26 de outubro: É a hora…
Por Flávio Aguiar.
Tem vários “É a hora” na minha vida.
Minha avó tinha um ditado, para quando as coisas ficavam feias para a gente pobre: “esta é a hora em que o patrão ri e o peão chora”.
Depois tem a do Fernando Pessoa: “Portugal, hoje és nevoeiro. É a hora”, ao final da Mensagem. (Estou citando de memória, não garanto o 100% de fidelidade).
Meu amigo Cardoso Pires, infelizmente já partido para os eternos campos de caça, contando do sargento que lhe entrou casa a dentro no 25 de abril de 1974, em Lisboa: “Camarada, chegou a hora!”.
E assim por diante.
E o diante tem o 26 de outubro por diante.
Não adianta fechar os olhos com a venda (aliás o termo é bom) do voto nulo, do voto em branco, da abstenção. As escolhas são cristalinas. Vou dar alguns exemplos.
Trata-se de escolher entre mais médicos ou menos médicos para a população.
Melhores salários ou menores.
Mais empregos ou menos.
Mais especulação ou menos. (Não adianta dizer que a especulação vai continuar. Que me atire a primeira pedra quem me aponte um lugar no mundo onde não haja especulação em algum grau, incluindo a ínclita Cuba e a opaca Coreia do Norte). China, Rússia e Moldávia não valem. Talvez o único lugar sem especulação hoje seja a valorosa Kobani, resistindo aos proto-fascistas do ISIS, contra tudo e contra todos.
Mais abastecimento ou mais carestia.
Mais soberania ou mais subserviência.
Mais Sul ou mais Norte.
Mais América Latina ou a Alca de volta.
Mais Mercosul ou mais Aliança do Pacífico.
Mais aeroporto = rodoviária ou mais aeroporto = spa só para rico e abonado.
Mais futuro ou mais passado (do ruim).
Mais direitos ou mais privilégios.
Mais República ou mais oligarquia.
Mais luta contra a homofobia ou menos.
E por aí se vai.
Agora, se a companheira ou o companheiro preferir o silêncio obsequioso consentido… Vá lá e vote nulo. Ou branco. Ou não compareça. Ou melhor ainda, vote logo no Aécio e peça pra entrar no camarote do Itaú no Itaquerão.
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Especial Eleições: Artigos, entrevistas, indicações de leitura e vídeos para aprofundar as questões levantadas em torno do debate eleitoral de 2014, no Blog da Boitempo. Colaborações de Slavoj Žižek, Mauro Iasi, Emir Sader, Carlos Eduardo Martins, Renato Janine Ribeiro, Edson Teles, Urariano Mota e Edson Teles, entre outros. Confira aqui.
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Flávio Aguiar nasceu em Porto Alegre (RS), em 1947, e reside atualmente na Alemanha, onde atua como correspondente para publicações brasileiras. Pesquisador e professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, tem mais de trinta livros de crítica literária, ficção e poesia publicados. Ganhou por três vezes o prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, sendo um deles com o romance Anita (1999), publicado pela Boitempo Editorial. Também pela Boitempo, publicou a coletânea de textos que tematizam a escola e o aprendizado, A escola e a letra (2009), finalista do Prêmio Jabuti, Crônicas do mundo ao revés (2011) e o recente lançamento A Bíblia segundo Beliel. Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quintas-feiras.
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