Cultura Inútil: Marx dava seus pulinhos

13.12.17_Mouzar Benedito_Cultua Inútil_Marx dava pulinhos

Caricatura de Karl Marx feita pelo quadrinista francês Charb, para o livro “Marx, manual de instruções”, de Daniel Bensaïd

Por Mouzar Benedito.

Karl Marx teve sete filhos, dos quais só quatro chegaram à vida adulta, sendo três mulheres e um homem. O detalhe é que esse único filho homem, chamado Frederic Demuth (1851-1929) era ilegítimo, sua mãe era Helen Demuth, criada da mulher de Marx.

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O figo-da-índia não veio da Índia, e sim da região andina da América do Sul. No início da colonização, os espanhóis (e portugueses também) não usavam o nome América, mas sim Índias Ocidentais.

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Várias cidades brasileiras tinham nome de animais da nossa fauna, entre elas uma chamada Veado, no Espírito Santo. Quando a palavra veado tornou-se sinônimo de homossexual e havia muito preconceito contra ela, resolveram mudar o nome da cidade. Puseram então o nome de um herói da Revolução de 1930, Siqueira Campos. Na época, como não havia CEP (o código de endereçamento postal), a mudança de nome de cidade tinha um problema: como o correio encaminhava a correspondência para o lugar certo? Bom, no caso desta cidade, as cartas chegavam eram endereçadas a “Siqueira Campos (ex-Veado). A família do herói não gostou da homenagem e pediu que tirassem o nome dele da cidade, que passou então a chamar-se Guaçuí, palavra que em tupi significa rio do veado.

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A letra л (pi), a 16a do alfabeto grego, é um símbolo matemático com valor de aproximadamente 3,1416… Novidade nenhuma nisso, não é? Mas o que poucos sabem é sua origem: л é uma abreviação de peripheria.

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Argentinos e uruguaios têm muitas divergências, disputam muitas coisas, além do futebol. Por exemplo: para os argentinos, Carlos Gardel é argentino mesmo, mas os uruguaios dizem que ele nasceu em Tacuarembó, no Uruguai. E segundo consta, não era nem uma coisa nem outra, era francês e originalmente chamava-se Charles Gardes. Outra disputa é sobre a paternidade do doce de leite. Argentinos e uruguaios a reivindicam. Mas e Minas Gerais, como fica nessa história? Para os mineiros, o doce de leite é legitimamente mineiro.

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Os soldados chineses tinham uma péssima reputação. Eram considerados muito cruéis. Mao Tse-tung (hoje escrevem Mao Zhedong, que horror) conseguiu, entre outras coisas, mudar esse conceito. Quando realizou a Grande Marcha (1934-35), tomando terras dos latifundiários e distribuindo entre os camponeses, já procurando impor um modo socialista de produção, Mao criou uma norma de condutas para seus soldados, com oito pontos: 1) Conserte as portas quando deixar uma casa; 2) Devolva em boas condições e enrolada a esteira em que dormiu; 3) Seja educado com as pessoas, ajude-as no que for preciso; 4) Devolva tudo o que tomou emprestado; 5) Seja honesto em todas as transações com os camponeses; 7) Pague tudo o que comprou; 8) Seja higiênico, fazendo suas necessidades fisiológicas a uma distância segura das casas. Outra coisa: dizem que para fazer sua Grande Marcha (ou Longa Marcha), Mao se inspirou na Coluna Prestes.

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O zangão, macho da abelha rainha, depois que copula com ela é expulso da colméia pelas operárias, e vai morrer fora dela.

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Em 1943, com o propósito de ocupar mais densamente regiões de fronteira, Getúlio Vargas criou vários territórios federais, que eram unidades administrativas com governadores nomeado pelo presidente da República, e não tinham assembleias legislativas. Eram territórios: Acre, Amapá, Guaporé, Rio Branco, Fernando de Noronha, Iguaçu e Ponta Porã. Em 1946, o território do Iguaçu deixou de existir, foi incorporado parte a Santa Catarina e Paraná, e Ponta Porã foi incorporado a Mato Grosso (hoje, Mato Grosso do Sul). O Acre tornou-se estado em 1962. Em 1988, a nova Constituição extinguiu de vez os territórios: o Amapá tornou-se estado, mantendo o nome, Rio Branco virou Roraima, Guaporé virou Rondônia e Fernando de Noronha foi incorporado a Pernambuco, e é administrado pela prefeitura de Recife.

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Numa cidadezinha da região do Cariri, no Ceará, dois partidos tinham uma rivalidade tão grande que não concordavam nem em relação ao nome da cidade: quando um ganhava, o nome dela era Santanópolis; quando o outro tomava o poder, ela se chamava Santana do Cariri. Depois de muito vai e vem, prevaleceu este último nome.

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Uma moça ia sempre às partidas de futebol de várzea em que seu namorado jogava, em São Paulo, no início do século XX. Na época, as moças usavam luvas, e ela tirava as luvas durante os jogos, mas ficava nervosa e expressava esse nervosismo torcendo as luvas. Um jornalista viu, fez matérias sobre “a torcedora” e assim a palavra torcedor ganhou o sentido atual.

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Quando alguém era condenado à morte em Portugal, num período do século XV, o executor da sentença podia ser um sujeito chamado Belchior Nunes Carrasco. A ele se deve o significado da palavra carrasco.

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A palavra fã não é nada mais do que uma redução de fanático. Ela começou a ser usada nos Estados Unidos, escrita fan, forma reduzida de fanatic.

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O ditado “Pão-pão, queijo-queijo” significa falar francamente, sem subterfúgios, sem metáforas. Desde a antiguidade há ditados semelhantes, em outras línguas. Em latim, era “Fícus fícus, ligonem ligonem”. Fícus é figo, ligonem, acho que é enxada (no sentido figurado, agricultura). No evangelho segundo São Mateus, aparece assim: “Mas seja o vosso falar: sim, sim; não, não”.  Em francês, se diz: “Appelons les figues figues et um bateau um bateau”, quer dizer, “Chamamos os figos figos e um barco um barco”. Em espanhol é “Dire al pan, pan, y ao vino, vino”, ou seja, “Diga ao pão, pão, e ao vinho, vinho”.

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Em certo período, quando iam desenhar um diabo ele aparecia sempre com uma pequena capa. Daí surgiu a palavra capeta.

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O doce chamado brigadeiro tem esse nome em homenagem ao brigadeiro Eduardo Gomes, candidato a presidente da República na época da criação desse doce, em 1946. Ele foi um dos “18 do Forte”, da revolta de 1922, no Rio de Janeiro. Uma das versões sobre o nome do doce que o homenageia é que logo depois da Segunda Guerra havia uma grande crise de abastecimento de gêneros alimentícios, inclusive ovos. Segundo a lenda, Eduardo Gomes teria sido ferido nos testículos na revolta de 1922, e como o doce feito com chocolate em pó e leite condensado, não tem ovos…

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Até o século XV, a berinjela era cultivada como planta ornamental. Achavam que seu fruto era venenoso.

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A palavra grileiro, usada para designar o sujeito que se apropria de terras que não são suas, forjando documentos falsos (geralmente com a cumplicidade de autoridades) tem origem, segundo contam, no hábito de colocar as falsas escrituras numa gaveta com alguns grilos, insetos mesmo. As fezes ou urina do grilo têm um ácido que dão aparência de antiguidade aos papéis novos.

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O Prêmio Nobel da Paz nem sempre vai para os pacíficos. Até Henry Kissinger já ganhou! Em 1906, quem o ganhou foi Theodore Roosevelt, presidente dos EUA, por ter arbitrado o fim da guerra entre a Rússia e o Japão. Detalhe: Roosevelt havia declarado pouco antes que “Nenhum triunfo da paz é tão grande quanto o supremo triunfo da guerra”.

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Tiradentes foi enforcado em 21 de abril de 1792, certo? Há controvérsias. Em 1969, um historiador carioca, Marcos Correia, pesquisava sobre José Bonifácio de Andrada e Silva, em Paris, e deu de cara com uma cópia de um documento arquivado na Torre do Tombo, em Lisboa, em que, perto da assinatura dele havia outra de um tal de Antônio Xavier da Silva. O historiador havia estudado grafologia e uma assinatura muito estudada por ele foi a de Tiradentes. Achou muito semelhante a ela a assinatura desse Antônio Xavier da Silva. Daí foram feitos estudos e surgiu a versão de um ladrão, Isidro Gouveia, que também havia sido condenado à morte, foi enforcado no lugar de Tiradentes. Topou assumir o lugar dele em troca de ajuda financeira à sua família. A manobra toda teria sido feita pela Maçonaria, que libertou Tiradentes e, em agosto de 1792, o levou para Lisboa com a namorada Perpétua Mineira e os filhos do ladrão enforcado no lugar dele, na nau Golfinho. Ele teria voltado ao Brasil e aberto uma botica. Segundo essa versão, só morreu em 1818, quatro anos dantes de ser reconhecido como Mártir da Independência.

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Alguns ditados sobre mulher:

Mulher de janela fala de todos, e todos dela.

Mulher de igreja, Deus nos proteja!

Mulher de cego, se direita não se enfeita.

Mulher de bigode, nem o diabo pode.

Mulher chorosa, mulher fogosa.

Mulher calada é pior do que boi sonso.

Mulher formosa, doida ou presunçosa.

Mulher que em jura de homem se fia, chora de noite, chora de dia.

Mulher ri quando pode e chora quando quer.

Mulher rixenta, nem o diabo aguenta.

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Mulheres quando se juntam

A falar da vida alheia

Começam na lua nova

E acabam na lua cheia

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Um ditado de Nova Resende: “Mió do que uma muié, só duas muié. Mió do que duas muié, só um caminhão de muié”.

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Leia também, Cultura inútil I, II, III, IVV, VI, VII e VIII na coluna de Mouzar Benedito no Blog da Boitempo. Ou clique aqui, para ver todos de uma só vez!

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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996) e Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças. 

3 comentários em Cultura Inútil: Marx dava seus pulinhos

  1. Clovis Pacheco F. // 08/05/2016 às 10:24 am // Responder

    Rio Branco virou Roraima, Guaporé virou Rondônia antes de se tornarem Estado. O primeiro, homenagem ao marechal Rondon, sendo que muito antes disso, o antropólogo Roquette Pinto escreveu um livro sobre a obra daquele militar, dando-lhe o nome de Rondonia. E Roraima passou a se assim chamado por causa do Monte Roraima. Não entendo o motivo de homenagearem uma montanha em detrimento de um rio, que é muito mais útil àquela região, sua principal artéria. E no tempo do Getúlio foram criados os territórios de Ponta Porã, capital na cidade homônima, às custas de Mato Grosso, então ainda não dividido, e Iguaçu, com terras do Paraná e de Santa Catarina, com capital em Iguaçu. Não deu certo… E a Constituição de 1946 acabou com essas duas inutilidades.

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  2. Clovis Pacheco F. // 08/05/2016 às 10:25 am // Responder

    Quanto ao “pão, pão, queijo, queijo”, Voltaire dizia “Chamo o gato de gato e Frippon de canalha”. Infelizmente, não se sabe – ao que me consta – quem era o canalha do Frippon!

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  3. Clovis Pacheco F. // 08/05/2016 às 10:27 am // Responder

    Semelhante ao “Mulher calada é pior do que boi sonso”, diz-se no Rio Grande do Sul que é o boi sonso que dá cornadas! Cuidado com ele!

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