Pré-venda Boitempo: Rituais de sofrimento, de Silvia Viana

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Este mês a Boitempo lança Rituais de sofrimento, de Silvia Viana, o novo livro da Coleção Estado de sítio, coordenada por Paulo Arantes. A forma inovadora pela qual o trabalho aborda uma tendência recente da mídia – da televisão brasileira aos blockbusters de Holywood – lhe rendeu posição de destaque entre as teses de doutorado de 2011. Com orelha de Gabriel Cohn e posfácio de Pedro Rocha de Oliveira, o livro já está em pré-venda nas livrarias Saraiva, Martins Fontes e Travessa.

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A autora abre o livro da seguinte maneira:

No dia 25 de julho de 2010, o programa Pânico na TV levou ao ar uma brincadeira realizada ao vivo com seus próprios humoristas. Logo que chegaram ao Aeroporto Internacional de Guarulhos vindos da África do Sul, onde cobriram a Copa das Confederações da Fifa, foram recebidos pela produção que lhes ofereceu uma merecida carona, já que a equipe estava exausta da viagem e, segundo o próprio programa, havia trabalhado sem descanso e em péssimas condições. Em vez de irem para casa, conforme o prometido, passaram horas rodando sem destino por São Paulo, até que foram deixados no Aeroporto de Congonhas. Lá chegando, um colega humorista os recebeu afirmando que se tratava de uma brincadeira, e o cansaço do passeio seria apenas o início, pois em seguida eles deveriam se encaminhar ao estúdio para enfrentar uma lutadora profissional de vale-tudo. Já muito irritado, um técnico da equipe desabafou: “Eu sou câmera, eu não tenho que tá participando desse negócio aí […] tô cansado, porra, são quarenta dias, doze horas, comendo mal…”. Todos os outros protestaram e, transtornados, se recusaram a participar: “É uma falta de respeito isso com o cara que tá trabalhando, quero ir embora, quero ir para minha casa”. O produtor do programa interveio e, com um celular em riste, ameaçou: “Tem uma ordem que é do Emílio e do Alan [diretores] pra todo mundo entrar no carro agora e ir todo mundo pra lá”. Não obstante o ódio generalizado, eles retornaram ao carro. O humorista encarregado da piada tentou inúmeras vezes fazer os outros rirem até que, já constrangido, falou em tom de brincadeira: “Não fica bravo comigo, tô aqui trabalhando, cumprindo ordens”. O outro respondeu: “Brincar… a gente até compartilha com vocês, só que a gente tá sem comer, sem dormir, entendeu? É desumano isso, pra caramba”. O operador de câmera, irado, completou: “Eu tenho uma puta consideração com você, mas como você consegue ver graça nisso, ver seus amigos de trabalho se fodendo […] uma situação que não tem graça […] O cara lá em casa vai olhar para mim e achar engraçado ‘ha, ha, o cameraman tá fodido’”. Quando chegaram ao estúdio, aquele que ainda tentava piadas, mas cujo olhar traduzia tristeza, disse com seriedade: “Vem, por favor, eu também tô cansado, desculpa aí”. 

Capítulo 1: Como essa coisa pôde ser televisionada sem a menor vergonha?
Capítulo 2: O que sustenta a ameaça dos diretores?
Capítulo 3: Por que a equipe voltou ao carro?
Capítulo 4: Como o humorista suportou “ver seus amigos de trabalho se fodendo”?
Capítulo 5: Por que a piada continuou?

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