Futebolices, sacizices e livros

14.04.08_Mouzar Benedito_Futebolices, Sacizices e livrosPor Mouzar Benedito.

Aproveito meu espaço aqui para fazer algo que podem classificar como oportunismo: convidar os leitores para um lançamento de livros meus. Mas antes de dar as informações sobre títulos a serem lançados, local, data e horário, lanço um desafio: identificar quem escreveu a crônica intitulada Futebol, de que pincei trechos que se seguem.

“Dá energia. Dá tática. Dá agilidade. Dá calma, sobretudo nas emergências mais escabrosas. Dá o golpe de vista pronto, seguro e firme.

Dá energia moral, porque a energia moral é quase sempre um reflexo da energia física. Dá iniciativa. Dá confiança em si próprio.

Dá responsabilidade. Os porquês de tantos ‘dás’? Dá energia muscular porque o jogo movimenta a musculatura do corpo, os músculos do pé e da perna em primeiro lugar, e os do torço e do pescoço em seguida.

(…) Dá tática porque nas multíplices fases dum ataque ou duma defesa, num dribling, inesperado, num chute falho, em qualquer das mil peripécias de luta, o espírito dos foot-ballers, pela tensão prolongada de todas as suas faculdades, acarreta o aperfeiçoamento da mais e da mais evidência, a presteza da percepção, a tática.”

Mais adiante, no mesmo artigo, ele diz:

“Um ditador que tomasse conta desta República e acabasse com as fábricas de bacharéis e normalistas, substituindo-os por severos teams de futebol, faria mais pelo Brasil que as dez gerações de Feijós, Zés Bonifácios e Cotegipes e demais estadistas que nos têm governado.”

E termina assim:

“E é dessa raça de gente que precisamos. Menos bacharéis, menos parasitas, menos coronéis, menos deputados, menos promotores, menos esfria-verrumas e mais struggle for lifes, mais ‘homens’, mais fibra, mais glóbulos de ferro no sangue que um Camilo C. Branco do futuro não venha repetir que tem nas veias um podre sangue e dentro dos ossos farinha de mandioca.”

Bem, só pode ser um fanático por futebol quem “cometeu” esse texto, não? Duas surpresas: 1) a data e local em que ele foi publicado, o jornal O Povo, de Caçapava, na edição que circulou entre 10 e 17 de julho de 1905; 2) o autor, Hélio Bruma, que – fiquem sabendo (eu só fiquei há pouco) – era um pseudônimo de Monteiro Lobato.

Em outra crônica, chamada O 22 de Marajó, Lobato fala coisas que cito a seguir:

“Esse delírio que por aí vai pelo futebol tem seus fundamentos na própria natureza humana.”

“Não é mais esporte, é guerra. Não se batem duas equipes, mas dois povos, duas nações, duas raças inimigas. Durante o tempo de luta, de quarenta a cinquenta mil pessoas deliram em transe, estáticas, na ponta dos pés, coração aos pulos e nervos tensos como cordas de viola. Conforme corre o jogo, há pausas de silêncio absoluto na multidão suspensa, ou deflagrações violentíssimas de entusiasmo, que só a palavra delírio classifica. É gente pacífica, bondosa, incapaz de sentimentos exaltados, sai fora de si, torna-se capaz de cometer os mais horrorosos desatinos.”

“Admiramos hoje os grandes filósofos gregos. Platão, Sócrates, Aristóteles; seus coevos, porém, admiravam muito mais aos atletas que venciam no estádio. Milon de Crotona, campeão na arte de torcer pescoços de touros, só para nós tem menos importância que seu mestre Pitágoras. Para os gregos, para a massa popular grega, seria inconcebível a ideia de que o filósofo pudesse no futuro ofuscar a glória do lutador.”

Pois é, quem diria! Monteiro Lobato, até praticou futebol, que admirava muito na juventude, mas depois de algumas caneladas o abandonou. E nunca mais jogou. Já adulto passou a desprezar o futebol.

Tornou-se o pai da literatura infantil brasileira, tem muitas bibliotecas com seu nome, inclusive a mais importante biblioteca infantojuvenil de São Paulo. E é nela, na região central da capital paulista, que será comemorado de maneira especial o aniversário do escritor este ano. As comemorações sob o título Semana Monteiro Lobato começaram no sábado, dia 12 de abril, e se estendem até dia 18.

E como estamos no ano da Copa a ser realizada no Brasil (com protestos e contestações) a semana vai ser aberta com… futebol. E lançamento de livros escritos por mim e publicados pela Liz Editora, incluindo um sobre o futebol.

A programação completa está embaixo deste texto, mas quero convidar a todos para eventos com minha participação: às 16h de sábado, dia 12, um bate-bola que vou fazer com Oiram Antonini. Em seguida, será lançado o meu livro Para entender o Brasil – o país do futebol. Escrito em português e inglês (afinal, a pretensão é que gringos o leiam – e uso a palavra gringo extensiva a estrangeiros em geral) dá um rápido panorama do que é o Brasil hoje e depois capítulos com muitas informações sobre as cidades sedes da Copa, com dicas para aproveitar bem a visita a elas, incluindo clima, comida, ambiente, cultura e um pouco mais. Em algumas, comento até o sotaque. Com mais de 300 páginas e muitas fotos, o preço de lançamento será promocional: apenas R$ 30.

E será lançada também uma coleção de livros infantis com textos meus e belas ilustrações do Ohi. Chama-se Turminha Brava. São oito livros: Ninguém engana o Saci?; O caiporismo do Tenório; Um boi chamado Tatá?; Bete e o Boto; O dia em que Joaquim correu atrás do Curupira mata adentro; Quem será o Lobisomem?; Um mergulho atrás da Iara; e A menina que montou na Mula sem Cabeça. O preço desta coleção também será promocional: R$ 15 cada volume, e a coleção completa sairá por R$ 100.

O lançamento será no saguão da Biblioteca Monteiro Lobato, na rua General Jardim, 485 – Vila Buarque (fica no meio da praça).

No mesmo momento será aberta uma exposição do processo criativo do Ohi.

Compareçam.

***

A seguir, a programação completa da Semana Monteiro Lobato.

Sábado, 12 de abril
Abertura: Das 10h às 15h

1º Torneio Monteiro Lobato de Futsal Feminino e Masculino Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato e Base Comunitária da Praça Rotary / Coordenação: Renato Cesar /Local: Praça da Biblioteca (Pça Rotary) / às 16h

Sacizisses e futebolices
Bate-Bola com o jornalista e escritor Mouzar Benedito / Mediação: Oiram AntoniniLançamento dos livros Para entender o Brasil, país do futebol e a Coleção Turminha Brava de Mouzar BeneditoExposição do processo criativo de Ohi, o ilustrador dessa Coleção.

Dia 14 de Abril (segunda)

10h30 – Homenagem a Hilda Vilela Junqueira Merz
Palestra: Como era a Biblioteca nos tempos de Lobato e outros relatos sobre a Memória da Biblioteca.– com Dr. Victor Nussenzweig – diretor, na adolescência, do Jornal “A Voz da Infância”
14h – Histórias do Sítio – pela contadora de histórias Edna Cardoso, da Ed. Globo
15h – exibição do filme “Fantasia

Dia 15 de Abril (terça)

10h – Lançamento da Bibliografia Brasileira Infantil e Juvenil online
Apresentação dos Acervos Especiais da Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato, por Azilde Andreotti
Fala do Prof. André Moura sobre sua experiência como resenhador
Apresentação do Grupo Teatral “Pé de Zamba, em parceria com a Ed. FTD
15h – Fantasia e Realidade em Monteiro Lobato – Emília e Visconde: duas faces do autor – por André Moura

Dia 16 de Abril (quarta)

10h – Histórias do Sítio – contação de histórias para crianças
15h – exibição do filme “Alice no País das Maravilhas

Dia 18 de Abril – Sexta-Feira Santa

Publicação do texto Jesus Cristo segundo Monteiro Lobato – extraído do livro História do Mundo Para Crianças – no blog da Biblioteca

***

Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996) e Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças. 

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