Elena e Lucio Magri. Tão distantes e tao perto
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Por Daniel Costa.
Provavelmente Elena nunca tenha ouvido falar de Lucio Magri, assim como o intelectual italiano provavelmente nunca tenha ouvido falar da jovem atriz. Em um primeiro instante ninguém veria nenhuma semelhança entre os dois personagens, mas algo muito forte os uniu.
Ao assistir Elena, documentário de Petra Costa (irmã da personagem que dá título ao filme), nos deparamos com uma pessoa que encarava a arte não como mero produto de entretenimento. Mas sim como algo que representava o sentido da vida. Já para Lucio, o que dava sentido a sua vida era a política e Mara, o grande amor da sua vida.
O alfaiate de Ulm, pode ser lido não apenas como um livro de memórias, mas também como uma ode a vida e a coragem.
Lucio entra para o PCI (Partido Comunista Italiano) ainda jovem, nunca foi um burocrata, sempre lutou pela construção da revolução que libertaria o povo italiano. Quando o partido parecia ter perdido o rumo no pós 68, empreendeu um duro combate contra a burocracia sendo derrotado e expulso do partido. Anos depois acaba voltando e sairá novamente apenas quando a direção transforma o velho PCI em Partido Democrático.
Quando Lucio perde uma das razões de sua existência sofre o primeiro golpe, o segundo ocorre após a morte de Mara. Sem as duas razões que o motivava a seguir em frente Lucio escreve esse livro e meses depois parte para a Suíça onde comete o suicídio assistido, prática permitida no país.
Já o que dava sentido para a jovem atriz Elena Costa era a arte. Desde criança a menina costumava brincar de atuar na frente e atrás de uma câmera que ganhou dos pais. Adolescente entra para um grupo de teatro onde parecia ter um futuro promissor. Mas Elena não desejava status, queria apenas a plenitude da arte.
Em busca dessa plenitude parte para os Estados Unidos com o sonho de fazer cinema. Porém, com a dificuldade enfrentada fora do país a arte já não preenche mais a vida da garota e ela opta pelo ato final. Certo dia Elena pendura no quarto um pôster da peça Elektra e como seu último ato comete suicídio.
Não podemos encarar o ato de Lucio e de Elena como um ato de fraqueza, mas sim como um ato de coragem. Cada um de nós passa a vida buscando formas de preencher um vazio que nos persegue. Vazio que varia de intensidade, de pessoa para pessoa.
Elena respirava e vivia a arte e essa arte preenchia o seu vazio. Já para Magri sua vida era a política e Mara. Quando os dois perderam a capacidade de preencher o vazio que os rodeavam optaram por uma atitude drástica.
Lucio e Elena foram duas pessoas que viveram a plenitude da vida e quando viram que já não havia mais sentido ficar por aqui optaram em dar um ponto final, e sair de cena antes de virarem meros coadjuvantes de uma vida medíocre.
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A próxima edição da revista Margem Esquerda, #23, prevista para outubro, contará com um artigo do historiador Perry Anderson sobre o legado da trajetória pessoal e política do intelectual e militante italiano Lucio Magri.
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Não conheço a história de vida de Lucio Magri. Não sei quais foram as razões que o levaram ao suicídio. Mas afirmar que o ato de Helena foi “um ato de coragem” é ser, no mínimo, leviano com toda a problemática que envolve o suicídio.
Helena era uma garota de 20 e poucos anos que sofria de depressão e lidava com o seu trabalho de forma obsessiva. Afirmar que ela simplesmente “optou em dar um ponto final” antes de adentrar numa vida medíocre é de uma inocência que beira a irresponsabilidade. A própria perspectiva da mediocridade (e a associação entre não-pleno e medíocre) era o que causava o sofrimento em Helena, sofrimento este baseado num auto-engano e que, infelizmente, levou-a ao suicídio.
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