Carta ao Marcio Pochmann

Berlim, 17/10/2012.

Caro amigo, colega e companheiro Marcio Pochmann,

Se há seis anos atrás você me dissesse que eu agora estaria morando em Berlim e escrevendo uma carta de apoio à sua candidatura a prefeito de Campinas, eu sorriria de esguelha e pensaria: “esse Marcio é mesmo um sonhador…”.

Pois é, mas aqui estou e você aí está.

Ambos sonhando com um Brasil melhor, com cidades melhores, com uma Campinas melhor. Eu aqui de longe, você aí no meio da refrega.

Mas pensando bem, essas coisas não me surpreendem. Eu sempre tive um vezo viajor, talvez herdado do nomadismo gaúcho e do meu avô caixeiro-viajante; você sempre meu deu a impressão de ter a vocação da liderança.

Conheci você nas lides da Carta Maior, nos Fóruns Sociais Mundiais, na nossa busca de um outro mundo possível. Nessas oportunidades, eu era o entrevistador – para a TV Carta Maior – e você o comentarista entrevistado. Logo descobri que aquele (você) professor da Unicamp era meu conterrâneo – você de Venâncio Aires, eu de Porto Alegre. Por trás e no meio de sua fala quieta e mansa vicejava o sotaque do extremo sul, que a gente nunca perde de todo depois de adquirido.

Entre os muitos preconceitos da vida existe aquele que diz que todo gaúcho macho deve ser gritão e bravateiro. Pobre preconceito. Um dos gaúchos mais gaúchos que conheci na vida, o Erico Veríssimo, era quieto e de fala mansa. E com tal quietude e mansidão, capaz de enfrentar uma tropa de milicianos que não queria permitir um enterro decente no cemitério de sua cidade a um oficial legalista que morrera baleado na Revolução de 30. E Erico era favorável à Revolução! Você é desta cepa, Marcio. Só espero que você nem ninguém, em nossa terra brasileira, tenha de enfrentar de novo tropas de qualquer tipo para garantir direitos fundamentais aos vivos e aos mortos.

Depois acompanhei seu trabalho muito de perto na gestão da Marta na prefeitura de São Paulo. Eu trabalhava sob a batuta do notável Gianni Rato no projeto de Formação de Público, no Departamento de Teatro da Secretaria da Cultura. Você na geração de empregos e oportunidades, naquilo que compete a uma prefeitura, para a população da nossa megalópole desvairada, como diria o Mário de Andrade. Acompanhei seu trabalho firme, decidido e sóbrio – sem os alardes nem as trombetas da propaganda ou da auto-promoção fáceis. Você pensava em primeiro lugar no seu trabalho – não na promoção de sua imagem.

Vez ou outra estivemos juntos em lides acadêmicas, apesar de pertencermos a campos diferentes, embora unidos pela busca do rigor e da liberdade de  pensamento. E depois você foi para o IPEA. Continuei seguindo seu trabalho, vendo como, sempre com o mesmo jeito tranquilo, você dava cor e coração aos números e estatísticas. Porque não adianta apenas saber contar; é necessário saber o que contar, como contar e para quem contar. E você contava para dar horizonte e esperança aos que raramente, na nossa história, tiveram acesso a esses direitos básicos da pessoa humana: horizonte e esperança.

E daí vi que você deixou Brasília para se lançar nessa nova aventura – candidato a prefeito da sua cidade acadêmica, Campinas. Bravo, Marcio. Você pode dar alento a muita coisa em Campinas. Falarei apenas de uma, mas que o exemplo fique para outras áreas.

Campinas é um polo universitário de merecido prestígio nacional e internacional. Pois num polo desses não tem cabimento que mais de 3% de sua população adulta padeça de analfabetismo. Nem que quase 15 mil crianças em idade escolar fiquem sem acesso à escola, segundo as estimativas: sete mil estão aguardando vagas; outras tantas seriam de famílias que já desistiram de procurar.

Se há alguém capaz de liderar um esforço de envergadura para adequar essa situação absurda aos princípios e direitos básicos da cidadania, promovendo a escolaridade onde ela falta, é você, Marcio – com sua equipe.

Porque você é um lutador. Porque você já deu provas de competência. Porque você mostrou ser incansável. Porque você, Marcio, como eu já disse, é um sonhador.

E sonhar é um direito básico dos indivíduos e da coletividade.

Um abraço e boa sorte para você, e para Campinas com você.

Flávio Aguiar.

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Nova classe média?: o trabalho de base na pirâmide social brasileira. O mais recente trabalho de Pochmann, publicado esse ano pela Boitempo, estuda a mobilidade na base da pirâmide social brasileira durante o início do século XXI e refuta a ideia de surgimento de uma nova classe no país, muito menos a de uma nova classe média. (ebook disponível por 16 r$)

O emprego no desenvolvimento da nação. Partindo de dados alarmantes sobre o aumento do desemprego no Brasil, Pochmann fornece uma análise criteriosa da relação entre a flata de trabalho e a adoção de políticas econômicas desfavoráveis ao país. (também disponível em ebook por 19r$)

O emprego na globalização: a novo divisão internacional do trabalho e os caminhos que o Brasil escolheu. Na sua primeira publicação pela Boitempo, em 2001, Pochmann oferece uma rigorosa genealogia, dividida em cinco partes, do desemprego e da precarização do trabalho na atualidade.

* Só até amanhã: Essa semana, a Boitempo está realizando a promoção dia dos professores, com 40% de desconto sobre todo o catálogo!

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Conheça o plano de governo de Marcio Pochman, disponível no site oficial de sua campanha.

Confira sua página no facebook e a página de apoio Somos Pochman

Flávio Aguiar.

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Dois livros de Flávio Aguiar publicados pela Boitempo Editorial já estão disponíveis para venda em versão eletrônica (ebook): o romance histórico Anita, sobre a vida de Anita Garibaldi, e seu livro mais recente, Crônicas do mundo ao revés (finalista do Prêmio Portugal Telecom 2012). Ambos estão à venda na Livraria da Travessa e na Gato Sabido pela metade do preço dos livros impressos.

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Flávio Aguiar nasceu em Porto Alegre (RS), em 1947, e reside atualmente na Alemanha, onde atua como correspondente para publicações brasileiras. Pesquisador e professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, tem mais de trinta livros de crítica literária, ficção e poesia publicados. Ganhou por três vezes o prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, sendo um deles com o romance Anita (1999), publicado pela Boitempo Editorial. Também pela Boitempo, publicou a coletânea de textos que tematizam a escola e o aprendizado, A escola e a letra (2009), finalista do Prêmio Jabuti, e o recente Crônicas do mundo ao revés (2011). Seu próximo livro, A Bíblia segundo Beliel será lançado pela Boitempo em dezembro de 2012. Colabora com o  Blog da Boitempo quinzenalmente, às quintas-feiras.

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