#issomudaomundo

14.06.24_ISSOMUDAOMUNDO[Imagem extraída da campanha publicitária do Banco  Itaú, “Mostra tua força Brasil“, feita especialmente para a Copa do Mundo de 2014, e que trabalha o slogan #issomudaomundo.]

Por Izaías Almada.

Após umas férias do Blog, a que me impus em 15 de novembro do ano passado, aproveito a alegria da Copa do Mundo para retornar, também com alegria, ao convívio desse espaço de liberdade para a reflexão crítica.

Muito embora o ar pestilento (que cito no último artigo de novembro) não se tenha dissipado de todo, a alegria popular sempre ajuda a oxigenar os odores mais repugnantes.

A começar pelo retumbante fracasso do complexo de vira latas brasileiro em relação ao mundial de futebol. Estádios lindíssimos, torcidas maravilhosas em festa, mobilidade urbana sem confusão, aeroportos elogiados pelos próprios turistas, tudo funcionando para desespero dos catastrofistas e incréus espalhados à esquerda e à direita.

A renúncia do “justiceiro” também renova a esperança de que o STF deixe finalmente entrar novos ares em suas dependências e desapareçam os miasmas do ódio e da intolerância, bem como o comprometedor silêncio de alguns de seus inocentes integrantes.

Não se corrigem erros e mazelas de quinhentos anos em 24 horas, mas há que se tentar. Os conservadores e reacionários fazem o jogo a que estão acostumados, o jogo do poder a qualquer preço, sempre o quando o povo estiver no “seu devido lugar”. Essa lógica acompanha a História do Brasil. E apesar dela, o país vai mudando aos poucos.

Para não ser confundido com algum ufanista fora de horas, gostaria de tomar um único exemplo, quanto a mim significativo e emblemático, para ilustrar e tentar entender minimamente esse novo Brasil que vai a duras penas nascendo e que com toda certeza não será mais como era há doze anos, sem falar nos quinhentos que lhe antecederam, é claro…

A estreia da Copa do Mundo.

Ansiedades, temores sobre manifestações, caos no trânsito, confusão nas portas dos estádios e nos aeroportos, tudo era possível ou previsível. Nas redações dos nossos jornalões e revistas semanais, emissoras de rádio e televisão, com suas tropas prontas para noticiar o grande desastre, a torcida era inegavelmente contra o Brasil. No mais das vezes disfarçada, mas talvez – quem sabe – com um desejo íntimo e perverso: e se não houvesse mesmo a Copa?…

Apenas se esqueceram de combinar isto com as grandes corporações e empresas internacionais, que investiram milhões de dólares no evento, como fazem de quatro em quatro anos. A oposição endinheirada apostando contra seus pares e patrocinadores? O que diria o Banco Itaú, se não tivesse Copa, para ficarmos num exemplo doméstico?

Dia 12 de junho de 2014. Dia de sol e céu azul em São Paulo. Milhares de pessoas de todo o mundo foram chegando ao estádio do Itaquerão, zona leste de São Paulo, desde o meio dia.

Uma hora da tarde… E nada.

Duas horas da tarde… Nada ainda.

Mas que diabos: quinze horas e começa o show de abertura. Ah! Alguma coisa no show tinha que dar errado. Não deu…

O Brasil vai perder para a Croácia, não perdeu…

Mas ganhamos com a ajuda do juiz, a Copa está comprada, arriscaram algumas matérias dos jornalões.

Não aguentando mais tanta decepção, o jeito foi apelar para a ignorância: esconder o maravilhoso invento do cientista Nicolelis e insultar a presidenta da república com a frase que – penso eu – mais devem usar em suas próprias casas.

E de repente a revelação: a grosseria partira da ala VIP (Very Important Pigs) do Banco Itaú… Explicitava-se para o mundo uma fatia grotesca da luta de classes no Brasil, essa luta que – peço desculpas pelas palavras – os pós modernos gostam arrogantemente de ignorar.

Aí caiu a ficha. Só então entendi o profético bordão da campanha publicitária do banco, um dos patrocinadores da Copa: #issomudaomundo.

E como muda. Esperem as urnas se abrirem em outubro.

14.06.24_ISSOMUDAOMUNDO_camarote

O CAMAROTE VIP DO ITAÚ: Geraldo Alckmin, José Serra, Fernando Henrique Cardoso e Aécio Neves em convenção do PSDB que lançou o candidato tucano à presidência da república em 2014.

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Confira o dossiê especial sobre a Copa e legado dos megaeventos, no Blog da Boitempo, com artigos de Christian Dunker, Mike Davis, Bernardo Buarque de Hollanda, Mouzar Benedito, Mauro Iasi, Flávio Aguiar, Edson Teles, Emir Sader, Jorge Luiz Souto Maior, entre outros!

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Izaías Almada, mineiro de Belo Horizonte, escritor, dramaturgo e roteirista, é autor de Teatro de Arena (Coleção Pauliceia da Boitempo) e dos romances A metade arrancada de mim, O medo por trás das janelas e Florão da América. Publicou ainda dois livros de contos, Memórias emotivas e O vidente da Rua 46. Como ator, trabalhou no Teatro de Arena entre 1965 e 1968. Colabora para o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quintas-feiras.

1 comentário em #issomudaomundo

  1. Mary Garcia Castro // 26/06/2014 às 11:15 am // Responder

    Otimo artigo De fato o Brasil mostra “suas caras” e a luta de classes se espalha mais alem da economia ou misturando economia e cultura. Criativa e oportuna a tradução de VIP e haja pigs
    O Itaú nao é aquela empresa q distribuiu calendário tendo 31.3/1.4 como datas comemorativas?
    Sim nas urnas importante dar a resposta. Mas nao só nas urnas. Nos morros do Rio a policia continua matando. Na luta de classe Sao varias as trincheiras. Já dizia o Barbudo quando jovem: precisamos de viejos topos. Ou os jovens buscam seus jeitos de cavar nem sempre os mais papara eis tanto para os da classe ViP quanto para outras acomodadas no verbo fácil de verdades ibtelectuais frágeis mas concordo Tá mudando obrigada Almada

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