Cultura inútil: Moderninho, mas nem tanto

14.10.08_Mouzar Benedito_Moderninho mas nem tantoPor Mouzar Benedito.

Pedro, o Grande, querendo modernizar os costumes na Rússia, fez coisas malucas como baixar um decreto proibindo a barba, em 1698, pois na Europa o costume de andar barbudo já tinha sido abolido. Quem insistisse em manter a barba tinha que pagar um imposto altíssimo, e muitos homens fugiram do país. Mas o czar não era tão moderno assim, em outras coisas. Quando descobriu que a mulher tinha um amante, mandou decapitar o dito-cujo e colocou sua cabeça numa jarra com álcool. A mulher foi obrigada a conservar essa jarra com a cabeça em seu quarto.

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Assim falou Graciliano Ramos: “O que eu acho é que deputados e senadores são inúteis e comem demais”.

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Paquete era um tipo de navio que transportava cargas, correio e passageiros. No século XIX, uma companhia inglesa de paquetes fez um contrato pelo qual uma vez por mês um navio trazia mercadorias da Inglaterra para o Rio de Janeiro. Os paquetes ingleses tinham mesmo pontualidade britânica. Todo mês chegava um paquete na data certa, no Rio. Se não chegasse, era sinal que houve alguma “encrenca” no caminho. Os cariocas logo o associaram à menstruação…

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Entre as datas comemorativas, 30 de setembro é Dia Mundial do Tradutor. O santo do dia, desta data, é São Jerônimo. Não é coincidência: São Jerônimo é patrono dos tradutores. Ele viveu de 340 a 420 d.C. e ficou conhecido como “Doutor Máximo das Escrituras”, porque era grande estudioso da Bíblia e a traduziu para o latim clássico,

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Angenor de Oliveira (1908-1980) nasceu no bairro do Catete, no Rio de Janeiro. Teve várias profissões, inclusive a de pedreiro. Nesta profissão, usava sempre um chapéu para que não caísse tinta na sua cabeça. Por isso ganhou o apelido Cartola. Sambista da maior qualidade, foi um dos fundadores da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Ele propôs a adoção das cores verde e rosa para ela. Quando criticavam essas cores, dizendo que elas não combinavam, Cartola respondia: “Como não combinam as cores da esperança e do amor?”.

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A palavra fulano vem do árabe, fulan, que significa “um certo” ou “tal”, quando se refere a um indivíduo sem citar o nome dele. Beltrano é uma adaptação do francês, Beltrand, nome que aparecia muito nas novelas de cavaleiros. Cicrano tem origem desconhecida.

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Os portugueses tentaram implantar o cristianismo no Japão, mas foram expulsos. Das décadas que passaram lá, acabaram influenciando na criação de algumas palavras. Arigatô, por exemplo, deriva de “obrigado”. Os japoneses não tinham uma palavra para agradecimento. Mais recentemente, a língua que influencia mais os japoneses é, logicamente, o inglês. Não tinham, por exemplo, uma frase para declarar amor. Agora falam algo que soa como “aróviú”, derivado de I love you.

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As bactérias podem se reproduzir sexualmente.

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Tem sido muito comum usar a expressão “sopa no mel” para falar de algum acontecimento muito bom. Parece esquisito, não é? A expressão surgiu no século XVII, em Portugal. Sopa, no caso não era líquida. Era um pedaço de pão umedecido em água em que se cozinhou qualquer coisa. Um pouco de mel nessa fatia de pão melhorava muito o sabor e o valor nutritivo. Por falar nisso, sopa, no Paraguai também não é líquida, é uma espécie de torta de milho.

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Provérbio chinês: “A única porta bem fechada é a que se pode deixar aberta”.

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No interior, quando alguém engana alguém num negócio, diz que “passou manta” nele. Acredita-se que essa expressão vem da crença que o diabo usava uma manta para se passar por santo, enganando as pessoas.

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Em alguns lugares do Nordeste, acredita-se que dando água de chocalho para um bebê, ele aprende a falar mais rápido. Daí, quando alguém fala demais, é tagarela, dizem que “bebeu água de chocalho”.

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O primeiro manifesto feminista de que se tem notícia foi em 1792, na Inglaterra: foi o livro Uma defesa dos direitos das mulheres, publicado pela professora Mary Wolltonecraft. Ela exigia que as mulheres tivessem o direito de estudar e que participassem do governo.

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Para quem acredita em Adão e Eva, aí vai a divisão de “eras” segundo a Bíblia: a Primeira Idade, que vai de Adão até o dilúvio teve 1.656 anos; a Segunda Idade, do dilúvio até o reino do patriarca Abraão, durou 427 anos; a Terceira Idade, de Abraão até a entrega da Tábua de Mandamentos a Moisés, durou 430 anos; a Quarta Idade, da entrega dos mandamentos a Moisés até a construção do Templo de Salomão, durou 488 anos; a Quinta Idade, da construção do Templo até sua destruição, foi de 467 anos; a Sexta Idade, que vai da destruição do Templo de Salomão até o nascimento de Jesus, durou 536 anos. Somando tudo, de Adão ao nascimento de Jesus foram 4.004 anos. Então, com mais dois mil e poucos anos de lá pra cá, o mundo tem pouco mais de 6 mil anos.

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Assim falou Mário Quintana: “Despertador é bom para a gente se virar para o outro lado e dormir de novo”.

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Quando uma pessoa é cheia de regras, controlada, e segue tudo quanto é regulamento, a gente diz que ela é “cheia de nove horas”. A expressão vem do século XIX, quando nove horas da noite era o limite para um monte de coisas. As visitas tinham que ir embora às nove horas. Depois desse horário, quem andasse pelas ruas estava sujeito a ser revistado pela polícia, como suspeito de qualquer coisa. Até as casas de jogos de baralho encerravam suas atividades às nove horas da noite. Então, a vida de quem era certinho era mesmo cheia de nove horas.

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Na Tasmânia tem (ou tinha, estava em extinção) um animal feroz conhecido como “diabo da tasmânia”, pela sua brabeza. Pois no Acre muita gente acredita que na Floresta Amazônica existe um bicho parecido, a que chamam “gogó de sola”. Parece um cachorro do mato, mas tem no pescoço uma mancha amarela que parece sola (couro curtido) muito dura. Ele anda feito doido pela mata e ataca qualquer coisa que veja, é feroz mesmo. Lenda para alguns, há quem até tenha uma descrição precisa dele: tem até 65cm, mais um rabo de 15cm.

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Assim falou Roberto das Neves: “Os socialistas ingleses são assim: socialistas por fora, ingleses por dentro”.

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Sòzinho, cafèzinho, afàvelmente, sòmente, tôda, govêrno, apêrto… Estas palavras estão escritas erradas, com acentos que não existem? Sim, depois de 19/01/72, estão. Mas esses acentos existiam antes, deixaram de existir nesta data por um acordo assinado pelos governos de Brasil e Portugal, no ano anterior. Por esse acordo, caíram acentos diferenciais como em aperto (aperto sem acento era a conjugação do verbo apertar, primeira pessoa do presente: eu aperto, tu apertas… ― o ato ou efeito de apertar, era escrito apêrto, com acento). No caso de tôda, o acento era para diferenciar de uma ave portuguesa chamada toda (pronuncia-se tóda). Mas permaneceram algumas palavras com acento diferencial, como pólo, pêlo e pêra, que cairiam na reforma de 2009 (assim como o trema, utilíssimo). O acento grave (como o da crase) era usado em palavras derivadas de outras que levavam acento agudo: café, com o diminutivo zinho, virava cafezinho: só, e afável com o sufixo mente. Essas sílabas com acento grave eram chamadas de subtônicas;

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Lady, palavra que significa dama em inglês, quando escrita com L maiúsculo é um título de nobreza. Mas a origem da palavra não tem nada a ver com essa frescura toda: no inglês antigo significava amassador de pão.

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Uma festa muito famosa de Feira de Santana acabou se espalhando pelo Brasil todo, a partir dos anos 1990: o carnaval fora de época. Tem um nome curioso: micareta. De onde vem isso? De mi-carêne, que em francês significa “meio da quaresma”. Desde o século XVI existe na França essa espécie de carnaval no meio da quaresma, que também é conhecido como “festa das lavadeiras”. Ao que tudo indica foram elas que iniciaram essas festividades, com a participação de vendedores de carvão e de água. Em Feira de Santana, o nome micareta foi oficializado em 1937, depois de um “plebiscito” feito pelo jornal A Tarde. Mas moradores da também baiana Jacobina reivindicam prioridade nisso: segundo eles, desde 1912 há na cidade um carnaval no meio da quaresma, e o nome micareta foi oficializado lá em 1935. Hoje, o carnaval fora de época que acontece em muitas cidades não se restringe ao período da quaresma, podem ser em qualquer época do ano.

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Segundo Câmara Cascudo, a micareta surgiu mesmo em 1937, em Feira de Santana, porque houve uma chuvarada muito forte no Carnaval, que não permitiu o festejo. Então, transferiram a festa para depois da quaresma (na época era pecado pra lá de mortal fazer festas desse tipo na quaresma). Micareta não seria simplesmente uma adaptação de mi-carême, e sim uma “mistura” de mi-carême com careta, já que os foliões saíam fantasiados.

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O nome da cidade de Jacobina, na Bahia, parece ser bíblico, derivado de Jacob ou qualquer coisa que o valha, não? Mas não tem nada disso. É tupi. A grafia antiga era Jacuabina, corruptela de já-cuã-apina, que significa “o que tem cascalho limpo”. Lá ocorreu a primeira descoberta de ouro pelo invasor europeu na Bahia.

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A peruca é originária do Egito ou da Assíria, e era usada como símbolo de autoridade na era dos faraós. Foi difundida na França no século XIV e depois foi levada para a Inglaterra por um rei da França, Carlos II, que era careca.

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Tabu: algo proibido, que não se pode nem discutir. Essa é a ideia que a palavra passa. É uma influência, acreditem, da Polinésia na cultura universal. Os indígenas de lá consideravam algumas coisas proibidas ou intocáveis, por serem sagradas ou malditas. Em português, escrevemos tabu, em inglês é taboo e em francês tabou.

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No Rio de Janeiro havia muitas negras escravas ou libertas que vendiam quitandas e doces nas ruas, em tabuleiros. De vez em quando algum moleque sem dinheiro tentava roubar doce, e o preferido deles era um feito de rapadura derretida com amendoim moído. Quando a mulher flagrava o menino fazendo isso, dava-lhe uma bronca, dizia: “Pede, moleque”. Se pedisse ela dava. Essa é uma das histórias da origem do nome do doce chamado pé-de-moleque. Outros acreditam que a cor do doce se parece com a de um pé descalço sujo…

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A frase “tempo é dinheiro” (time is money, no original) foi criada por Benjamin Franklin, um dos fundadores dos Estados Unidos e inventor do para-raios. A frase faz parte de seus escritos sob o título Conselhos a um jovem negociante.

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Quando uma águia pega uma tartaruga com as garras, ela a leva para o alto e solta em cima de uma rocha, para quebrar seu casco duro. Aconteceu na Grécia Antiga: uma águia teria confundido a careca de Ésquilo com uma rocha e soltou uma tartaruga na cabeça dele. Matou o dramaturgo.

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Johnny Weissmuller, ator que ficou célebre como Tarzã, era um grande atleta da natação. Num só dia, em 5 de abril de 1927, ele bateu três recordes.

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Henry Ford, o badalado industrial dos Estados Unidos, era simpatizante do nazismo. Para escrever a “bíblia” do nazismo, Mein Kampf, Hitler usou ideias antissemitas de Ford. E o industrial gringo ainda dava uma boa grana para o movimento nazista. Hitler mantinha uma foto de Henry Ford sobre sua mesa… e Ford mantinha uma de Hitler na sua.

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O que diferencia a mandioca brava da mandioca mansa? A quantidade de ácido cianídrico (HCN) que ela contém. A mandioca mansa, também chamada de aipim e de macaxeira, tem no máximo 50 ppm de HCN, as bravas chegam a ter 300 ppm. A mandioca brava é usada para fazer farinha, não é consumida como a outra. Pode causar até a morte.

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Em 1964, um pé de brócolis colhido na Inglaterra pesou 13,1 kg. Também na Inglaterra, um repolho colhido em 1865 tinha 6,57 m de circunferência e pesava 55,8 kg. Na Austrália, uma cenoura colhida em 1967 pesou 4,9 kg. Um pepino colhido no Texas (EUA) em 1978, pesou 5,9 kg, mas em comprimento ele perdia para um de variedade vietnamita colhido na Hungria em 1976, com 1,82 m. Em 1980, foi colhida nos EUA uma melancia com 90,7 kg.

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Geronte, na Grécia Antiga, era como chamavam o membro de uma Gerúsia (conselho de anciãos). Nas comédias clássicas italianas, passou a ser um tipo de velho meio ridículo, moralista. Molière e outros autores de teatro dos séculos XVII e XVIII retomaram o nome, com o mesmo sentido. Só que sempre era enganado. Numa peça, um falso médico é usado para enganar o personagem Geronte. Gerontologia é hoje o ramo da medicina que estuda as causas da velhice, trata dos problemas relacionados à pessoa idosa. Bom… Hoje chamam a velhice de “melhor idade”. Só Geronte para acreditar, não é?

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Um ditado: “Nesta vida os prazeres são por quilos e os pesares por toneladas”.

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Assim falou Gino Meneghetti, ladrão assumido: “Sempre detestei homens que malbaratam o dinheiro público”.

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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996) e Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças. 

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