Cultura inútil: Um exemplar defensor do capitalismo

14.08.12_Mouzar Benedito_Um exemplar defensor do capitalismoPor Mouzar Benedito.

Al Capone era anticomunista radical e certa vez discursou contra o comunismo dizendo: “Devemos conservar a América íntegra, segura e intacta”.

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A primeira Bienal de Artes Plásticas de São Paulo foi inaugurada em 20 de outubro de 1950.

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Estalo que se dá com a língua e os lábios, como sinal de desdém, o “muxoxo” teve origem na África e foi trazido para o Brasil pelos angolanos. Era um gesto quase que exclusivamente feminino.

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A primeira cooperativa do mundo surgiu na Inglaterra, em 1844, formada por 28 tecelões que se uniram para enfrentar a crise. Cada um entrava com uma libra para comprar coisas que precisavam para produzir. Ainda não se chamou cooperativa, era “rochdale”. No Brasil, a primeira cooperativa foi em Ouro Preto, em 1889, formada por funcionários públicos. Chamava-se Sociedade Econômica Cooperativa.

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O basquete foi criado em dezembro de 1891 pelo canadense James Naismith, instrutor da Associação Cristã de Moços em Springfield, Massachusetts, Estados Unidos.

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A Babilônia tinha um costume interessante: todos os anos fazia-se lá um leilão de moças em idade de casar, e logicamente os lances mais altos iam para as mais bonitas. Detalhe: a renda do leilão ia para as mais feias, e com a grana que ganhavam elas acabavam encontrando marido.

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No fim do século XVI havia cerca de 11.600 cortesãs em Veneza. O número de esposas patrícias não chegava a mil.

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A expedição de Fernão de Magalhães, que deu a volta no planeta pela primeira vez, saiu da Espanha com três caravelas e 180 homens. Só uma chegou de volta, com 18 sobreviventes – até o próprio Fernão de Magalhães morreu. Mas assim mesmo a expedição deu um baita lucro.

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Em janeiro de 1907 entrou em vigor uma lei que levou o nome de seu propositor, o senador paulista Adolpho Gordo, que regulamentava a criação de sindicato e permitia a expulsão de estrangeiros que participassem de greves, por exemplo. Leis que não prestam são aplicadas pra valer no Brasil: só em 1907 foram expulsos 132 estrangeiros, e de 1908 a 1921 mais 556.

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Isadora Duncan, nascida em 1878 em São Francisco (EUA) dançarina linda, teve uma vida amorosa bem agitada. Fez viagens pelo mundo inteiro e sempre tinha ligações amorosas nos lugares em que se apresentava. Em São Paulo, acredita-se que teve um caso com Oswald de Andrade, que a teria levado a um hotel em Osasco. Na época, Osasco era um pequeno bairro da capital e muito provavelmente não havia lá hotel que prestasse… Namorou muitos homens mais jovens que ela. Em 1927, aos 49 anos, em Nice, na França, ela estava interessada em comprar um carro conversível, mas mais interessada ainda pelo jovem italiano que demonstraria o carro a ela. Saiu com ele para um passeio de demonstração, toda charmosa, usando uma echarpe bem comprida enrolada no pescoço. A ponta da echarpe se prendeu nos aros da roda dianteira, ela teve o pescoço quebrado e morreu na hora.

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Alfred Nobel, inventor da dinamite, inventou também a madeira compensada.

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Um dos grupos musicais de maior sucesso no Brasil no início dos anos 1960 foi o Trio Esperança, trio vocal formado por três crianças: os irmãos Mário, Regina e Evinha. A música Filme Triste, uma versão cantada por eles, fez grande sucesso em 1962. Outra versão, O Passo do Elefantinho, fez sucesso em 1963, e em 1966 foi a vez da música A Festa do Bolinha. Três irmãos jovens desse grupo, mais um primo formavam os Golden Boys, quarteto vocal que também fazia muito sucesso desde 1959, mas uma música deles que foi marcante, em 1970. Era Fumacê. Alguns ainda devem se lembrar da letra dela: “Ê ê ê fumacê / Ê ê ê fumaçá / Tem alguém queimando coisa / tá botando pra quebrar”.

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Uma musiquinha ingênua muito cantada até há alguns anos em saraus de gente comportada era a modinha “Quem dirá”, que começa assim: “Tão longe, de mim distante / onde irá, onde irá meu pensamento…”. Seu autor? Carlos Gomes, em 1859.

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Depois que a revolta dos escravos liderada por Spartacus foi dominada, em 71 a.C., seis mil escravos foram recapturados e crucificados ao longo da Via Apia.

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Lavoisier era desafeto de Jean-Paul Marat. Quando este revolucionário francês tornou-se um dos líderes radicais da Revolução, conseguiu que o químico fosse guilhotinado, em 1794. Foram feitos vários apelos para poupar a vida de Lavoisier, mas o juiz que o condenou manteve a pena, argumentando que “a Revolução não precisa de homens de ciência”.

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Há coisas que no meio rural dizem que “fazem mal”. Não explicam o resultado de quem fizer isso, mas não fazem. Exemplos: casar numa segunda-feira; entrar pela porta da frente e sair pela de trás e cortar unha numa sexta-feira.

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O almanaque “Eu sei tudo”, de 1922, publica uma afirmação do dr. Kellog, de Chicago, que “depois de pacientes estudos” chegou à conclusão que é vantajoso ter pés grandes, principalmente as mulheres. Segundo ele, pessoas de grande inteligência não têm pés pequenos, e “o pé grande é igualmente indício de um caráter vigoroso e são, e de uma grande natureza amável”.

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Enrico Caruso, o grande cantor de ópera, estava em São Francisco, nos Estados Unidos, no dia 18 de abril de 1906, quando se deu o famoso e terrível terremoto. E jurou nunca mais voltar lá. “Prefiro o Vesúvio”, disse ele.

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Olha o que faz uma aliança em tempo de guerra: Viatcheslav Mikhilovitch Molotov (isso mesmo, o famoso Molotov, ministro das Relações Exteriores da União Soviética) foi hóspede da Casa Branca, sede do governo dos EUA, durante a Segunda Guerra. A visita não foi divulgada e ele foi registrado como Mister Brown.

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O primeiro posto de álcool combustível foi inaugurado em 20 de abril de 1979, em Curitiba.

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Assim falou Millôr Fernandes: “Tato político é a faculdade de entender as entrelinhas de uma folha em branco”.

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São Paulo tinha muitas linhas de bondes até os anos 1960. O prefeito Faria Lima acabou com eles. O último bonde da cidade foi o que ia do Instituto Biológico (região do Ibirapuera) até Santo Amaro. Circulou pela última vez no dia 27 de março de 1968.

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Segundo alguns supersticiosos, cada dia da semana tem uma cor que dá sorte. Então, deve-se usar pelo menos uma peça de roupa da cor do dia. Domingo é dia de usar roupa cor de abóbora; segunda é branco, lilás, cinza ou azul claro; terça é vermelho; quarta é amarelo; quinta é azul marinho; sexta é rosa e sábado é verde.

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Uma assombração interessante é o Barba-Ruiva (ou Barba-Branca), que só aparece na lagoa de Parnaguá, no sul do Piauí. Segundo a lenda, a lagoa não existia, havia só uma cacimba. Ali perto morava uma viúva com três filhas. Uma delas engravidou solteira e, quando o filho nasceu, jogou o menino na cacimba. Anos depois surgiu esse sujeito que tem a barba suja de lodo e limo, que a deixam avermelhada, assombração que assusta as pessoas e se atira sobre as mulheres, mas não para lhes fazer mal e sim para beijá-las e abraçá-las.

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Charles Drew, trabalhando pela Cruz Vermelha dos Estados Unidos, foi um pesquisador sobre conservação e transfusão de plasma sanguíneo. Suas pesquisas ajudavam a salvar muitas vidas. Os Estados Unidos estavam sob o badalado governo Roosevelt (que foi Prêmio Nobel da Paz) em 1942, em plena II Guerra Mundial. O trabalho de Drew era importantíssimo, mas ele pediu demissão porque a Cruz Vermelha do país governado por Roosevelt proibiu que se fizesse transfusão de sangue de negros em brancos.

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A primeira viagem de carro de São Paulo a Santos foi feita em abril de 1909.

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Assim falou Capistrano de Abreu: “Assassinar chefe político é operar canceroso; extraído aqui o cancro, reaparece além, em parte mais nobre, e mais virulento”.

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A Companhia do Metrô de São Paulo foi fundada em abril de 1968. Em princípio a prefeitura seria sócia do governo estadual, mas Paulo Maluf foi nomeado prefeito pelo governo militar e tirou a prefeitura da empreitada.

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O pé, medida ainda usada na Inglaterra e nos Estados Unidos, tem 30,5cm.

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A ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul, distante de tudo, é conhecida por ter sido o local onde exilaram Napoleão Bonaparte, mas antes dele, em 1676, ela teve outro morador famoso, Edmund Halley (quem não ouviu falar do cometa com o nome dele?), que fazia o mapa celeste do hemisfério sul.

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A manga, que parece uma fruta bem brasileira, foi trazida do sul da Índia para cá pelos portugueses, no século XVI. Segundo a lenda, o primeiro europeu a ver uma manga foi Alexandre, o Grande.

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Drible é uma palavra inglesa. To dribble significa enganar, fintar, e aportuguesamos o verbo inglês para driblar. Houve uma época que alguns locutores esportivos não usavam a palavra drible, era comum ouvir dizer que o fulano aplicou uma finta no adversário.

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O governo Juscelino Kubitschek fez em 28 de junho de 1959 uma coisa que governos mais “de esquerda” recentes não tiveram coragem: rompeu com o FMI. Conta-se que um foca (jornalista novato) estava editando uma matéria sobre o assunto para um jornal e o diagramador, por gozação, disse que a matéria teria uma chamada de capa de uma só coluna e o título devia ser em três linhas de três caracteres apenas. O diagramador e colegas veteranos esperavam que o novato ficasse embatucado e não desse conta do recado, mas rapidamente ele apareceu com o título:

JK:
FMI
NÃO

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Há algumas décadas, um grupo de “especialistas” (não sei quem eram, nem como se identificaram como especialistas nisso) se reuniram para escolher as três frutas mais saborosas do mundo. As escolhidas foram o abacaxi, a lichia e a atemoia. A lichia é de origem chinesa e a atemoia é chilena. O abacaxi, originário do Brasil e do Paraguai, teve muito tempo a fama de ser a “rainha das frutas”. Dizem dele: “Já nasce com coroa”. Seu nome é tupi e significa fruta cheirosa.

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Diz o dito popular: “A cada minuto morre um imbecil. E nascem dois”.

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Assim falou Pittigrilli: “Prefácio é aquela coisa que se escreve depois, imprime-se antes e não se lê nem antes nem depois”.

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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996) e Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças. 

1 comentário em Cultura inútil: Um exemplar defensor do capitalismo

  1. É bem interessante o comentário Cultura inútil.

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