Cultura inútil: Haja assunto, Lewis Caroll!
Por Mouzar Benedito.
Muita gente tem saudade de receber pelo correio uma carta que não seja de banco, da companhia telefônica ou outra instituição do tipo, geralmente boleto de cobrança. Antes da internet era comum a comunicação por cartas ou, quando urgente, por telegrama. Mas acredito que uma das pessoas que mais escreveram cartas na vida foi Lewis Carroll (ele mesmo, o autor de Alice no país das maravilhas), que segundo seus próprios cálculos escreveu 98.721 cartas nos seus últimos 37 anos de vida. Portanto, nesse período, escreveu, em média, mais de sete cartas por dia.
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A enfermeira britânica Florence Nightingale, que se dedicou à melhoria das condições sanitárias do exército e à criação de um contingente sanitarista feminino, tinha um animal de estimação que levava a todos os lugares onde fosse: uma coruja.
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Aí vão algumas expressões usadas no Ceará: guardador de carro, que no Rio se chama flanelinha, lá é pastorador. Quem tem uma perna boa e anda arrastando a outra é chamado de ponto e vírgula. Baixinho é sibite, batoré ou corró. E quando querem dizer que alguma coisa não serve pra nada, dizem que ela é mais inútil do que vereador.
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A primeira corrida de cavalos com apostas em dinheiro que se tem notícia ocorreu em Currah, perto de Londres, em 1350. Essa corrida se chamou Jockey Hall. A palavra jockey deriva de Jackey, diminutivo de Jack, apelido de John. Então, jockey equivale a Joãozinho. Em seguida, foram surgindo Jockeys Clubs em outros lugares…
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Versão espanhola para o ditado “Enquanto descansa, carrega pedras”: “Mientras descansas, machaca esas granzas”.
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Em 1877, houve uma seca terrível no Nordeste, e ela ficou conhecida como Seca Grande. Sem saída, flagelados promoveram vários saques e o jornal O Cearense comentou: “Dir-se-ia que o comunismo já foi proclamado entre nós”.
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Em 1913, a flotilha de submarinos do Brasil adotou a legenda “Usque ad acqua nauta sum”, quer dizer, “Marinheiros até debaixo d’água” e com isso popularizou essa expressão usada com o sentido de radical. “Corintiano até debaixo d’água”, por exemplo.
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No início do século XX, um grupo de rapazes delicados fez em Petrópolis (RJ) um concurso em que ganharia quem bordasse a mais bela almofada, em benefício de uma obra de caridade, e isso foi tema de crônicas gozadoras nos jornais do Rio. Assim, almofadinha se tornou sinônimo de homens que se vestiam igual a aqueles rapazes, com apuro exagerado, e também insinuação de homossexualidade.
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No cristianismo (e no judaísmo), todos sabemos, há dez mandamentos. Na mitologia japonesa são cinco Gokais, quer dizer, cinco mandamentos: não matar, não roubar, não se entregar à luxúria, não mentir e não tomar bebidas alcoólicas.
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Até 1977, não havia divórcio no Brasil. Havia desquite, que era uma separação legal, mas sem romper o vínculo matrimonial. Quem se desquitava não podia se casar de novo. Só em 26 de dezembro daquele ano é que se tornou lei um projeto apresentado pelos senadores Nelson Carneiro e Accioly Filho, instituindo o divórcio. Antes disso, quem se separava e quisesse casar de novo, ia ao Uruguai, que casava brasileiros desquitados. Mas se homem desquitado que se casava no Uruguai era aceito com certa normalidade, com mulher não era assim. “Casada no Uruguai” era um adjetivo pouco recomendável para elas. Mulher “honesta”, segundo a sociedade preconceituosa, não fazia isso.
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A águia é o símbolo nacional dos Estados Unidos, mas se dependesse de Benjamin Franklin – que foi voto vencido – seria o peru.
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Quando se fala em usar micróbios ou seja lá o que for numa guerra, para destruir as populações “inimigas”, pensa-se logo em cientistas e militares unidos para fazer uma guerra bacteriológica. Coisa moderna. Mas é uma coisa antiga, bem mais antiga, por exemplo, do que a doação de roupas contaminadas com varíola para índios, por gente interessada em tomar as terras deles. Fazendeiros “respeitáveis” fizeram muito isso, no Brasil. Descendentes deles fazem pose de indignados quando se fala em “tomar” para reforma agrária as terras conquistadas por seus ancestrais dessa maneira. Num tempo bem mais antigo, no século XIV, um grupo de mercadores genoveses, perseguido por tártaros, se refugiou em Caffa, cidade murada da Crimeia. Depois de três anos de batalhas, os tártaros arrumaram um jeito de exterminar a população da cidade: com catapultas, jogaram pra dentro da cidade corpos de pessoas que morreram de peste bubônica. Toda a cidade foi contaminada, pouca gente sobreviveu. Aliás, os poucos genoveses sobreviventes voltaram para a Itália e infectaram suas famílias, o que ajudou a disseminar a Peste Negra.
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A ostra geralmente é bissexual. No início da vida, é macho, depois vira fêmea e em seguida volta a ser macho. Pode se tornar fêmea e voltar a ser macho várias vezes.
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Alqueire não é só uma medida de área. Alguns velhos caipiras ainda se lembram dela como medida de capacidade, usada para cereais. Um alqueire equivale a 40 litros.
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Morte doce é isso! Em 1919, um grande tanque no porto de Boston, Estados Unidos, armazenava 13.500 toneladas de melado. O tanque rompeu e formou-se uma onda de melado com 15 metros de altura, matando 21 pessoas.
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No início do século XVIII, a Igreja era dona de dois terços de todas as terras de Portugal.
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Segundo os registros oficiais, quem introduziu o futebol no Brasil foi Charles Müller, filho de ingleses, que estudou na Inglaterra e chegou a São Paulo, em 1894, trazendo duas bolas de couro. Mas o futebol não foi levado de São Paulo para a Bahia, por exemplo. Foi o estudante José Ferreira, apelidado Zuza, que se formou na Inglaterra e chegou a Salvador em 25 de outubro de 1901, quem levou o futebol para lá, mas enfrentou resistências: aquela bola iria quebrar vidraças. Realmente, num jogo realizado no bairro do Rio Vermelho um chute mal dado acabou resultando numa vidraça quebrada. Zuza reuniu amigos e fez o primeiro jogo no Campo da Pólvora. Em 1907, a Liga Bahiana de Sports Terrestres organizou o campeonato de “football” com quatro times: Bahiano de Tênis, Santos Dumont, São Salvador e Vitória. Aí já era no “Derby” (campo) do Rio Vermelho. Tudo no “football” era em inglês: refeere (juiz), keek-off (saída, início do jogo), goal (gol), goal-keeper (goleiro), half-time (em vez de primeiro tempo, primeiro half-time), corner (escanteio), score (resultado). O glorioso Ypiranga começou a disputar o campeonato baiano em 1913.
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Em 1921, a Associação Bahiana de Cronistas Esportivos promoveu um torneio entre os clubes de Salvador, mudando o nome de gol para “furo”, e contabilizava-se também os corners. No primeiro jogo, o Bahiano de Tênis (um “furo” e um corner) venceu o Santa Cruz (um corner). No segundo, o Fluminense (dois “furos” e dois corners) venceu o Ypiranga (3 corners). Participaram do torneio, além dos times já citados: Yankee, Botafogo, Nacional, Vitória, Internacional, São Bento, Associação Atlética e Sul-América.
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Durante a Guerra de Secessão, nos Estados Unidos, os irmãos da mulher de Abraham Lincoln eram membros do Exército Confederado e ela foi acusada de fazer espionagem para o sul.
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Falam tanto da camada de ozônio, mas quantas pessoas sabem o que é ozônio? É um gás com cheiro forte, um oxigênio mais reativo. Seu nome foi dado por causa desse cheiro: ozo, em grego, significa “sinto cheiro”, e foi dado pelo químico alemão Christian Friedrich Schönbein, que fazia experiências produzindo eletricidade em laboratório e achava o cheiro do ar seco passando entre duas placas de eletrodos ligados a corrente alternada parecia com o cheiro de cloro combinado com algum outro elemento.
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Para quem acha que corrupção no Brasil é coisa dos dias de hoje, uma informação: a construção de Salvador, primeira cidade do Brasil, iniciada em 1549 por Tomé de Souza, custou muito mais que deveria, pois as obras foram superfaturadas.
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Uma superstição: muita cera no ouvido traz riqueza.
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Simpatia para curar bronquite: dar tripa de galinha para o doente soprar e depois dar essa tripa para um gato comer.
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Assim falou Darcy Ribeiro: “Fracassei em tudo na vida. Tentei alfabetizar as crianças, não consegui. Tentei uma universidade séria, não consegui. Mas meus fracassos são minhas vitórias. Detestaria estar no lugar de quem venceu”.
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Como são determinadas as datas em que caem os feriados móveis, que são o Carnaval, a Páscoa e o Corpus Christi? A Páscoa é a data base para isso. Ela acontece sempre no primeiro domingo de lua cheia depois do equinócio de Primavera, que no hemisfério Norte pode ser entre 22 de março e 25 de abril. No judaísmo, a Páscoa comemora a saída dos judeus do Egito. No cristianismo, comemora-se a ressurreição de Cristo. A terça-feira de Carnaval é 47 dias antes do domingo de Páscoa, podendo cair entre 3 de fevereiro e 8 de março. Corpus Christi é 60 dias depois da Páscoa, cai sempre numa quinta-feira entre 21 de maio e 24 de junho. Quer fazer as contas? Veja: em 2013, o domingo de Páscoa caiu em 31 de março, a terça-feira de Carnaval em 12 de fevereiro e Corpus Christi em 30 de maio.
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Nomes enganadores: Catulo da Paixão Cearense era maranhense, João Amazonas era paraense, assim como Leandro Tocantins, e Carla Pernambuco é gaúcha. Já, Ney Matogrosso é mato-grossense mesmo.
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Um ditado caipira: “Sossego de homem é mulher feia e cavalo capado”.
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Para quem não cumpre horário: “Mais atrasado do que risada de surdo”.
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Há muito tempo não vemos nos bares e vendas do interior um cartaz muito comum em outros tempos, dizendo:
Freguês educado
Não cospe no chão
Não pede fiado
E não diz palavrão.
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Assim falou Quiterinha, figura popular de Itajubá há algumas décadas: “Comunista é assim: não bebe. Mas quando bebe, é pra rachar o cano. Depois joga as garrafas na rua, pra dar trabalho pros lixeiros”.
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Leia também, Cultura inútil I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX, X e XI na coluna de Mouzar Benedito no Blog da Boitempo. Ou clique aqui, para ver todos de uma só vez!
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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996) e Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças.
Tem aquela história do Garrincha:
Não me lembro o jogo nem o nome do lateral, mas o técnico do Brasil era o Feola.
Na preleção da seleção brasileira, o Feola entre outras orientações, diz para o Garrincha:
“Preste bem atenção ao lateral esquerdo deles. O cara é muito bom. Além de marcar muito bem, vai bastante ao ataque, portanto você vai ser marcado por um cara bom mesmo. Cuidado!”
No jogo, ainda no primeiro tempo já com uns trinta minutos, Garrincha já deitava e rolava em cima do lateral adversário. Uns dribles a mais e Garrincha passa perto do banco e diz para o Feola:
“Seu feola, aquele lateral que o senhor falou, não é muito bom não viu?”
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