Lançamento: “O ano em que sonhamos perigosamente”, de Slavoj Žižek

A Boitempo acaba de lançar O ano em que sonhamos perigosamente, a ousada análise crítica de Slavoj Žižek sobre o ano de 2011. O livro, traduzido por Rogério Bettoni, já está disponível em versão eletrônica (ebook).

Leia a orelha, assinada por Ivan Marsiglia

O esloveno Slavoj Žižek é um intelectual que pensa perigosamente. À ousadia de uma abordagem totalizante da realidade social, em tempos de saberes hiperespecializados, soma-se a audácia de refletir sobre o tempo presente, sem o telescópio seguro do distanciamento.

É numa espécie de vertigem interpretativa que ele se permite analisar, no instante abrasador dos acontecimentos, fatos que marcaram as primeiras décadas do século XXI: o crash financeiro de 2008 nos Estados Unidos, seu repique na crise europeia de 2010 e a eclosão, em 2011, de movimentos como a Primavera Árabe e o Occupy Wall Street.

Esta engajada coletânea de ensaios se propõe a servir de manual para a mobilização emancipatória que, acredita Žižek, coloca-se pela primeira vez em nível planetário. E não será o Trotski da “revolução permanente”, mas o velho Lenin da pergunta “que fazer?”, o evocado pelo filósofo – que combina marxismo e psicanálise, na trilha de Herbert Marcuse e Erich Fromm.

Para decifrar a “circulação autopropulsora do capital”, que hoje prescinde até da burguesia e dos trabalhadores, Žižek reafirma, em termos freudianos, a ideia de luta de classes: assim como diz Freud a respeito da sexualidade, não é que tudo se resuma à luta de classes, mas a luta de classes se faz presente em tudo.

Assim, o autor vai dizer que a primavera revolucionária se deu no Egito e na Tunísia, mas não na Líbia e na Síria; que a direita americana apoia o Estado sionista de Israel chocando debaixo de suas asas o ovo do antissemitismo; que o sucesso do capitalismo chinês administrado por comunistas é sinal de que o casamento entre capitalismo e democracia está perto do divórcio; que os dispositivos eletrônicos da Apple, vitais para a mobilização no mundo árabe e em Nova York, são produzidos em Taiwan pela Foxconn, por trabalhadores tratados literalmente como “animais”, cujo desespero se expressa numa onda incontrolável de suicídios.

Se este livro não resolve o dilema leninista, oferece um arsenal crítico aos que querem a mudança do mundo, que jogaria a derradeira pá de cal na teoria do “fim da história” de Francis Fukuyama. Para Žižek, a hora é de esperar: “Os protestos criaram um vazio no campo da ideologia hegemônica, e é preciso tempo para preencher esse vazio porque ele é fecundo, é uma abertura para o verdadeiramente novo”.

Žižek no Occupy Wall Street: discurso proferido no Zuccotti Park em 9/10/11

Sumário do livro

Introdução: War nam nihadan
1. Da dominação à exploração e à revolta
2. O “trabalho de sonho” da representação política
3. O retorno da má coisa étnica
4. Bem vindo ao deserto da pós ideologia
5. Inverno, primavera, verão e outono árabes
6. Occupy Wall Street, ou o silêncio violento de um novo começo
7. The Wire ou o que fazer em épocas não eventivas
8. Para além da inveja e do ressentimento
Conclusão: sinais do futuro

Este livro tenta contribuir para o “mapeamento cognitivo” (Jameson) de nossa constelação. Primeiro, ele descreve brevemente as principais características do capitalismo atual; em seguida, esboça os contornos de sua ideologia hegemônica, concentrando-se nos fenômenos reacionários (revoltas populistas) que surgem como reação aos antagonismos sociais. Os próximos dois capítulos tratam de dois grandes movimentos emancipatórios de 2011: a Primavera Árabe e o Occupy Wall Street. Tomando como ponto de partida a série de TV The Wire, os últimos capítulos examinam a difícil questão de como combater o sistema sem contribuir para aprimorar de seu funcionamento.” – Slavoj Žižek

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Confira também a entrevista de Slavoj Žižek sobre o livro, publicada na Carta Capital em 24/10: A esquerda derrotada, por Gianni Carta.

4 comentários em Lançamento: “O ano em que sonhamos perigosamente”, de Slavoj Žižek

  1. Valter Chanes // 27/06/2013 às 12:51 pm // Responder

    Interessante maneira de como este intelectual se coloca nas emergentes questões sociais.
    Talvez como um Jean Paul Sartre e ou um Giles Deleuze em seus respectivos tempos. Mais do que destacar ou apontar é provocar..
    A Boitempo eatá de parabéns pelas escolhas e pela qualidade cientifica literária que vem promovendo;

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  2. Eu me lembro vagamente do Primavera Árabe e nunca ouvi falar do Occupy Wall Street movimento que considero suspeito por ocorrer nos USA e também condicionado ao fracasso porque o governo americano é famoso por saber “integrar” movimentos libertários estadunidenses, e é claro, por saber recontar a história desses movimentos de um jeito que mantém e legitima o sistema capitalista (movimento hippie).

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  3. Zizek, você não dá as informações que a gente precisa fica na enrolação e nós esperando. Tenho que comer, tenho que trabalhar, quem filosofa é burgues filho da puta. Preciso das informações que você sabe quais são depois você pode fazer sexo até com sua mãe. Antes de me procurar bata uma punheta pra não ficar dando em cima de mim. Não quero as tais historinhas sexuais.

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  4. Aída Paiva // 01/11/2016 às 4:03 pm // Responder

    Zizek, ó eu aqui outra vez. O ano que eu sonhei perigosamente foi o ano de 2015, pelo menos fiquei consciente que mexem nos nossos sonhos, que os sonhos não são meus. Hoje eu não tenho certeza nem do que eu penso, não sei se o que eu penso é meu ou vem de alguém que precisa dar o recado.
    Ainda não cheguei à conclusão do que foi o Occupy. Talvez a economia mundial e dos USA estivesse estagnada e eles resolveram dar uma pequena esperança fazendo uma pequena revolta pra gente pensar que ia melhorar.
    A Primavera Árabe não sei o que foi, não tive informações até agora.
    Eu assisti um filme chamado “Kolia” que citou vagamente a Primavera de Praga mas não ficou evidente do que se tratava. Era uma crítica à Rússia mas não ficou claro porque se criticava a Rússia. Tudo muito suspeito principalmente quando se trata de críticas à URSS ou Rússia. A gente aproveita outras coisas do filme que são boas. Eu copiei a bandeira que a Rússia obrigou a colocar nas fachadas das casas, coloquei uma bandeira do meu país na frente da casa onde moro.
    Continuo presa em casa. E você, você continua lindo?

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