Lançamento Boitempo: Ditadura: o que resta da transição

Cinquenta anos depois do golpe que instaurou a ditadura militar no Brasil – e em meio aos 25 anos de transição democrática em nosso país –, a Boitempo publica Ditadura: o que resta da transição. Organizada pelo cientista político Milton Pinheiro, com ensaios inéditos de pensadores como João Quartim de Moraes, Anita Prestes, Lincoln Secco, Décio Saes, Marco Aurélio Santana, entre outros, a coletânea enfrenta o desafio de reinterpretar uma história em que vários aspectos estão ainda por decifrar, desde o contexto por trás do golpe até a campanha pelas Diretas Já.

Obra de inflexível veio crítico, é sobretudo a postura ousada que a distingue da bibliografia existente sobre o assunto: os autores enfatizam, sob perspectivas diversas, a centralidade do caráter de classe da ditadura militar para compreender suas origens, bem como seu legado. Marcos Del Roio, no prefácio, é categórico: tratava-se de uma “ditadura de classe, que buscava impedir a eventual realização de uma revolução democrática pelas forças populares”.

Leia abaixo a orelha do livro, assinada por Marcelo Ridenti

Um aspecto fundamental distingue este livro, organizado por Milton Pinheiro: seus autores tomam como central o caráter de classe da ditadura civil-militar instaurada em 1964, por vezes secundarizado ou até esquecido em outras pesquisas. Não é pouco reafirmar que se tratava de uma “ditadura de classe, que buscava impedir a eventual realização de uma revolução democrática pelas forças populares”, nos termos de Marcos Del Roio.

Disso não decorre que se deva ignorara complexidade de cada conjuntura, nem minimizar as diferenças no interior do regime. Ao contrário, envolve sensibilidade para desvendar as conexões entre política e economia, como atesta por exemploAdriano Codato, que analisa as disputas entre os círculos dirigentes civis pelo comando da economia nos anos 1970 e a constituição de “intelectuais de Estado”. Ou ainda as reflexões teóricas de Décio Saes sobre frações da classe dominante e de João Quartim acercada natureza de classe do Estado brasileiro. Por sua vez, Nilson Souza realizou um balanço da economia dos anos 1960 aos 1980.

Mais de quatro décadas de lutas dos trabalhadores rurais são inventariadas por Leonilde Medeiros, enquanto Marco Santana faz uma síntese das lutas operárias. Aspectos do período final do regime e da transição para a democracia são abordados. Anita Prestesretoma a presença do legendário Luiz Carlos Prestes naquele contexto. David Maciel analisa a Aliança Democrática, Vanderlei Nery o movimento dasDiretas Já. Lincoln Secco faz um balanço da atuação dos principais partidos desde os anos 1980.Anderson Deo reflete sobre a longa transição eMilton Pinheiro sobre a formulação política dos comunistas do golpe ao fim do regime.

Todos, a seu modo, ajudam a compreender o tempo da ditadura e seu legado.

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O QUE RESTA DO GOLPE DE 1964

Confira o especial de 50 anos do golpe no Blog da Boitempo, com artigos inéditos de Edson Teles, Osvaldo Coggiola, Ricardo Musse, Emir Sader, Mauro Iasi, Ruy Braga, Mouzar Benedito, Carlos Eduardo Martins, Urariano Mota, Jorge Luiz Souto Maior, Flávio Aguiar, entre outros, além de eventos e lançamentos refletindo sobre os legados da ditadura para o Brasil contemporâneo, aqui.

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