Lançamento Boitempo: “Bazar da dívida externa Brasileira”, de Rabah Benakouche

Bazar da dívida externa brasileira (ALTA)

Capa de “Bazar da dívida externa brasileira”, de Rabah Benakouche

A Boitempo Editorial acaba de lançar o fundamental Bazar da dívida externa brasileira, de Rabah Benakouche, Doutor em Ciências Econômicas pela Universidade de Paris e doutor em Engenharia Industrial pela École Centrale de Paris. 

Indicado por Luis Nassif – que tratou do tema em Os cabeças de planilha e há anos aguardava um trabalho acadêmico que trouxesse um análise aprofundada do fenômeno – o livro demonstra como a dívida externa brasileira acabou sendo também um grande negócio.

Leia abaixo a orelha, assinada por Tania Bacelar de Araujo:

Conheci Rabah em Paris, em meados dos anos 1970. Ele já era um economista questionador das visões hegemônicas e o Brasil já constava em seu leque de interesse, estudioso que era dos processos históricos de desenvolvimento. Desde esse tempo, sua capacidade analítica só fez crescer. E este instigante livro sobre a dívida externa e o Brasil retoma com ousadia um assunto que parece morto. Ele o ressuscita de maneira inovadora, como sempre.

Rabah Benakouche é um desses raros economistas que compreende e valoriza nos seus trabalhos a relação estreita entre processos econômicos e políticos. Neste livro faz uma inédita periodização do processo de endividamento brasileiro, considerando, logo no começo, que a dívida externa é parte constitutiva da história do Brasil e “estendeu-se por um longo período de quase dois séculos, atormentou suas relações externas e foi uma das principais fontes internas de instabilidade política”.

Rabah não limita sua análise da dívida externa à mera contabilidade dos fluxos financeiros (entrada menos saída de recursos) no país. Vai além, ao tentar dissecar
os processos político e econômico que estão por traz desses fluxos e dos estoques que eles geram. Busca especialmente dissecar quem são os agentes que realizam tais fluxos: lá fora e aqui dentro. Ou seja, procura esclarecer a quem serve o endividamento patrocinado por políticas que intitula de “implícitas, explícitas ou mesmo informais”. Com tal abordagem, a dívida externa aparece com sua dupla faceta e seu real significado: é ao mesmo tempo um negócio e um processo político cujas consequências afetam a vida de muitos, como aconteceu com o Brasil.

O percurso deste volume termina na teoria econômica. Como sempre, Rabah contesta as mais aceitas, em especial as que limitam a questão da dívida exclusivamente a seus impactos no equilíbrio do balanço de pagamentos e ignoram as demais dimensões do processo de endividamento, em particular as dimensões política e organizacional. Busca, assim, inovar também na concepção teórica, ao dissecar o endividamento e suas razões de ser, que são de múltipla natureza: financeira, comercial, política, geoestratégica…

Ao fugir do economicismo e ao usar uma linguagem clara, Rabah Benakouche estimula o leitor a pensar. Aguardemos a repercussão desta obra, pois vale não esquecer que o país ainda tem uma dívida externa significativa, mesmo que renegociada e com a maior parte vencendo em médio e longo prazos.

1 comentário em Lançamento Boitempo: “Bazar da dívida externa Brasileira”, de Rabah Benakouche

  1. Francisco Ricardo da Silva // 05/04/2015 às 3:41 pm // Responder

    Li o livro e a percepção obtida pelo comentarista não foi a mesma que que a minha. Existem outros comentários do porque ou não desta ou daquela opção.

    Curtir

Deixe um comentário