Lançamento Boitempo: “Os limites do capital”

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A Boitempo acaba de lançar Os limites do capital, de David Harvey, uma profunda análise teórica da história e geografia do desenvolvimento capitalista. Este estudo seminal, considerado a obra mais importante do geógrafo britânico marxista, chega pela primeira vez aos leitores brasileiros em edição revista e ampliada. Para Harvey, que atualiza seu texto clássico com uma discussão acerca das dinâmicas do mercado financeiro atual, Os limites do capital é mais relevante hoje do que nunca.

Leia abaixo os textos de orelha e quarta capa, assinados respectivamente por Leda Paulani e Fredric Jameson

A primeira edição de Os limites do capital apareceu em inglês em 1982. Ali, premonitoriamente, David Harvey tratou de temas que, uma década depois, migrariam para o centro da arena, onde permanecem até hoje. Por mais que a crise dos anos 1970 estivesse então presente em todas as especulações sobre o futuro do sistema capitalista, não era de modo algum evidente que o processo de acumulação tomaria o rumo do predomínio inexorável da finança, tampouco que o caráter rentista desse processo se revelaria cada vez mais forte.

Assim, por exemplo, muito antes que a palavra globalização entrasse de vez para o léxico das teorizações sobre o futuro da economia mundial, Harvey se preocupava com as transformações espaciais e territoriais engendradas pela força da acumulação capitalista, bem como antevia a importância da intervenção neoliberal do Estado nesses processos. Muito antes que a financeirização de quase tudo se tornasse a norma, Harvey dedicava praticamente uma centena de páginas ao resgate da seção V do Livro III de O capital, isto é, os dezesseis capítulos dedicados ao capital portador de juros e considerados por Engels a parte mais complexa da obra magna de Marx. Muito antes que se tornasse claro que os movimentos de rent seeking ganhariam cada vez mais importância frente à dinâmica usual de apropriação do excedente, Harvey indicava o processo imperativo que viria a transformar a terra num campo aberto à circulação do capital financeiro.

Sua formação de geógrafo fez com que Harvey voltasse sua atenção não apenas para as questões do tempo, cruciais quando se entende que o capital é um movimento (o movimento de valorização), mas também para as questões do espaço, as quais os economistas em geral ignoravam. Em síntese, Harvey iniciou, ainda no início dos anos 1980, a investigação sobre como se articulam e como funcionam conjuntamente os diferentes modos de apropriação e de exploração, o sistema financeiro, o comportamento rentista e os desenvolvimentos espaciais desiguais numa dinâmica que, hoje, é o coração do processo de acumulação. O resultado, assentado em sua enorme capacidade de interpretar e desenvolver o legado de Marx, é uma obra extremamente atual, apesar de seus mais de trinta anos. Constitui, assim, leitura obrigatória não só para aqueles que buscam uma compreensão menos superficial da etapa avançada do capitalismo hoje em curso como também para os que continuam a acreditar que a História não chegou a seu fim. – Leda Paulani

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Devo registrar minha dívida com Os limites do capital, de David Harvey, não apenas uma das tentativas recentes mais lúcidas e bem-sucedidas de delinear o pensamento econômico de Marx, mas também o único a enfrentar o problema espinhoso da renda fundiária em Marx, cuja própria análise foi interrompida por sua morte. Segundo a revisão e reteorização magistrais de Harvey (que nos oferece uma versão plausível do esquema mais complicado que Marx poderia ter elaborado, tivesse ele vivido), a renda fundiária e o valor da terra são ambos essenciais para a dinâmica do capitalismo, mas também a origem de algumas de suas contradições. Fredric Jameson

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