Balanço dos governos neoliberais no Brasil

Internas.inddPor Emir Sader.

Sai na próxima semana o livro 10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil: Lula e Dilma. Eu organizei o livro com 22 artigos de alguns dos melhores pensadores brasileiros, mais uma longa entrevista do Lula de balanço do seu governo, como forma de incentivar a reflexão sobre as transformações que o Brasil viveu nesses dez anos, assim como sobre os obstáculos e as perspectivas postas por esse imenso processo de democratização social.

Acreditamos que balanços desse tipo são indispensáveis para inserir os processos políticos numa ótica de mais longo prazo, em função dos seus objetivos estratégicos. Estamos incentivando a realização de balanços similares pela esquerda argentina – já se cumpriram dez anos dos governos dos Kirchner – e da uruguaia – logo se cumprirá uma década de governos da Frente Ampla.

É normal que seja assim. A esquerda tem que ter consciência dos passos que deu, dos que está dando e das dificuldades que enfrenta.

Não é o caso dos governos neoliberais. Tanto aqui, quanto na Argentina, no Uruguai e nos outros países da região, não se conhece balanços dos seus governos, feitos pelos que o dirigiram ou pelas forças que os apoiaram ou por pensadores – jornalistas ou intelectuais – que os elogiaram durante a totalidade de suas durações.

Foram governos que saíram derrotados – alguns dos seus presidentes foram parar na cadeia, outros mais também mereciam esse destino –, ficaram definitivamente rejeitados pelo povo desses países, mas nunca fizeram o balanço do que fizeram e do que o povo impediu que fizessem. Vergonha? Incapacidade de dar conta do seu fracasso?

No caso do Brasil, tivemos um governo presidido por um sociólogo, com enorme quantidade de obras e artigos publicados na mídia, loquaz e de palavra fácil. Contou também com outros intelectuais (ou ex-), com livros publicados – que depois abandonaram essa atividade, provavelmente sem ter o que dizer dos governos de que participaram.

Economistas que quebraram o país três vezes e que o entregaram ao Lula em meio à mais prolongada e profunda recessão que o Brasil tinha conhecido em muito tempo, ficam escrevendo nos jornais e revistas, falando nas rádios e TVs, ditando cátedra do que o país deveria fazer, mas nunca escreveram o balanço do que eles fizeram com o país. Da mesma forma que o presidente que os escolheu e que comandou a quebra do Brasil.

Por quê? Eles têm à disposição um montão de editoras, revistas, outros meios de comunicação, mas o país foi privado das explicações do fracasso dos governos neoliberais no Brasil. Não sabemos se eles acham que foram um sucesso ou não tem coragem de confessar que fracassaram. E nem tem os argumentos para explicar o fracasso, porque continuam a propor as mesmas políticas do seu fracasso, que alimentam também a candidatura presidencial tucana.

Teriam que confessar que a centralidade do mercado, o Estado mínimo, a abertura acelerada da economia, as privatizações, a promoção da hegemonia do capital especulativo, a política de precarização das relações de trabalho, a política externa de livre comércio e de subordinação a Washington – foram as causas do fracasso dos governos Collor, Itamar e FHC. E da razão pela qual o país não quis nunca mais voltar a tê-los na direção do Brasil.

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Não perca o debate de lançamento de 10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil, na próxima segunda feira, dia 13, às 19h. O evento contará com a presença de Marilena Chaui, Marcio Pochmann, Emir Sader e o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, todos colaboradores do livro. Aberto ao público, o evento é gratuito e não requer inscrição. Senhas para entrada serão distribuídas a partir das 18h, no local do evento.

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Serviço

Debate de lançamento de
10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil: Lula e Dilma

com Lula, Marilena Chaui, Marcio Pochmann e Emir Sader
13/05 | Segunda-feira | 19h
CCSP | Centro Cultural São Paulo
Rua Vergueiro, 1000 | Liberdade | São Paulo | SP 
Retirada de senhas para entrada a partir das 18h, no local.

  

O livro estará a venda com preço especial no evento e, a partir da segunda quinzena de maio, disponibilizado gratuitamente em versão eletrônica (ebook). Saiba mais sobre o livro aqui.

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A nova toupeira: os caminhos da esquerda latino-americana é o primeiro livro de Emir Sader pela Boitempo a ganhar versão eletrônica (ebook), já à venda por apenas R$20 na Gato Sabido, Livraria da Travessa e iba, dentre outras.

As armas da crítica: antologia do pensamento de esquerda, organizado por Emir Sader e Ivana Jinkings, já está disponível por apenas R$18 na Gato Sabido, Livraria da Travessa, iba e muitas outras!

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Emir Sader nasceu em São Paulo, em 1943. Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, é cientista político e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). É secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e coordenador-geral do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Coordena a coleção Pauliceia, publicada pela Boitempo, e organizou ao lado de Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile a Latinoamericana – enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe (São Paulo, Boitempo, 2006), vencedora do 49º Prêmio Jabuti, na categoria Livro de não-ficção do ano. Colabora para o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quartas.

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