O sapo Gonzalo em: Outro carnaval

14.02.28_Luiz Bernardo Pericás_Outro carnavalPor Luiz Bernardo Pericás.

Quem acompanha as aventuras do sapo Gonzalo sabe que ele detesta o Carnaval. E que faz de tudo para fugir assim que seus ouvidos começam a ser agredidos pelos batuques infernais dessa época do ano. Pois nosso querido dendróbata argentino coaxava tranquilo no calçadão do Leme quando foi pego de surpresa por uma multidão de jovens sorridentes e descontraídos, cheios de ginga, malemolência e suíngue. Que horror! No momento em que se viu cercado pela horda selvagem de sambistas e pagodeiros, não pensou duas vezes: deu um pulo monumental para bem longe dali, como se suas compridas pernas esverdeadas fossem biônicas, iguais às do Steve Austin, o homem de seis milhões de dólares! É claro que o dicó foi, como sempre, para um lugar tão distante e escondido que poucos poderão incomodá-lo por um bom tempo. Mas não sem antes deixar para o caríssimo leitor mais uma seleção musical com algumas canções especialmente escolhidas por ele, antídotos para os ruídos dos foliões embriagados que tanto odeia.

A série começa com Sam Cooke e “A Change is Gonna Come”. Escrita em 1963 e gravada em janeiro do ano seguinte, a canção se tornou o hino do movimento dos direitos civis daquela década depois do trágico assassinato de Cooke, em 1964.

Em seguida, a inigualável Odetta, um dos maiores nomes da folk music. Aqui ela canta a tradicional “Waterboy”.

Bill Withers, ganhador de três prêmios Grammy, é o próximo, com “Lean On Me”, numa gravação ao vivo de 1973. A música, escrita pelo compositor nascido na cidade mineira de Scab Fork, West Virginia, foi gravada em 1971 e lançada em abril de 1972, no seu segundo álbum, Still Bill, ficando em primeiro lugar nas paradas de sucesso da Billboard.

Aretha Franklin, a rainha do R&B e Soul Music, ataca com “Think”, escrita por ela e Ted White. Esse hit foi lançado como single (e no álbum Aretha Now), em 1968.

Logo depois, vem Wilson Pickett e o clássico “In the Midnight Hour”, outro êxito da Atlantic Records, primeiro lugar nas paradas de Rhythm and Blues. Produzida por Jerry Wexler e composta por Pickett e Steve Cropper, em Memphis, foi gravada em 1965. Este seria o primeiro grande sucesso de “Wicked Pickett”, que entrou para o Rock and Roll Hall of Fame em 1991.

Já mais recente, e de estilo bastante distinto, o roqueiro John Mellencamp aparece com o vídeo de “Paper in Fire”, do álbum The Lonesome Jubilee, de 1987. O cantor, que vendeu mais de 40 milhões de discos ao longo da carreira, foi um dos criadores do Farm Aid, em 1985, ano em que lançou um de seus LPs mais emblemáticos, Scarecrow. Mellencamp, que foi incluído no Hall da Fama do Rock and Roll em 2008, é conhecido por dar ênfase social a suas canções, que transitam entre o protesto e as histórias de sonhos e desilusões de trabalhadores e “homens comuns” de seu país.

Ainda para animar os saudosistas dos anos oitenta, a mais conhecida canção do Dexy’s Midnight Runners, “Come On, Eileen”. A música de 1982 foi composta por Kevin Rowland, Jim Paterson e Al Archer.

E para completar a lista, os Traveling Wilburys, banda formada pelos ícones do rock George Harrison, Jeff Lynne, Roy Orbison, Tom Petty e Bob Dylan, com “Handle With Care”, do primeiro disco do grupo, gravado em apenas dez dias, em maio de 1988, e lançado em outubro do mesmo ano. Agora é só aproveitar.

1. Sam Cooke, “A Change is Gonna Come”.

2.Odetta, “Waterboy”.

3. Bill Withers, “Lean On Me”.

4. Aretha Franklin, “Think”.

5 .Wilson Pickett, “In The Midnight Hour”.

6. John Mellencamp, “Paper In Fire”.


7. Dexy’s Midnight Runners, “Come On, Eileen”.

8. Traveling Wilburys, “Handle With Care”

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Confira também O sapo Gonzalo foge do carnaval e O sapo Gonzalo em: bem distante da folia, na coluna de Luiz Bernardo Pericás, no Blog da Boitempo!

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Chega às livrarias este mês a coletânea Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados, organizada por Luiz Bernardo Pericás e Lincoln Secco! 27 ensaios sobre Antonio Candido, Caio Prado Júnior, Celso Furtado, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque, Paulo Freire, Milton Santos, Astrojildo Pereira, Câmara Cascudo, Jacob Gorender, Ruy Mauro Marini, Maurício Tragtenberg, entre outros pensadores críticos do Brasil.

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Luiz Bernardo Pericás é formado em História pela George Washington University, doutor em História Econômica pela USP e pós-doutor em Ciência Política pela FLACSO (México). Foi Visiting Scholar na Universidade do Texas. É autor, pela Boitempo, de Os Cangaceiros – Ensaio de interpretação histórica (2010) e do lançamento ficcional Cansaço, a longa estação (2012). Também publicou Che Guevara: a luta revolucionária na Bolívia (Xamã, 1997), Um andarilho das Américas (Elevação, 2000), Che Guevara and the Economic Debate in Cuba (Atropos, 2009) e Mystery Train (Brasiliense, 2007). Seu livro mais recente é Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados, organizado em conjunto com Lincoln Secco. Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às sextas-feiras.

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