

Mais empregos ou menos.

Mais especulação ou menos. (Não adianta dizer que a especulação vai continuar. Que me atire a primeira pedra quem me aponte um lugar no mundo onde não haja especulação em algum grau, incluindo a ínclita Cuba e a opaca Coreia do Norte). China, Rússia e Moldávia não valem. Talvez o único lugar sem especulação hoje seja a valorosa Kobani, resistindo aos proto-fascistas do ISIS, contra tudo e contra todos.

Mais abastecimento ou mais carestia.

Mais soberania ou mais subserviência.

Mais Sul ou mais Norte.

Mais América Latina ou a Alca de volta.

Mais Mercosul ou mais Aliança do Pacífico.

Mais aeroporto = rodoviária ou mais aeroporto = spa só para rico e abonado.

Mais futuro ou mais passado (do ruim).

Mais direitos ou mais privilégios.

Mais República ou mais oligarquia.

Mais luta contra a homofobia ou menos.

E por aí se vai.

Agora, se a companheira ou o companheiro preferir o silêncio obsequioso consentido… Vá lá e vote nulo. Ou branco. Ou não compareça. Ou melhor ainda, vote logo no Aécio e peça pra entrar no camarote do Itaú no Itaquerão.

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Flávio Aguiar nasceu em Porto Alegre (RS), em 1947, e reside atualmente na Alemanha, onde atua como correspondente para publicações brasileiras. Pesquisador e professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, tem mais de trinta livros de crítica literária, ficção e poesia publicados. Ganhou por três vezes o prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, sendo um deles com o romance Anita (1999), publicado pela Boitempo Editorial. Também pela Boitempo, publicou a coletânea de textos que tematizam a escola e o aprendizado, A escola e a letra (2009), finalista do Prêmio Jabuti, Crônicas do mundo ao revés (2011) e o recente lançamento A Bíblia segundo Beliel. Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quintas-feiras.

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