Cultura Inútil: o aperto de mão
Por Mouzar Benedito.
A guilhotina é tida como uma invenção francesa, mas já existia na Inglaterra, Escócia e Itália desde o século XVI. Devido ao grande número de execuções durante a Revolução Francesa, o médico e político Joseph Guillotin propôs o seu uso para facilitar o trabalho dos carrascos – o que foi aceito. O instrumento ganhou seu nome e começou a ser usado em 25 de abril de 1792. Afirma-se que o próprio Guillotin acabou sendo guilhotinado, mas segundo alguns historiadores foi um outro Guillotin que perdeu a cabeça na guilhotina.
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Tem gente que aproveita quando vai a um simpósio (encontro de debate de algum tema) para cair na gandaia. Nessas reuniões, geralmente em algum lugar turístico, tiram um tempo para pôr as manguinhas de fora. Errado? Nem tanto. O simpósio, na Grécia antiga, era um encontro para beber e fazer outras coisas, estava mais para uma bacanal. A coisa começou a pegar mal e passaram a dar a desculpa de que iam debater alguma coisa, estudar. Debatiam um pouco e logo partiam pro que interessava.
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Foi um alemão, Moritz Wieprecht, quem inventou a tuba, em 1857.
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O rei Mongut do Sião teve 9 mil esposas e concubinas. Bem atrás dele, fica o rei Salomão, que “só” teve 700. Entre as mulheres, destaca-se Kahena, rainha dos berberes, que teve 400 maridos. Bem atrás dela vem a inglesa Theresa Vaughan, que teve 61, mas com um detalhe: esta última não era polígama.
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O município de Parati foi o grande abastecedor de cachaça do Rio de Janeiro, e a palavra parati virou sinônimo de pinga (lembrem-se do samba de Assis Valente “Em vez de tomar chá com torrada, ele tomou parati…”). Outra palavra que virou sinônimo de cachaça foi birita, que era uma marca de pinga feita no Recôncavo Baiano.
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Criado nos Estados Unidos em 10 de maio de 1908, o Dia das Mães foi oficializado no Brasil em 5 de maio de 1932, para ser comemorado sempre no segundo domingo de maio.
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Uai é uma palavra recorrente no linguajar mineiro. Dizem que uma vez um paulista perguntou a um mineiro o que significa uai, e ele respondeu: “Uai é uai, uai”. Mas como surgiu essa expressão? Há uma versão pouco provável: nas reuniões dos inconfidentes, as pessoas que chegavam tinham que falar uma senha para entrar, e essa senha era “uai”, de União, Amor e Independência.
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A baioneta tem esse nome porque foi fabricada pela primeira vez na cidade de Baiona, na Espanha, em 1640.
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Em 1800 a China e a Índia já eram os países mais populosos do mundo. A China tinha 295 milhões de habitantes e a Índia 131 milhões. A seguir vinham a Rússia, com 33 milhões, a França com 27 milhões e a Alemanha com quase 25 milhões. Naquele ano, a maior cidade do mundo era a chinesa Cantão, com 1,5 milhão, seguida de mais três cidades chinesas. Entre as 15 maiores cidades, só havia 3 europeias: Londres (em 6o lugar, com 865 mil), Paris (em 9o, com 598 mil e Nápoles (em 11o, com 331 mil). Nenhuma cidade das Américas fazia parte da lista.
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O Brasil entrou na lista dos dez países mais populosos com o censo de 1950, ficando em 8o lugar, com 52 milhões. São Paulo só entrou na lista das 15 maiores cidades a partir do censo de 1960 (em 14o lugar, com 3.825.000). Nessa época, Buenos Aires tinha 6,7 milhões e era a 6o maior cidade do mundo. Nova York, com 14,1 milhões, era a maior de todas.
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Na Cabanagem, nome dado à revolta dos “cabanos” (pobres, geralmente índios e caboclos, que moravam mal, em áreas equivalente a favelas), brasileiros que não se conformavam com os portugueses continuarem ricos e mandões no Pará (que incluía praticamente toda a Amazônia atual), depuseram o governador e em seguida houve uma sucessão de presidentes revolucionários entre 1835 e 1840, quando a revolução foi derrotada por forças do Império. O mais jovem presidente nomeado pelos revolucionários durante os cinco anos em que dominaram a região, foi Eduardo Angelim, que tinha 21 anos na data de sua nomeação (28 de julho de 1835). No Pará, a língua falada pelo povo era o nheengatu (língua boa, ou falar bem, em tupi), com vocabulário tupi (e influência de outras línguas indígenas) e gramática portuguesa, instituída pelos jesuítas. Cerca de 30% da população de Belém e proximidades morreu na guerra, facilitando assim a oficialização do português.
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A vacina contra caxumba, descoberta em 1951 por Hilleman Habel, só começou a ser usada em 1966.
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O aperto de mão, como cumprimento, tem um sentido simbólico de mostrar que as duas pessoas estão desarmadas. Não era usado por indígenas, africanos e muitos povos do Oriente. Na Itália, Mussolini tentou abolir essa forma de cumprimento, impondo a saudação romana do tempo de Augusto, que consistia em levantar o braço direito em diagonal.
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Macadame é um processo de revestimento de estradas e ruas que consiste numa mistura de pedra britada, breu e areia submetida a uma compressão bem forte. Foi um estadunidense que inventou isso em 1890. Ele se chamava John L. Mac Adam, e esse seu sobrenome virou nome dessa técnica.
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Em 4 de março de 1941 a Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, iniciou a transmissão da primeira novela brasileira, que se chamava “Em busca da felicidade”.
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O primeiro ganhador do Prêmio Nobel de Literatura foi o francês René Sully-Prudhome, em 1901. O premiado deveria ser Leon Tolstoi, mas um dos jurados conseguiu convencer os demais a não dar o prêmio a ele, porque Tolstoi era defensor do anarquismo, tinha crenças religiosas consideradas excêntricas e havia declarado que os prêmios em dinheiro não eram bons para os artistas, eram prejudiciais para sua arte.
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Máxima do Barão de Itararé: “Sabendo que em toda família existe um imbecil, é muito difícil a situação de filho único”.
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No interior, costumam usar como “sobrenome” das pessoas a sua profissão. Exemplo: Antônio Barbeiro, Nego Sapateiro, Luís Alfaiate, Eurico da Venda… Ou então por alguma característica como moreno, baixinho, manco… E muita gente acha que isso é caipirismo. Mas vejam alguns sobrenomes alemães que aqui se considera “chiques”: Schmidt é ferreiro, Köhller é carvoeiro, Scherer é tosquiador, Weber é tecelão, Schubert é sapateiro, Kessler é caldeireiro, Koch é cozinheiro, Schneider é podador de árvores e Schopenhauer é fabricante de gamelas. Webster em inglês é tecelã. O polonês Kowalski é ferreiro. Morato, em italiano é o mesmo que Morel em francês: moreno. Matarazzo em italiano é fabricante ou vendedor de colchões. Morse, em inglês, é cavalo marinho. Murara, em italiano é pedreiro que faz muro. Mucker, em alemão, é taciturno. Potier em francês é oleiro. Porchat, também em francês, é criador de porcos. Pujol em francês é montinho, pequeno monte. Quandt em alemão é arteiro. Klein em alemão é baixinho, assim como Bassetti em italiano. Rasputin, em russo, é “o que perdeu o caminho”, libertino. Tolstoi é gordo, em russo. Zanchetta em italiano é canhotinho. Em holandês, Vanderkolk é “o do barranco” e Van de Boreke é “o do pântano”.
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Por volta do ano 2400 a.C. já existiam enxadas de metal no Egito.
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Adão e Eva existiram? Bem, há várias versões sobre a “criação” do homem. Na versão dos ciganos, Deus cozinhou o homem e a mulher num forno. Na primeira tentativa, deixou assar demais e surgiram os negros. Na segunda, assou de menos e resultou nos brancos. Aí fez na medida certa e saíram com a cor legal, dos ancestrais dos ciganos.
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Em 1855, Pereira da Silva era um dos 103 deputados federais brasileiros. Ele declarou que era exagerado o número de 95 funcionários que tinha a Câmara Federal.
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Algumas pessoas acreditam (ou fingem que acreditam) que durante a ditadura não havia corrupção no Brasil, ou que ela era pouca e reprimida. Mentira pura. Havia talvez até mais do que hoje, só que ela não era divulgada nem apurada. A imprensa se calava ou era calada. Um exemplo é a Ponte Rio-Niterói. Vazou a informação de que o custo dela foi onze vezes o custo real. Quer dizer, o dinheiro que dava para fazer mais dez iguais foi para os cofres dos corruptos, mas a imprensa não divulgou nada. Só o Pasquim, gozador, publicou uma foto da ponte com uma legenda sugestiva, dizendo mais ou menos o seguinte: “Ilusão de ótica: onde vocês veem uma ponte, são onze pontes”.
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Durante a Lei Seca, nos Estados Unidos, a população dizia que “o Congresso vota seco e bebe molhado”, porque os mesmos políticos que em público apoiavam e aplaudiam a lei, bebiam à vontade. Até o presidente Warren Harding bebia. Era uma hipocrisia geral. Calcula-se que havia cerca de 200 mil bares que vendiam bebidas alcoólicas ilegalmente, e desses cerca de 32 mil eram Nova York.
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Um provérbio chinês: “Quanto mais consciência, menos bens; quanto mais bens, menos consciência”.
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Leia também, Cultura inútil I, II, III, IV e V na coluna de Mouzar Benedito no Blog da Boitempo. Ou clique aqui, para ver todos de uma só vez!
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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996) e Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças.
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