Jane Austen

13.01.15_Jane Austen_Ricardo MussePor Ricardo Musse.

Jane Austen (1775-1817) foi a primeira mulher a se tornar uma romancista importante. Sua obra traça um painel da sociedade rural inglesa, concebido, no entanto, como um universo próprio e completo, dotado de dimensão universal.

Celibatária, Austen passou a vida na província, na casa da família. Embora escrevesse desde a adolescência, seus livros só foram publicados nos últimos anos de sua vida: Razão e sensibilidade (1811), Orgulho e preconceito (1813), Mansfield Park (1814) e Emma (1816). Northanger Abbey e Persuasão saíram em 1818, um ano após seu falecimento.

O assunto recorrente de seus romances é a escolha amorosa. As protagonistas são jovens, com vestígios da inocência infantil, deliberando sobre seu futuro, um destino em larga medida irreversível, em meio a uma ciranda de passeios, visitas, bailes, chás etc.

A escolha do marido adequado, do bom casamento (por amor, oposto ao casamento por conveniência) é de inteira responsabilidade do indivíduo. Essa liberdade, que também vale para a decisão sobre a profissão, se perfaz, no entanto, em meio a uma série de circunstâncias mediadas pelo antagonismo, velado ou explícito, entre as concorrentes.

A heroína se depara, primeiramente, com uma galeria de personagens dotadas de personalidade e interesses próprios. Essa interação compõe uma teia que assume gradações que se estendem desde a indiferença e frieza à hostilidade ou, no outro extremo, à simpatia e ao estímulo. Austen considera a vida familiar em toda a sua complexidade, nas relações entre irmãos, entre pais e filhos, entre parentes distantes etc, bem como seu impacto sobre a estrutura psicológica dos indivíduos.

A trama se desenvolve em um mesmo tom, marcada pela observação fria, irônica e pelo manejo ligeiramente distanciado de eventos e personagens. Uma sucessão de peripécias permite atestar ou não a constância dos sentimentos, desfazendo os equívocos da primeira impressão e o brilho das aparências. Nesses embates, torna-se nítido que, para a autora, o primordial é a conduta pessoal, a orientação que se imprime à ação.

A preferência amorosa envolve a necessidade tanto de compatibilizar as exigências econômicas como de se ater às convenções sociais. Mas deriva, sobretudo, de uma opção por determinados valores. Austen não foge aos dilemas impostos pela secularização. Como a virtude religiosa não é mais o modelo da ação, impõe-se a tarefa de escolher o sistema de conduta mais adequado à vida moderna. A atualidade de sua obra assenta-se em sua proposição de uma ética intransigente que segue ainda como uma “promessa de felicidade”.

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Ricardo Musse participou do debate de lançamento de A política do precariado: do populismo à hegemonia lulista, de Ruy Braga. Confira abaixo sua primeira intervenção:

O evento contou também com a presença de Ruy Braga, Franscisco de Oliveira e André Singer. Confira a versão integral do debate aqui.

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Ricardo Musse é professor no departamento de sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo. Doutor em filosofia pela USP (1998) e mestre em filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1992). Atualmente, integra o Laboratório de Estudos Marxistas da USP (LEMARX-USP) e colabora para a revista Margem Esquerda: ensaios marxistas, publicação da Boitempo Editorial. Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às sextas.

1 comentário em Jane Austen

  1. Suely Farah // 20/01/2013 às 2:24 pm // Responder

    Releia toda a bibliografia, reveja a teoria, discuta as visões alternativas e até se disponha a surpreender preconceitos insuspeitos: ainda assim, alguma coisa não caberá na gaveta, insistindo na desarrumação, que pode, sim, ser tudo de bom. No futuro sonhado, todos nós poderemos passear assobiando, com as mãos nos bolsos, felizes e sorridentes por não estarmos sendo filmados. Imagine.

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