A alternativa está à direita
Por Emir Sader.
As peripécias desta campanha eleitoral brasileira confirmam a tendência nos governos progressistas latino-americanos, desde o seu surgimento: as alternativas a eles se constituem à sua direita e não à sua esquerda.
São governos que apresentam avanços inquestionáveis, tanto nas suas políticas sociais, quanto nas suas políticas externas e no resgate do papel do Estado, entre tantos outros avanços, que permitiram a conquista de imensos apoios populares e sua continuidade no tempo. Especialmente se levamos em conta que são governos que receberam heranças muito pesadas dos governos neoliberais que os precederam.
Essa herança pesada é responsável por parte importante das fraquezas desses governos como, por exemplo, os processos de desindustrialização, que promovem papel importante da exportação de produtos primários. O enfraquecimento dos Estados, o monopólio dos meios de comunicação, o peso do agronegócio, o do capital financeiro, entre outros problemas.
As críticas a esses governos vêm da direita e da esquerda, às vezes sem distinção entre uma e outra. São os governos de maior apoio popular que esses países tiveram, devido sobretudo às suas políticas sociais, no continente que apresenta a maior desigualdade no mundo. Ocupam o campo da esquerda no espectro político de tal maneira que as alternativas a eles estão sempre na direita.
A extrema esquerda, em nenhum dos países de governos progressistas da América Latina, conseguiu se constituir em força política com uma mínima representação popular. São sempre organizações propagandistas, que têm espaço par se manifestar nas campanhas eleitorais, mas não apresentam propostas alternativas concretas.
Seria possível dar exemplos concretos da Bolívia, da Argentina, do Uruguai, do Equador, da Venezuela, mas aqui mesmo isso é evidente. Partidos ou políticos que romperam com o governo, foram sempre para a direita, de que os casos da Marina Silva e do PSB, são exemplos evidentes.
Significa que a esquerda, social e política, se encontra agrupada nos processos pós-neoliberais, em torno dos únicos projetos concretos de superação do neoliberalismo. Ocupa o lugar da esquerda e resta o espaço de oposição da direita. Tem sido assim em todos esses países: a oposição vem da direita, de onde surge o risco de interrupção desses processos, para formas de restauração conservadora.
Na era neoliberal, a esquerda é antes de tudo pós-neoliberal, a partir de cuja postura se agrupam as forças democráticas e populares.
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Especial Eleições: Artigos, entrevistas, indicações de leitura e vídeos para aprofundar as questões levantadas em torno do debate eleitoral de 2014, no Blog da Boitempo. Colaborações de Slavoj Žižek, Mauro Iasi, Emir Sader, Carlos Eduardo Martins, Renato Janine Ribeiro, Edson Teles, Urariano Mota e Edson Teles, entre outros. Confira aqui.
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Emir Sader nasceu em São Paulo, em 1943. Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, é cientista político e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). É secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e coordenador-geral do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Coordena a coleção Pauliceia, publicada pela Boitempo, e organizou ao lado de Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile a Latinoamericana – enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe (São Paulo, Boitempo, 2006), vencedora do 49º Prêmio Jabuti, na categoria Livro de não-ficção do ano. Colabora para o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quartas.
A base de sustentação de um regime, como é o caso da ´República do Brasil; em que o lema é o principio da solidariedade e do bem estar das populações, falhou no seu conteúdo ao criar um grande fosso assimétrico que divide a sociedade em apenas dois grupos, onde os pobres e muito pobres perfazem mais de 90% da população. Para equilibrar o prato da balança, seria necessária uma classe média forte na ordem dos 35% e uma classe média baixa de uns 20% que puxaria para si os pobres, numa luta de subida de escalão em que todos ganhariam; assegurando a sustentabilidade de uma segurança social forte onde ninguém fosse deixado para trás. A prioridade e livre acesso ao ensino superior é uma constante sem a qual, nenhum país consegue disparar para uma sociedade justa e abastada, dando lugar à corrupção e um “salve-se quem poder”. É pena porque o Brasil tem todos os condicionalismos para ser a Nação mais rica do Planeta. Ainda têm uma reserva moral, que seria uma Monarquia Constitucional.
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