Greve na PUC-SP
Atendendo a pedidos do Coletivo de Estudantes de História da PUC-SP, publicamos esta carta-manifesto, assinada por eles, sobre a situação atual da universidade.
Carta-manifesto dos estudantes de história da PUC-SP
Por Coletivo de Estudantes de História da PUC-SP.
Marc Bloch, um dos pilares do pensamento histórico, dizia em 1944, prestes a ser assassinado por um estado autoritário, que o apego histórico de nossa sociedade ocidental é em decorrência de nossa formação cristã. Sabemos o quanto o cristianismo é apegado ao caráter de rememoração, vide a necessidade em reconstruir e transmitir o sacrifício de seu mártir. Eis que nós, do curso de História, viemos por meio desta, tal qual o espírito cristão, relembrar nossos mártires que morreram em nome de um conceito, de uma ideologia ou de um modo de socialização.
Como estudantes de História, e futuros historiadores, temos a completa consciência e esperança de que o passado sempre nos lança luzes para pensarmos nossas realizações do presente. No entanto, nossa formação nos aponta que ele só pode nos lançar luz enquanto houver um elo entre ambos, ou seja, o passado só se torna citável enquanto ele for significante para o presente. Nosso temor é que a insígnia carregada pela PUC-SP em sua bandeira, que é a de uma universidade que lutou pela democracia de nosso país e de si mesma enquanto instituição, não tenha mais sentido para o presente ou para o futuro de nossa comunidade.
Hoje espreitamos um momento de perigo, no entanto, a analise dos últimos 6 anos nos mostra que tal momento é parte de um continuum, ou seja, um processo que não tem seu início aqui e, provavelmente, se não interferimos diretamente, tampouco não será seu fim. Nos últimos 6 anos temos assistido o incessante cerceamento de nosso curso, e podemos dizer também, de toda a universidade. Cada vez mais os professores do curso de História sofrem com a maximização: alguns têm contratos temporários de um ou dois anos, o que não lhes dá sequer a seguridade profissional necessária a qualquer segmento profissional, ainda mais em um segmento onde a pesquisa requer minuciosidade no trabalho e um tempo diferente do mercado, no qual nossos professores são colocados. Não obstante, assistimos a um crescimento paulatino das mensalidades, o que tem dado um caráter elitista ao nosso curso.
Reconhecemos também nossos erros e possíveis omissões neste processo. Em 2007 vimos o redesenho institucional centralizar todas as decisões no CONSAD e deixamos que se enfraquecesse o CONSUN, hoje força quase nula devido às manobras administrativas do CONSAD.
Destarte propomos não apenas que nossa luta seja pela nomeação do resultado aferido nas urnas, no caso prof. Dirceu de Mello, mas que também lutemos por uma ampla democratização, na qual seja englobado um projeto que: (1) recoloque o CONSUN como órgão máximo de deliberação, (2) forneça uma legitima autonomia aos departamentos e (3) recoloque em sua agenda o caráter comunitário de nossa universidade.
Em síntese, nós, alunos da História, reconhecemos que o golpe que ora o Sr. Cardeal Odilo Scherer desfere em nossa universidade não é algo isolado, mas faz parte de um processo centralizador, o qual pode por fim a toda uma tradição e história de luta pela democracia. Neste sentido assumimos o compromisso de resistir a esse ataque e lutar por uma democratização de nossa universidade. Temos também a completa consciência de que a luta é não apenas pela nomeação do Reitor eleito, mas também é uma luta pela nossa história, de maneira a tornar esta não apenas um fato estratificado no tempo, mas que tenha significado em nossa sociabilidade acadêmica.
Assumimos um compromisso não só com o presente e futuro, mas com o passado, pois as vozes que clamavam por liberdade – e ainda emudecem nosso ar –, juntas aos tijolos, mesmo que parcialmente chamuscados, nos transmitem sonhos democráticos. Por nós e por eles lutamos, pois, se perdermos, nem os mortos estarão a salvo!
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