Intelectuais e processos políticos
O pensamento social latino-americano tem uma longa tradição, que cruzou praticamente todo o século passado, enganchado com os principais movimentos de transformação politica do século.
Historiadores marxistas escreveram, pela primeira vez, a história de nossos países e do continente, centrados nas formas que assumia o capitalismo aqui e não simplesmente como apêndice da história europeia. Economistas desvendaram as formas de inserção subordinadas de nossas sociedades como periferia do desenvolvimento do capitalismo europeu e norte-americano. Entre tantas outras contribuições, pensadores latino-americanos construíram um pensamento de vanguarda, que apontou as contradições, os dilemas, as perspectivas de nossos países ao longo de grande parte do século passado.
As transformações radicais pelas quais o mundo passou nas últimas décadas do século passado afetaram as condições da produção teórica, os próprios temas abordados prioritariamente e as correntes de pensamento predominantes. Em primeiro lugar, o fim do campo socialista fez com que alguns achassem que é necessário se resignar ao capitalismo e buscaram a melhor forma de se adequar a esse sistema.
Paralelamente, o liberalismo avançou e consolidou posições hegemônicas, em suas varias vertentes, tanto a econômica, quanto a política. Ao mesmo tempo – e não de forma acidental – aumentou o fechamento dos intelectuais acadêmicos dentro dos muros das universidades, com refúgio em temas fragmentários e sem transcendência politica na sua vida profissional.
Por outro lado, a mercantilização que o neoliberalismo promove em todos os poros da sociedade, produziu a mídia como espaço fundamental de formação da opinião pública, com seus “intelectuais” midiáticos, ao mesmo tempo que a partidarização da mídia fez com que deixasse de ser um lugar de debate de opiniões contraditórias.
A produção intelectual foi profundamente afetada por todos esses efeitos. Como resultado político mais geral, a intelectualidade hoje, no momento em que o Brasil e a América Latina vivem um momento de virada – prenhe de contradições e complexidades –, talvez não esteja à altura desse momento histórico. Não têm sido vanguarda desses processos mas, com raras exceções, têm estado marginados deles ou atrás dos problemas que esses novos processos latino-americanos enfrentam.
***
Faltam 9 dias para o lançamento de Cypherpunks: liberdade e o futuro da internet, o primeiro livro de Julian Assange! O livro já está em pré-venda, com desconto, nas livrarias Saraiva, Cultura e Travessa.
***
A nova toupeira: os caminhos da esquerda latino-americana é o primeiro livro de Emir Sader pela Boitempo a ganhar versão eletrônica (ebook), já à venda por apenas R$20 na Gato Sabido, Livraria da Travessa e iba, dentre outras.
As armas da crítica: antologia do pensamento de esquerda, organizado por Emir Sader e Ivana Jinkings, já está disponível por apenas R$18 na Gato Sabido, Livraria da Travessa, iba e muitas outras!
***
Emir Sader nasceu em São Paulo, em 1943. Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, é cientista político e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). É secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e coordenador-geral do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Coordena a coleção Pauliceia, publicada pela Boitempo, e organizou ao lado de Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile a Latinoamericana – enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe (São Paulo, Boitempo, 2006), vencedora do 49º Prêmio Jabuti, na categoria Livro de não-ficção do ano. Colabora para o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quartas.
Emir, não está fora nem anda longe quem anda conosco, de…
Mãos Dadas
Carlos Drummond de Andrade
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
Obrigada pelo texto.
CurtirCurtir
uma poesia muito sentimental,romantica,barbaro
CurtirCurtir