A nova política reimagina a erradicação da miséria
No contexto do Especial Eleições 2014 do Blog da Boitempo, adiantamos com exclusividade uma das histórias do aguardado Cânone gráfico, a fantástica antologia da literatura universal em quadrinhos.
Cânone gráfico
O livro, que inaugura o selo de quadrinhos da Boitempo, o Barricada, reúne alguns dos maiores nomes da arte gráfica, como Robert Crumb, Will Eisner, traz releituras de clássicos como A divina comédia, de Dante Alighieri, Sonhos de uma noite de verão, de William Shakespeare, e As viagens de Gulliver, de Jonathan Swift. Organizada pelo escritor Russ Kick e lançada originalmente nos Estados Unidos em 2012, a obra se consagrou como uma bíblia para aqueles que se interessam por quadrinhos.
A história
Em tempos de achatamento do humor e da ironia, e em que se faz crer que o descontentamento generalizado do país parece pedir a modalidade de inovação política que só a eficiência e a flexibilidade da dinâmica dos mercados pode oferecer, o Blog da Boitempo oferece esta pérola da ironia ilustrada, elaborada por Jonathan Swift, autor de As viagens de Guliver (obra que aliás também é contemplada em Cânone gráfico no traço do artista gráfico Gareth Hinds), no século XVIII. Intitulado “Uma proposta modesta”, o quadrinho ironiza a suposta neutralidade matemática da mentalidade “inovadora” de enxugamento de custos e maximização de rentabilidade, ao estendê-la a todas as áreas da vida social.
Contexto
Em 1729, entre os muitos panfletos à venda nas bancas de Londres e de toda parte, havia um intitulado “Uma proposta modesta para evitar que os filhos dos pobres da Irlanda sejam um fardo para seus pais ou para o país, assim como para torná-los úteis ao público”. O autor anônimo sugeria que os pobres da Irlanda vendessem seus bebês como comida para os ricos da Grã-Bretanha.
Houve poucos indícios, se é que houve algum, de que o panfleto fosse uma brincadeira. Ele dava detalhes culinários, financeiros e morais do projeto. O governo britânico havia submetido o povo irlandês a uma privação econômica e uma opressão política desumanas. O panfleto simplesmente levou a situação à sua lógica extrema.
Como hoje se sabe, o autor do panfleto foi o talentoso iluminista Jonathan Swift, o mestre da sátira. Atualmente, esse pequeno ensaio é elemento básico dos cursos de
graduação de literatura que tratam de ironia. Como muitos dos escritos mordazes de Swift, “Uma proposta modesta” ainda hoje é comovente. Ele pode ter focado a Irlanda e a Grã-Bretanha do início do século XVIII, mas a mensagem se aplica aos Estados Unidos e a muitos outros países do século XXI. Na verdade, Peter Kuper – ele próprio um especialista em usar a sua arte para fazer comentários sociopolíticos contundentes – trouxe a proposta para o presente.
“Uma proposta modesta”
de Jonathan Swift; Adaptação e arte de Peter Kuper
Clique nas imagens para ampliar, ou clique aqui para baixar gratuitamente o PDF, em alta resolução!
Gostou? Saiba mais sobre o livro, que chega às livrarias no começo de novembro. “Como boa parte das grandes ideias, a do editor americano Russ Kick era simples (e trabalhosa): convidar algumas dezenas dos maiores artistas gráficos contemporâneos para interpretarem, só com ilustrações, cenas de clássicos da literatura universal. Funcionou.” – Cassiano Elek Machado
Cânone gráfico: clássicos da literatura universal em quadrinhos
Volume 1: desde a Epopéia de Gilgamesh a Shakespeare e As ligações perigosas
Russ Kick (org.)
Arte gráfica de Will Eisner, Robert Crumb, Hunt Emerson, Peter Kuper, entre outros.
Selo Barricada (quadrinhos da Boitempo)
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