Cultura inútil III

13.08.20_Cultura inútil_III_blogPor Mouzar Benedito. 

Continuo “pondo pra fora” abobrinhas que armazenei durante muito tempo, extraindo de almanaques, revistas, jornais, conversas, dicionários e outros livros. Lá vai.

Quando se diz que algo foi feito nas coxas, há quem pense em safadezas, mas a única safadeza, no caso, era o uso de mão de obra escrava. Nas olarias, não existiam formas para fazer telhas, os escravos que trabalhavam nisso moldavam as telhas nas coxas, e como as coxas variam de grossura entre as pessoas, as telhas feitas nelas também eram muito desiguais, irregulares, tidas como malfeitas.

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Outra coisa que não tem nada de pornográfico é a expressão puxa-saco. Numa época, os oficiais militares que iam viajar levavam suas roupas num saco, que era carregado ou arrastado, e alguns ordenanças carregavam esse saco para eles. A expressão passou a ser mais utilizada com o sentido de bajulador a partir do Carnaval de 1946, quando se cantava nas ruas do Rio de Janeiro: “O cordão dos puxa-sacos, cada vez aumenta mais”…

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Certa vez Karl Marx escreveu ao seu amigo Friedrich Engels: “Não confio em nenhum russo. Sempre que um russo consegue se insinuar, abrem-se as portas do inferno”.

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Um líder chamado Narses derrotou os ostrogodos e estabeleceu o domínio bizantino na Itália, em meados do século VI. Detalhes: ele era eunuco, tinha 74 anos de idade e governou até os 98.

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A exploração de petróleo nos Estados Unidos, em meados do século XIX, não tinha a ver com a gasolina. Dava-se grande valor a alguns subprodutos como óleos lubrificantes, querosene, geleia para pomadas e parafina. A gasolina era considerada um subproduto quase sem valor, até o aparecimento do automóvel.

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Goethe, expoente da literatura alemã, foi também bombeiro, advogado, pintor, diretor de teatro e ator, ministro do Exterior… e conhecido como grande conquistador de mulheres.

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Há várias versões sobre quem inventou o fósforo, essa maravilha que facilitou a vida das pessoas. Uma delas é que o inventor foi John Walker, químico inglês. E segundo consta, ele se negou a patentear uma invenção, dizendo que ela era tão importante que devia ser propriedade pública. E há tantos caras que patenteiam até invenções alheias…

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A laranja foi trazida ao Brasil pelos portugueses. No século XIX, em um laranjal do Recôncavo Baiano, as laranjas começaram a nascer com uma espécie de umbigo. Foi uma mutação ocorrida naturalmente ali, e ela começou a ser chamada de laranja-baía ou laranja baiana. Um gringo veio ao Brasil, levou a laranja-baía para os Estados Unidos e depois apresentou essa variedade como se fosse uma mutação criada por ele, lá na gringolândia, e deu a ela o nome pelo qual se tornou conhecida em vários países: washington navel. Como veem, não foi só da invenção do avião que eles se apropriaram.

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O que têm em comum o escritor Ambroise Birce, a dançarina Isadora Duncan, o escritor Jack London, o general Ulysses Grant (comandante das forças da União na Guerra de Secessão dos EUA), o escritor F. Scott Fitzgerald e o rei Eduardo VIII da Inglaterra? Eram alcoólatras.

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A primeira apresentação da música “Luar do Sertão”, de Catulo da Paixão Cearense, aconteceu em 8 de agosto de 1913.

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George Bernard Shaw ganhou a Ordem do Mérito da Inglaterra, mas rejeitou, dizendo que ela era supérflua “uma vez que já me conferi essa honra a mim mesmo”. Ele ganhou também o Prêmio Nobel de Literatura, em 1925, e não queria recebê-lo, mas foi convencido a aceitar.

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Já no Brasil, alguém que se deu um título de nobreza foi o jornalista e humorista Apparício Torelly. Na Revolução de 1930, quando os gaúchos rumavam para o Rio de Janeiro, armou-se um grande esquema de defesa contra eles em Itararé, no sul do estado de São Paulo. Mas os gaúchos não passaram por lá, e a Batalha de Itararé não aconteceu. Os títulos de nobreza no Brasil, durante o Império, teoricamente, eram conquistados em campo de batalha, mas na verdade teve gente que ganhou sem nunca ter participado de batalha nenhuma, eram títulos “comprados”. Apporelly (apelido que Apparício usava), embora em plena República, inspirou-se na nobreza brasileira e deu-se o título de Duque de Itararé, e dias depois, como “prova de modéstia”, rebaixou-se a Barão de Itararé, apelido pelo qual ficou conhecido.

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Luíz XIII, rei da França, teve a seu serviço, entre 1649 e 1652, um regimento de mercenários croatas. Eles trouxeram da Croácia o hábito de usar uma tira de tecido pendurada no pescoço, os franceses gostaram e a adaptaram ao seu gosto, e daí surgiu a gravata, uma corruptela de croata. Aos engravatados que acham que uma vestimenta masculina decente tem que incluir esse paninho besta (na Câmara Federal e no Senado, por exemplo, seu uso é obrigatório), lembro então: essa frescura de vocês era hábito de uns soldadecos mercenários.

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Uma forma “diferente” de contribuir em uma campanha para arrumar dinheiro para os pobres de Berlim foi a de Albert Einstein: ele vendia autógrafos a 3 dólares e fotografias suas, autografadas, por 5 dólares.

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No mundo mediterrâneo antigo não existia sabão. Usavam azeite de oliva para lavar o corpo.

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Em 1709, o padre brasileiro Bartolomeu de Gusmão faz em Lisboa a primeira experiência com um aeróstato, uma “máquina de voar”, que bateu num telhado e caiu. O padre levou uma baita vaia da multidão e nunca mais foi levado a sério.

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Quando Dom Pedro I era imperador, havia duas facções políticas no Brasil: os jurujubas (liberais) e os corcundas (conservadores, incluindo portugueses que aderiram à independência). Depois, no Segundo Reinado (de Dom Pedro II), os jurujubas passaram a ser chamados de luzias e os corcundas de saquaremas.

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Ver gato preto, para algumas pessoas, dá azar. Mas para Winston Churchill, não era assim. Ele afagava gato preto para dar sorte.

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Em Portugal, certa época, as tabernas frequentadas por prostitutas costumavam colocar ramos na porta, para os cliente saberem o que encontrariam ali, e assim a palavra rameira virou sinônimo de prostituta. No Brasil, até há relativamente pouco tempo, os prostíbulos costumavam ter uma lâmpada vermelha na porta.

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Dedos mínimo, anular, médio, indicador e polegar… Na infância, aprendíamos outros nomes para esses dedos: mindinho, seu vizinho, pai de todos, fura-bolo e mata-piolho. O “seu vizinho” corresponde ao anular, dedo da aliança de noivado e casamento. Antigamente, segundo uma superstição, havia um nervo que ligava esse dedo ao coração, daí ele ter sido escolhido para essa função simbólica do amor.

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Dois provérbios japoneses: “Somente amanhã soprará o vento de amanhã”. “O fruto de cem dias de conferências pode ser destruído pelo som de um peido”.

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Ferrer, Bill Ferrer: detetive heterodoxo, de Saphira Mind, com tradução de Mouzar Benedito, e Ousar lutar: memórias da guerrilha que vivi, de José Roberto Rezende e Mouzar Benedito e, participam do Saldão Online da Boitempo e da Flanarte, com quase 80 livros entre 2R$ e 15R$. A promoção será válida durante todo o mês de agosto. Não perca!

Saldão Boitempo (FLANARTE)_boletim

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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996) e Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças. 

1 comentário em Cultura inútil III

  1. Clovis Pacheco F. // 21/05/2016 às 2:22 pm // Responder

    De fato, a gravata surgiu do xale que os soldados croatas usavam. Essas peças variavam de cor, segundo o posto do militar que a usava. Assim, era uma peça totalmente utilitária.

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