Os bons companheiros

13.11.21_Izaías Almada_Os bons companheiros2[Da esquerda para a direita, Benito Amilcare Andrea Mussolini, Idi Amim Dada e Francisco Franco Bahamonde]

No lugar da coluna de Izaías Almada de hoje, publicamos, por solicitação do próprio autor, a seguinte carta, redigida no dia 18 de novembro em Granada, na qual o colunista se despede temporariamente de seus leitores. Os links foram acrescentados pela edição do Blog.

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Caro Renzo,

estou no momento aqui na Andaluzia em visita a meu filho caçula. Mais exatamente em Granada, terra do grande poeta espanhol Federico García Lorca.

A História registra que esse poeta e dramatúrgo, autor do Romanceiro Gitano, de peças como Yerma, A casa de Bernarda Alba, entre tantas outras, foi preso e covardemente assassinado em agosto de 1936 pelo fascismo espanhol.

Como você sabe, uma das características do fascismo foi e continua sendo a acusação e a condenação sem provas de pessoas inocentes. Basta que lhe acusem de comunista, homossexual, judeu, cigano, negro nojento, nordestino… ou “corrupto do PT”.

A ainda tênue configuração de uma sociedade fascista no Brasil vai, aos poucos, marcando com mais força os seus traços aqui e ali, bastando ver a farsa da AP 470, os comentários dos blogues dominados pela classe média brasileira, a covardia de muitos liberais de esquerda, a truculência de manifestações de rua já sem nenhum propósito, o achicalhamento da política e dos políticos, a impunidade dos verdadeiros corruptos escondidos pela mídia.

Diante desse quadro, não sinto motivações neste momento para continuar escrevendo neste espaço que tão gentilmente me foi concedido pela Boitempo, com o amável convite da Ivana há dois ou três anos.

Espero voltar a escrever mais à frente quando o ar pestilento que se espalha pelo país estiver se dissipando.

Um fraternal abraço a todos os leitores que até aqui me honraram com sua leitura,

Izaias Almada.

Granada, 18 de novembro de 2013.

***

Izaías Almada, mineiro de Belo Horizonte, escritor, dramaturgo e roteirista, é autor de Teatro de Arena (Coleção Pauliceia da Boitempo) e dos romances A metade arrancada de mim, O medo por trás das janelas e Florão da América. Publicou ainda dois livros de contos, Memórias emotivas e O vidente da Rua 46. Como ator, trabalhou no Teatro de Arena entre 1965 e 1968. Colabora para o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quintas-feiras.

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