Lançamento Boitempo: O capital: livro 1, de Karl Marx

O capital Capa Cor.inddA Boitempo Editorial lança esta semana, durante o Seminário Margem Esquerda: Marx e O capital (integrando o projeto Marx: a criação destruidora), a edição definitiva da obra máxima de Karl Marx: O capital: livro 1.

15º título da Coleção Marx Engels (iniciada em 1998 com o Manifesto Comunista), o livro apresenta uma tradução inédita realizada por Rubens Enderele diretamente dos originais em alemão. Além de introduções escritas por Francisco de Oliveira, Jacob Gorender, Louis Althusser e José Arthur Giannotti, a edição conta também com uma extensa coletânea de prefácios, posfácios e cartas escritos por Marx, uma série de índices, cronologias e material complementar de leitura.

Em pré-venda na SaraivaLivraria Cultura e Livraria da Travessa

Confira o texto inédito de Francisco de Oliveira para o livro:

Ler O capital

Esse é o título da edição brasileira do célebre texto de Louis Althusser e Étienne Balibar, com as devidas desculpas pelo plágio proposital, pois não encontro melhor forma de recomendar este clássico de Marx a todos os leitores, incluindo os do amplo contingente lusófono.

Ivana Jinkings e nossa – sem sentido de propriedade privada – pequena e brava Boitempo prestam mais um serviço àqueles que têm, ou necessitam urgentemente ter, que recorrer ao texto mais completo de Marx sobre o capitalismo, na sequência dos clássicos de Marx e Engels que a Boitempo vem editando, com evidentes sacrifícios, pois não são textos de fácil venda.

Ela reuniu um time formidável, encabeçado por José Arthur Giannotti, sem favor um dos melhores conhecedores de Marx entre nós, a quem não falta a capacidade teórica de apontar as lacunas do clássico de Triers, bem acompanhado de introduções de Althusser e Jacob Gorender. Rubens Enderle é o tradutor, na sequência de outras traduções de Marx e Engels que ele vem fazendo; revisões de cada capítulo foram confiadas a expoentes de nossa esquerda marxista. Enfim, Ivana não mediu esforços e, como uma brincadeira que faço com ela, com tal feito já garantiu seu lugar no céu dos comunistas/socialistas brasileiros.

As últimas edições em português-brasileiro de que me recordo deveram-se à antiga Civilização Brasileira, liderada então pelo saudoso Ênio Silveira, tradução que esteve a cargo de Reginaldo Sant’Anna [1968]; depois, na coleção Os Pensadores, Paul Singer subscreveu outra tradução. As obras de Marx e Engels tornaram-se acessíveis ao público brasileiro graças aos esforços da antiga Editorial Vitória, uma espécie de braço editorial do Partido Comunista Brasileiro (PCB), mas sempre foram fragmentadas, nunca se atrevendo à edição integral de O capital. Além disso, e da repressão ditatorial, quase regra no nosso século XX, a circulação sempre enfrentou notáveis dificuldades; poucos livreiros se atreviam a ter em suas estantes as obras da Editorial Vitória. Somando-se tudo, as edições eram graficamente pobres, e mesmo assim prestaram um enorme serviço à cultura brasileira, de que a esquerda sempre foi uma notável propulsora.

O capital não é um livro de leitura, mas de estudo e reflexão. Apesar do estilo sarcástico e irônico de Marx, sobretudo dirigido aos sicofantas do liberalismo, da livre iniciativa e do livre mercado – três construções ideológicas de notável força –, em que o Mouro se eleva por vezes à altura dos grandes clássicos que ele amava, Homero, Shakespeare e Dante, para citar apenas esses gigantes, O capital é de leitura difícil, às vezes quase intransponível, em parte devido à própria aridez da matéria que trata. Quem espera que este livro comece pelo exame do capital, prepare-se para um anticlímax: Marx examina antes de tudo a mercadoria e sua formação, pois o capitalismo continua a ser, mesmo em sua fase amplamente financeirizada, um modo de produção de mercadorias.

Na grande tradição de que talvez Maquiavel seja o mais emblemático, deslocando a ciência da política do terreno da busca do bem comum, tão cara a Aristóteles e aos tomistas, e trazendo-a para o lugar concreto das lutas pelo poder, Marx opera o deslocamento da economia política para a luta de classes, segundo ele a chave para a compreensão da sociedade, particularmente a sociedade capitalista; sem abandonar, posto que era um revolucionário mas não um iconoclasta vulgar, as grandes contribuições dos clássicos Adam Smith e David Ricardo – sobretudo este último – como os fundadores da ciência que podia decifrar a vida contemporânea.

Colocando o corpo do capitalismo sobre a lápide fria da realidade, Marx procede como um anatomista; abre o interior do sistema para uma sistemática exploração e depara-se com a simultânea maravilha do corpo e de sua miséria, no sentido de sua intrínseca e fatal deterioração – o horror, na célebre frase de Marlon Brando em Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola. Em muitas partes, essa minuciosa descrição contém as passagens mais difíceis e mais áridas do texto, diante das quais não se deve recuar.

O capital não é uma bíblia, nem sequer talvez um método, mas, como o próprio subtítulo que Marx lhe deu, uma “contribuição à crítica da economia política”. Esse é o caminho e certamente como crítica ele não aborda, senão tangencialmente, algumas das principais estruturas do capitalismo contemporâneo, seus problemas e pontos de superação. Mas, como um dos textos fundamentais da modernidade, ele abre as portas para sua compreensão no contexto das lutas de classes de nosso tempo, tarefa para a qual são chamadas as mulheres e os homens empenhados na transformação, esse trabalho de Sísifo ao qual estamos condenados até o raiar de uma nova era.   

8 comentários em Lançamento Boitempo: O capital: livro 1, de Karl Marx

  1. Ademir Costa // 19/03/2013 às 11:12 pm // Responder

    Acho que agora vou substituir meu velho “O Capital” de Os Pensadores, de 1968.

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  2. welliamancio // 24/05/2013 às 7:43 pm // Responder

    Obra magistral, com muitos e excelentes textos auxiliares; só peca pelo material: o miolo do livro é composto de folhas tipo Nerbrite 66,6 g/m² (um tipo mais grosso de papel de jornal). Atrai poeira, mofo, traça e pó; acumula umidade, cheiro ruim e maresia, e ainda é difícil de escrever com lápis grafite e fácil de rasgar, seu pior defeito é que oxida em alguns meses (manchas cor de ferrugem). Comprei as duas edições e por último a capa grossa, mas a s folhas péssimas da editora Loyola permaneceram. Doei os livros, esperando de uma próxima vez adquirir uma edição que faça jus à Opus Magna de Marx.

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    • boitempoeditorial // 24/05/2013 às 10:36 pm // Responder

      Prezado leitor, agradecemos pelas suas críticas quanto ao papel utilizado em nossa edição de O capital, livro 1. Gostaríamos de esclarecer que a escolha pelo Nerbrite se deu principalmente tendo em vista a sua leveza (em geral elogiada por nossos leitores, para um livro deste tamanho). Além deste motivo, o papel Pólen (opção Off-White mais conhecida) tem estado em falta no mercado, o que nos levou a procurar alternativas. As avaliações que recebemos de outras editoras que trabalham com a Nerbrite sempre foram positivas, mas tendo em vista seus comentários, buscaremos nos informar mais a respeito.

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  3. E o livro II do Capital sai quando?

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  4. Um líder revolucionário !! Inspirações direta em todos os continentes do planeta . Carlos Eduardo Taddeo é o Karl Max do ”##Brasil##…… SamambaiaPraVida-
    DF

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  5. Não existiria uma versão em ebook deste livro? Só encontro o ebook do livro 2 disponível para comprar! Eu estou surtardo lendo todo o Karl Marx disponível através de vocês e, depois dos grundrisse, pretendo começar a ler este aqui. Mas de preferencian digitalizadoan néan queridxs, chega de socialistas feudais na minha vida!

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