Lançamento Boitempo: Padrão de reprodução do capital, organizado por Carla Ferreira, Jaime Osorio e Mathias Luce

A Boitempo Editorial lançou na semana passada o livro Padrão de reprodução do capital, coletânea de textos acerca da teoria da dependência na América Latina, organizada por Carla Ferreira, Jaime Osorio e Mathias Luce.

O livro será lançado será debatido durante a programação do Seminário Internacional “A teoria marxista da dependência e o capitalismo latino-americano no século XXI”, organizado pela revista Margem Esquerda, pela Boitempo Editorial e pelo Núcleo de História Econômica da Dependência Latino-Americana – UFRGS. O seminário acontecerá em três cidades (São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre) e contará com a presença de Jaime Osorio, um dos principais discípulos de Ruy Mauro Marini, professor da UAM-X e UNAM (México).

Confira a programação completa na página do Seminário no Facebook.

Leia abaixo o texto de orelha do livro, escrito por Carlos Eduardo Martins, autor de Globalização, dependência e neoliberalismo na América Latina (2011) e colunista do Blog da Boitempo:

A teoria marxista da dependência (TMD) é um dos filões interpretativos mais instigantes e profícuos do pensamento social latino-americano e mundial. Sua interpretação original do capitalismo na periferia nos anos 1960-1970 produziu grande impacto internacional, percorrendo a América Latina e o Caribe e afetando fortemente o pensamento crítico estadunidense e europeu, bem como a reflexão na África e na Ásia.

Sua vertente teórica inscreve-se no processo de construção histórica do instrumental analítico marxista que se move do abstrato ao concreto, redefinindo dialeticamente suas leis gerais em função de um desdobramento ao particular. Ao situar-se nesse nível de análise, a TMD foi capaz não apenas de analisar criativamente o processo de reprodução do capitalismo em situação de dependência, mas também de recolocar as análises sobre a acumulação de capital nos próprios centros, na medida em que articulava centro e periferia em uma totalidade mais ampla que a manejada pelo pensamento eurocêntrico, o qual via o mundo como um espaço externo de conquista a ser ocupado e transformado por meio do imperialismo para tornar universal a civilização europeia e suas formas de existência.

Ao situar assim sua problemática teórica, dois campos de projeção complementares e integrados se colocaram para o desenvolvimento da TMD. O primeiro é a análise de conjunto da reprodução do capital e a busca do marco teórico das formas globais e mundiais em que ela se apresenta. Isso levou aos esforços para desdobrar a teoria da dependência em uma teoria marxista do sistema mundial, de que seria parte constitutiva, gerando um rico e estimulante diálogo com as análises do sistema-mundo. Já o segundo campo é a análise das situações específicas de dependência e das formas concretas que a reprodução do capital assume de acordo com as regiões, os países, a inserção na divisão internacional do trabalho e as fases distintas da acumulação do capital em questão.

Este livro escolhe como chave o conceito de padrão de reprodução do capital, formulado inicialmente por Ruy Mauro Marini e desenvolvido por Jaime Osorio, que permite a flexibilidade para se mover nessas duas direções. Para isso, agrega três gerações de teóricos da TMD, dos fundadores aos novos cientistas sociais e economistas brasileiros. Jaime Osorio, Carla Ferreira e Mathias Luce apresentam assim uma obra de grande relevo para o público brasileiro, que reúne de textos clássicos de Marini e do próprio Osorio a investigações recentes sobre o capitalismo e a dependência no século XXI.

O fio criativo da teoria da dependência não se esgotou. Foi interrompido pela violência dos golpes militares e pelo projeto conservador de redemocratização de nossas burguesias. Mas as lutas contra o neoliberalismo e a crescente assunção da dimensão latino-americana pelo Brasil abrem espaço para o reencontro com a história e a recuperação da vitalidade desse filão, com o desafio de ressignificá-lo tendo em vista os desafi os contemporâneos. Este livro é expressão disso.

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