Cultura inútil: Macacos espertos

14.01.13_MouzarBenedito_CulturaInútilX_MacacosEspetrosPor Mouzar Benedito.

René Descartes, filósofo francês que viveu de 1596 a 1650, achava que os macacos podiam falar, mas não faziam isso para não serem obrigados a trabalhar.

* * *

Vilcabamba, no Equador, é um vale conhecido pela longevidade de seus moradores. Sua população é pequena, mas boa parte dela vive mais de cem anos, e chega a essa idade trabalhando normalmente, como gente muito mais jovem. Na língua dos índios shuaras, que moravam lá, Vilcabamba significa vale sagrado.

* * *

Antes do “descobrimento” da América, não havia ninguém aqui com sangue tipo B. Todos os índios tinham sangue tipo A ou O. Por falar nisso, quem vai a locais de grandes altitudes nos Andes e tem dificuldade para respirar acha que pode se acostumar com o tempo. Pode ser. Mas a população indígena local tem mais sangue que nós, um litro a mais. E o sangue desses povos é mais escuro. A adaptação secular ou milenar à altitude modificou o sangue deles para que respirem normalmente nas alturas.

* * *

O programa de rádio “Hora do Brasil” foi criado por Getúlio Vargas em 3 de janeiro de 1938.

* * *

O Dr. James Barry serviu durante 40 anos o exército da Rainha Vitória, como cirurgião, e chegou a ser inspetor-geral dos hospitais. Quando morreu, em 1865… surpresa! Descobriu-se que “ele” era de fato uma mulher.

* * *

Chicha é uma bebida fermentada feita de milho (pode ser feita também de mandioca ou frutas), muito comum na Bolívia. Mas existe lá, também, uma bebida destilada exclusiva do país, um pouco parecida com o pisco. É o singani, feito de uva.

* * *

Algumas pessoas têm acrofobia (medo de altura), outras agorafobia (medo de ficar em lugares abertos), necrofobia (medo de cadáveres) e outros medos estranhos, como antofobia (medo de flores), verbofobia (medo de palabras), sofofobia (medo de aprender), iatrofobia (medo de médicos). Um que poucos confessam é ponofobia (medo de trabalho), mas o mais esquisito, acho, é a fobofobia (medo de ter medo).

* * *

O jogo de boliche, com 9 pinos, foi criado por Martinho Lutero, o mesmo religioso alemão que foi também um dos criadores do protestantismo.

* * *

Alguns ditados sobre burros:
Burro e carroceiro nunca estão de acordo

Burro não amansa, acostuma
Burro velho não toma ensino
Burro velho só morre no pasto de gente besta

* * *

A palavra hospital nem sempre teve o sentido que tem hoje. Na Idade Média era o nome que se dava a abrigo para descanso de viajantes. Mais tarde, chamavam de hospital qualquer instituição de caridade para órfãos, velhos e doentes.Enfim, nessa época, hospital era um lugar “hospitaleiro”, expressão que continuou sendo usada como lugar que oferece hospedagem por bondade ou caridade. Hoje, hospitaleiro é lugar ou pessoa que recebe bem os outros.

* * *

Acredita-se que a maçã seja originária do Afeganistão. Lá existem ainda florestas de macieiras selvagens.

* * *

A região onde hoje é o Iêmen, ao sul da Arábia Saudita, era chamada de “Arábia Feliz” pelos romanos, pois é uma terra fértil, contrastando com o deserto da Arábia. A região é citada no Velho Testamento como parte do Reino de Sabá.

* * *

Em 31 de janeiro de 1987, Carlos Drummond de Andrade escreveu seu último poema, que recebeu o nome “Elegia a um tucano morto”.

* * *

Alfred Nobel tinha uma fábrica de nitroglicerina que explodiu em 1864, matando seu irmão. O governo sueco proibiu a reconstrução da fábrica, e Nobel ficou com o conceito de cientista maluco. Em 1867, inventou a dinamite e ganhou muito dinheiro com ela. Lutou contra a fama ruim o resto da vida e deixou testamento instituindo o Prêmio Nobel, em que o dinheiro vem da administração da fortuna que deixou.

* * *

As cabras foram domesticadas por volta do ano 7000 a.C., e as vacas por volta de 6000 a.C., na Grécia. Não se sabe quando se começou a aproveitar o leite delas.

* * *

Rodolpho D’Antonguolla, italiano, migrou para os Estados Unidos em 1913. Lá ele foi dançarino e gigolô antes de se tornar um grande astro do cinema, usando o nome artístico Rudolf Valentino.

* * *

Durante a ditadura que durou de 1964 a 1985, militares esbravejavam dizendo que os grupos de opositores do regime só queriam “semear a cizânia”. Mas o que é cizânia? É o mesmo que joio, uma gramínea que deu origem ao ditado “separar o joio do trigo”, bem antigo, justificado porque ela nascia no meio das plantações de trigo e irritava os agricultores. Por isso, virou sinônimo de falta de harmonia, discórdia.

* * *

Manaus, uma das cidades escolhidas pela Fifa para sediar partidas da Copa do Mundo de 2014, não tem grandes times de futebol. O mais famoso deles é o Nacional Futebol Clube, fundado em 12 de janeiro de 1913.

* * *

Durante a reconquista cristã da Península Ibérica, muitos mouros foram escravizados, e escravos tinham que trabalhar pra burro! Daí surgiu a expressão “trabalhar como um mouro”.

* * *

San Marino, minúsculo país encravado dentro da Itália, com apenas 60,5 km2, é a mais antiga república europeia. E foi o primeiro país do Ocidente a eleger um governo com maioria comunista: logo depois da Segunda Guerra, em 1945, comunistas e socialistas formaram um governo de coalizão que durou até 1957.

* * *

O código criado por Adolf Hitler para a invasão nazista à União Soviética chamava-se Operação Barbarossa.

* * *

A primeira autópsia da história foi feita pelo médico grego Herófilo, que viveu em Alexandria, na primeira metade do século III.

* * *

Depois que astronautas estadunidenses desceram pela primeira vez na lua, em 1969, a Pan American Airlines começou a aceitar reservas para futuros vôos comerciais à lua, para quando eles começassem, claro que sem data especificada. Logo de cara foram feitas cerca de 80 mil reservas.

* * *

Ditados sobre o amor:
Amor e bexiga só dão na gente uma vez

Amor é vento – vai um, vem cento
Amor faz muito, mas dinheiro faz tudo
Amor de parente é mais quente
Amor de asno inclui coices e dentadas
O amor faz passar o tempo, e o tempo faz passar o amor

O amor é uma cangalha
Que se bota em quem quer bem:
Quem não quer levar rabicho
Não tem amor a ninguém.

* * *

A “Morte Negra” (ou Peste Negra) foi uma peste bubônica que matou cerca de 75 milhões de pessoas em 1247 e 1348, diminuiu pela metade a população da Itália, em pelo menos um quarto a da Inglaterra e atingiu vários países da Europa, da Ásia e do norte da África. Dois terços dos estudantes de Oxford morreram. Ela começou na Ásia Central. Um navio com vítimas dela chegou a Gênova e de lá a doença se espalhou. A peste bubônica é endêmica em ratos e é transmitida deles para as pessoas por pulgas.

* * *

Os títulos de nobreza do Império Brasileiro, como “Barão de Tal Lugar”, “Visconde de Não sei Onde”, dão a impressão de que os tais nobres nasceram nesses lugares. Mas não é bem assim. Teoricamente, os títulos eram dados em reconhecimento ao heroísmo desses personagens em algumas batalhas, mas na maioria dos casos também não era assim. Muitos compravam os títulos. Davam uma grana ao imperador e ganhavam um título. Gozando disso, o jornalista e humorista gaúcho Apparício Torelly deu a ele mesmo o título de Duque de Itararé, e depois, em sinal de modéstia, se rebaixou para Barão de Itararé. A referência a Itararé, no caso, é uma gozação sobre uma batalha que não houve, na Revolução de 1930, entre gaúchos e paulistas, naquela cidade do sul do estado de São Paulo. Bom, vejamos onde nasceram alguns barões: existe uma cidade chamada Mauá em São Paulo e um distrito no Rio de Janeiro, mas o Barão de Mauá não era de nenhum desses lugares, nasceu em Arroio Grande (RS); Antonina é uma cidade paranaense, mas o Barão de Antonina nasceu em Taquari (RS); o de Cotegipe (BA) nasceu na cidade de Barra (BA); o de Serro Azul (SP) era de Paranaguá (PR); o de Tefé (AM) era de Itaguaí (RJ); o de Ladário (MS) era carioca, assim como o do Rio Branco (AC); na capital paulista nasceram os barões de Limeira e de Itapetininga, e o de Paranapiacaba (SP) nasceu em Santos. Duas exceções: o Barão de Aracati nasceu mesmo em Aracati (CE) e o de Cocais nasceu mesmo no município de Cocais (MG). Uma curiosidade interessante é que o Barão de Guaraciaba (nome de uma cidade de MG) nasceu em outra cidade mineira, Lagoa Dourada, em 1826, mas o que o diferencia dos outros é que foi o primeiro negro a receber esse título, e tinha sido antes ferreiro, ourives e tropeiro.

* * *

Máxima do Barão de Itararé: “Calvície é a arte de tirar fotografia de chapéu”.

* * *

O vaso sanitário foi inventado pelo inglês Sir John Harrington, em 1596.

* * *

Dom Pero Fernandes Sardinha, primeiro bispo do Brasil (vindo de Portugal, claro) ficou famoso por ter sido comido pelos índios Caeté, em 1556, depois de um naufrágio perto da foz do rio Coruripe, em Alagoas, quando voltava de Salvador para Portugal. Eu sempre disse que sardinha é pra ser comida mesmo, mas fora a ironia, ele merecia: tratava muito mal não só os índios, mas todo mundo que não se submetesse a ele. Tinha um monte de acusações de corrupção e violência. Transformava as punições religiosas em dinheiro: sob ameaça de excomunhão aos desafetos, cobrava para perdoar pecados, e embolsava a grana. E tinha cúmplices que espancavam quem o desobedecia ou falava mal dele.

* * *

Trova lusitana:
Quem tiver filhas no mundo,
Não fale das malfadadas,
Porque as filhas da desgraça
Também nasceram honradas.

* * *

Dois provérbios da ilha de Madagascar: “Não faça como o sabão, que se gasta para limpar os outros”; “Ser rico e passar privações não é ser rico, é ser guarda de tesouros”.

***

Leia também, Cultura inútil I, II, III, IVV, VI, VII, VIII, IX na coluna de Mouzar Benedito no Blog da Boitempo. Ou clique aqui, para ver todos de uma só vez!

***

Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996) e Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças. 

1 Trackback / Pingback

  1. Cultura inútil: Macacos espertos | EVS NOTÍCIAS.

Deixe um comentário