Lançamento Boitempo: Até o último homem, de Felipe Brito e Pedro Rocha de Oliveira (orgs.)
Em um momento em que vem à tona a crescente militarização da vida social, por um lado, e avança, a duros “golpes de vista”, por outro, a integração via espetáculo, a Boitempo lança Até o último homem: visões cariocas da administração armada da vida social, organizado por Felipe Brito e Pedro Rocha de Oliveira. Analisando o processo de “legitimação” das UPPs em um quadro pautado por megaeventos, valorização imobiliária e formação de milícias, o livro revela um modelo de gestão de desmoronamento da sociedade brasileira e suas contradições mais agudas no Rio de Janeiro.
Trata-se do 17º título da coleção “Estado de sítio”, coordenada por Paulo Arantes. O prefácio é de Marildo Menengat e a orelha, de Adriana Facina. Confira o sumário completo e mais informações sobe a publicação aqui.
Leia o texto de orelha, assinado por Adriana Facina
Unidade de Porrada em Preto. É assim que movimentos sociais e lideranças faveladas mais combativas têm se referido às UPPs. As Unidades de Polícia Pacificadora são, na prática, ocupações territoriais armadas. Essas ocupações, nem é preciso dizer, acontecem em favelas. Nelas moram os pretos e pobres, condenados sem julgamento por sua condição de classe e por sua cor.
Um dos argumentos dos que apoiam as UPPs é o da redução da letalidade. Afinal, faz diferença na vida do morador da favela não ver mais o caveirão atirando em todas as direções. Afinal, faz diferença saber que seus entes queridos voltarão para casa vivos. Afinal, a situação anterior era pior. Afinal.
No mundo real, UPP significa não ter mais o baile funk, diversão barata, acessível para a juventude favelada. UPP quer dizer também que você precisa “estar bem na fita” com a autoridade policial para poder realizar eventos culturais, públicos ou privados. UPP também pode querer dizer que, se você reclamar seus direitos, pode ser preso por “desacato a autoridade”.
Mas o corpo está vivo. E estará a salvo. Pronto para cumprir rotinas exaustivas de trabalho precarizado. Firme para honrar os novos compromissos financeiros que a bandeira da legalização traz para as favelas. Íntegro para assinar contrato com a NET, abrir conta no Santander e pagar o crediário das Casas Bahia. O corpo vivo pode também bater tambor ou tocar violino, dependendo das ONGs que se oferecerem para complementar pela cultura a pacificação das armas. Pulsando no ritmo dos megaeventos, da especulação imobiliária, da cidade-negócio.
Também chamam de UPP, Unidades de Poesia Preta, as resistências que, com arte e criatividade, recusam a paz sem voz e reinventam uma história que está longe do fim. Quem viver verá.
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