A ditadura venceu
Por Vladimir Safatle.*
Hoje é o dia que marca, afinal, os 50 anos do golpe militar ocorrido em 1º de abril de 1964. Durante as últimas semanas, a sociedade brasileira foi obrigada a ler afirmações de personagens como o senhor Leônidas Pires Gonçalves, primeiro ministro do Exército pós-ditadura, insultando o país ao dizer que: “a revolução (sic) não matou ninguém” e que ela teria sido uma necessidade histórica.
Antes, correntistas do banco Itaú, uma instituição tão organicamente ligada à ditadura que teve um de seus donos, o senhor Olavo Setúbal, nomeado prefeito biônico da cidade de São Paulo, receberam uma singela agenda onde se lia que o dia de hoje seria o aniversário da dita “revolução”. Ninguém, nem nas Forças Armadas nem no setor empresarial que tramou e alimentou o golpe teve a dignidade de pedir à sociedade perdão por um regime que destruiu o país.
É claro que ainda hoje há os que procuram minimizar a ditadura afirmando que ela foi responsável por conquistas econômicas relevantes. Raciocínio semelhante foi, por um tempo, utilizado no Chile.
Tanto em um caso quanto no outro esse raciocínio é falso. A inflação brasileira em 1963 era de 78%. Vinte anos depois, em 1983, era de 239%. O endividamento chegou, ao final da ditadura, a US$ 100 bilhões, legando um país de economia completamente cartelizada, que se transformara na terceira nação mais desigual do mundo e cujas decisões eram tomadas não pelo ministro da economia, mas pelos tecnocratas do Fundo Monetário Internacional chefiados pela senhora Ana Maria Jul. A concentração e a desigualdade se acentuaram, o êxodo rural destruiu nossas cidades, a educação pública foi destroçada, a começar por nossas universidades.
Mas o maior exemplo desse revisionismo histórico encontra-se na crença, de 68% da população brasileira, de que aquele era um período de menos corrupção. Alguém deveria enviar para cada uma dessas pessoas os dossiês de casos como: Coroa-Brastel, Capemi, Projeto Jari, Luftalla, Banco Econômico, Transamazônica e Paulipetro.
Tudo isso apenas demonstra o fracasso que foi, até agora, o dever de memória sobre a ditadura.
Mas o que poderíamos esperar de governos, como o de Fernando Henrique Cardoso, cujos fiadores eram Antônio Carlos Magalhães e Jorge Bornhausen, e de Luiz Inácio Lula da Silva/Dilma Rousseff, que tem em José Sarney um de seus pilares e em Antonio Delfim Netto um de seus principais conselheiros?
Como esperar uma verdadeira política contra a ditadura de governos que dependem de figuras vindas diretamente da ditadura?
Foi assim, de maneira silenciosa, que a ditadura venceu.
* Publicado originalmente no jornal Folha de S.Paulo em 1 de abril de 2014.
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Para aprofundar a discussão sobre a herança social, política e cultural da ditadura militar, recomendamos a leitura de O que resta da ditadura: a exceção brasileira (Boitempo, 2010), coletânea de ensaios organizada por Vladimir Safatle e Edson Teles. A versão eletrônica (ebook) está à venda pela metade do preço do livro impresso. Compre nas livrarias da Travessa, Saraiva e Gato Sabido.
Confira os outros livros de Vladimir Safatle pela Boitempo:
Cinismo e falência da crítica, de Vladimir Safatle * PDF (Livraria Cultura | Gato Sabido)
Bem-vindo ao deserto do Real!, de Slavoj Žižek (posfácio de Vladimir Safatle) * ePub (Livraria Cultura | Gato Sabido)
Occupy: movimentos de protesto que tomaram as ruas, coletânea de artigos com textos de David Harvey, Edson Teles, Emir Sader, Giovanni Alves, Henrique Carneiro, Immanuel Wallerstein, João Alexandre Peschanski, Mike Davis, Slavoj Žižek, Tariq Ali e Vladimir Safatle * PDF (Livraria Cultura | Gato Sabido | Livraria da Travessa | Livraria Saraiva)
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O QUE RESTA DO GOLPE DE 1964
Confira o especial de 50 anos do golpe no Blog da Boitempo, com artigos ineditos de Osvaldo Coggiola, Edson Teles, Ricardo Musse, Carlos Eduardo Martins, Ruy Braga, entre outros, além de eventos e lançamentos refletindo sobre os legados da ditadura para o Brasil contemporâneo, aqui.
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Vladimir Safatle é professor livre-docente do Departamento de Filosofia da USP, bolsista de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), professor visitante das Universidades de Paris VII e Paris VIII, professor-bolsista no programa Erasmus Mundus. Escreveu A paixão do negativo: Lacan e a dialética (São Paulo, Edunesp, 2006), Folha explica Lacan (São Paulo, Publifolha, 2007), Cinismo e falência da crítica (São Paulo, Boitempo, 2008) e co-organizou com Edson Teles a coletânea de artigos O que resta da ditadura: a exceção brasileira (Boitempo, 2010), entre outros. Atualmente, mantem coluna semanal no jornal Folha de S.Paulo e coluna mensal na Revista CULT. Em 2012, teve um artigo incluído na coletânea Occupy: movimentos de protesto que tomaram as ruas, publicada pela Boitempo Editorial em parceria com o Carta Maior.
Havia lido hoje sua publicação na folha e acabei escrevendo uma reflexão que gostaria de compartilhar:
Caro Vladimir, finalmente possuo idade para ouvir e ler o que ouço e leio relacionando ao “progresso”. Ontem dois professores no local onde estudo falaram em uma aula aberta suas experiencias na ditadura. Nomes como Bornhausen, Delfim Neto fizeram parte dessa “aula”. Saber onde se encontram figuras apoiadoras da ditadura nos faz perceber e entender melhor a qual situação estamos. Lula e Dilma encontram-se na bolha. Precisamos nós, o povo estourá-la… mas e então? Eu mesma me infiltro e apoio ações e medidas das quais não conheço as procedências e hierarquias. Nos informar não é suficiente, é preciso agir. Porém como agir sem informações precisas? ‘Navegar é preciso’… E que ambiente não seria esse se não a comunidade, as escolas, as universidades? Reforma revolucionária disfarçada de Educação Inclusiva. Só o tempo nos dirá se o caminho em que andamos terá o terreno fértil e das sementes que nele plantamos um mundo melhor de todos e para todos.
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só queria compartilhar talvez não seja bom publicar as pessoas maldosas podem olhar a educação inclusiva com mais preconceito ainda se pensarem nela como revolução… No mais esse livro cinismo e falência… fico feliz em saber que consta na minha biblioteca… biblioteca do estado biblioteca do povo ou ao menos deveria ser…
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Militar é incompetente demais!!!
Militares, nunca mais!
Ainda bem que hoje tudo é diferente, temos um PT sério,
Honesto e progressista.
Cresce o grupo que não quer mais ver militares no poder,
Pelas razões abaixo.
Militar no poder, nunca mais.
Só fizeram lambanças.
Tiraram o cenário bucólico que havia na Via Dutra de uma só pista,
Que foi duplicada e recebeu melhorias;
Acabaram aí com as emoções das curvas mal construídas e OS solavancos estimulantes provocados pelos buracos na pista.
Não satisfeitos, fizeram o mesmo com a rodovia Rio-Juiz de For a.
Com a construção DA Ponte Rio-Niterói, acabaram com o sonho de crescimento DA pequena Magé, cidade nos fundos DA Baía de Guanabara, que era caminho obrigatório dos que iam de um lado ao outro e não queriam sofrer na espera DA barcaça que levava meia dúzia de carros.
Criaram esse maldito do Proálcool, com o medo infundado de que o petróleo vai acabar um dia.
Para apressar logo o fim do chamado “ouro Negro”,
Dream um impulso gigantesco à Petrobras,
Que passou a extrair petróleo 10 vezes mais
(de 75 mil barris diários, passou a produzir 750 mil);
Sem contar o fedor de bêbado que OS carros passaram a ter com o uso do álcool.
Enfiaram o Brasil numa disputa estressante,
Levando-o DA posição de 45ª economia do mundo para a posição de 8ª, trazendo com isso uma nociva onda de inveja mundial.
Tiraram o sossego DA vida ociosa de 13 milhões de brasileiros,
Que, com a gigantesca oferta de emprego,
Ficaram sem a desculpa do “estou desempregado”.
Em 1971, no governo militar, o Brasil alcançou a posição de segundo maior construtor de navios no mundo.
Uma desgraça completa.
Com gigantesca oferta de empregos, baixaram consideravelmente OS índices de roubos e assaltos.
Sem aquela emoção de estar na iminência de sofrer um assalto, OS nossos passeios perderem completamente a graça.
Alteraram profundamente a topografia do território brasileiro com a construção de hidrelétricas gigantescas
(Tucuruí, Ilha Solteira, Jupiá e Itaipu),
O que obrigou as nossas crianças a aprenderem sobre essas bobagens de nomes esquisitos.
O Brasil, que antes vivia o romantismo do jantar à luz de velas ou de lamparinas, teve que tolerar a instalação de milhares de Torres de alta tensão espalhadas pelo seu território, para levar energia elétrica a quem nunca precisou disso.
Implementaram OS metrôs de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza, deixando tudo pronto para atazanar a vida dos cidadãos e o trânsito nestas cidades.
Esses militares baniram do Brasil pessoas bem intencionadas,
Que queriam implantar aqui um regime político que fazia a felicidade dos russos, cubanos e chineses,
Em cujos países as pessoas se reuniam em fila
Nas ruas apenas para bater-papo, e ninguém pensava em sair a passeio para nenhum outro país.
Foram demasiadamente rigorosos com OS simpatizantes daqueles regimes,
só porque soltaram uma
“bombinha de São João”
No aeroporto de Guararapes,
Onde alguns inocentes morreram de susto apenas.
Os militares são muito estressados.
Fazem tempestade em copo d’água só por causa de alguns assaltos a bancos, sequestros de diplomatas…
Ninharias que qualquer delegado de polícia resolve.
Tiraram-nos o interesse pela Política, vez que OS deputados e senadores daquela época não nos brindavam com esses deliciosos escândalos que fazem a alegria DA gente hoje.
Os de hoje é que são bons e honestos.
Cadê OS Impostos de hoje, isto else não fizeram!
Para piorar a coisa, ainda criaram o MOBRAL, que ensinou milhões a ler e escrever, aumentando mais ainda o poder desses empregados contra OS seus patrões.
Nem o homem do campo escapou, porque criaram para ele o FUNRURAL, tirando do pobre coitado a doce preocupação que ele tinha com o seu futuro. Era tão bom imaginar-se velhinho, pedindo esmolas para sobreviver.
Outras desgraças criadas pelos militares:
Trouxeram a TV a cores para as nossas casas,
Pelas mãos e burrice de um Oficial do Exército,
Formado pelo Instituto Militar de Engenharia,
Que inventou o sistema PAL-M.
Criaram ainda a EMBRATEL;
TELEBRÁS; ANGRA I e II; INPS, IAPAS, DATAPREV, LBA, FUNABEM.
Tudo isso e muito mais OS militares fizeram em 22 anos de governo.
Pensa!!
Depois que entregaram o governo aos civis, estes,
Nos vinte anos seguintes,
não fizeram nem 10% dos estragos que OS militares fizeram.
Graças a Deus!
Ainda bem que OS militares não continuaram no poder!!
Tem muito mais coisas horrorosas que eles,
os militares, criaram,
mas o que está escrito acima é o bastante para dizermos:
“Militar no poder, nunca mais!!!”,
exceto os domesticados.
Ainda bem que hoje estão assumindo o poder
pessoas compromissadas com os interesses do Povo.
Militares jamais!
Os políticos de hoje pensam apenas em ajudar as pessoas e foram injustamente prejudicadas quando enfrentavam os militares
com armas às escondidas com bandeiras de socialismo.
Os países socialistas são exemplos a todos.
ALÉM DISSO, NENHUM DESSES MILITARES
CONSEGUIU FICAR RICO.
ÊTA INCOMPETÊNCIA!!!
by Millôr Fernandes
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É muito cara de pau. O golpe foi o auge de traição ao Brasil, por suas oligarquias entreguistas hereditárias. V. Eduardo Prado: “A ilusão americana”, e outros mais.
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Esquerdista babaca ! A intervenção de 64 esta longe de ser um golpe, pois graças a ela o Brasil não virou uma Cuba, ditadura é o que o PT pretende para o Brasil. Viva os militares de 64. Bolsonaro para presidente em 2018 !
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Tu deveria ir para um zoológico seu animal ! A ditadura militar só atrasou o Brasil e acabou com possibilidade de termos políticas sociais que diminuem a desigualdade social ao entregar mais poder para as oligarquias, já o Bolsonaro é um bandido que deveria estar preso. Tenho nojo dessa direita olavete, bolsonarista e tucana quer dar novamente um golpe no Brasil e ferrar com a vida do pobre.
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Você indivíduo que se autodenomina Luiz,
COVARDE na sua mais completa tradução pois não se identifica, não diz quem é nem o que faz. O que um excremento como você faz neste blog. Este blog é um veículo de comunicação, difusão e reflexão de idéias. Um ser acéfalo como você, incapaz de ter sequer suas próprias idéias pois tudo o que escreve não passa de repetições das bobagens que algum idiota alfabetizado lê para você em Veja e no Estadão, não pode sequer imaginar o que é refletir sobre a situação política do país.
Vá se juntar aos seus e aproveite vá para o inferno com Bolsonaro, criminoso, estuprador e torturador, que pelo visto você idolatra.
Desapareça deste espaço de reflexão.
Hugo Pequeno Monteiro
Professor Titular
Departamento de Bioquímica
Universidade Federal de São paulo/Escola Paulista de Medicina
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Nossa! Que gente violenta aqui…ui! Não falo nada mesmo e caluda, que fique esse resto ou essa raspa do tacho em seus devidos quartéis, o resto cuidamos nós, no futuro distante veremos…e abacate velho, amargo e ranço de manteiga CCC são pra velhos ultrajados ranhetas imbecis de ontem e de hoje! Hah! Spaceeba! Nós Amados sabemos nos virar…
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